Massa de salários ganha fôlego e sobe 11,3% no quarto trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de fevereiro de 2024

Depois de desacelerar no terceiro quarto do ano passado, a massa real de rendimentos pagos aos trabalhadores do Estado ganhou fôlego renovado no último trimestre, com o avanço combinado do rendimento médio e do emprego, embora com predominância de ocupações que demandam qualificação menos intensiva. A valores atualizados até dezembro passado com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a massa salarial, que soma os rendimentos recebidos pelo total de ocupados, subiu de R$ 10,449 bilhões no quarto trimestre de 2022 para R$ 11,632 bilhões, numa alta de 11,3%, equivalente a um ganho de R$ 1,184 bilhão no período, alcançando o nível mais elevado na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e iniciada em 2012.

Os dados da pesquisa haviam registrado uma variação ainda vigorosa, mas levemente inferior ao ritmo mais recente, num avanço de 9,1% entre o terceiro trimestre de 2023 e igual período do ano anterior, correspondendo a acréscimo de R$ 948,0 milhões. Na série mais recente, a maior valorização havia sido registrada no primeiro trimestre do ano passado, quando a massa de rendimentos ganhou R$ 1,718 bilhão em 12 meses, atingindo R$ 10,913 bilhões, numa variação de 18,7%. Paradoxalmente, embora o emprego tenha registrado aceleração no final do ano passado, o rendimento real médio passou a indicar perda de ímpeto, ainda que as taxas de inflação tenham igualmente cedido – o que tenderia a produzir variações mais alentadas para os salários em termos reais.

Começando pela ocupação, que foi recorde nos registros da PNADC trimestral, o total de pessoas de alguma forma ocupadas aumentou 5,2% entre o trimestre final de 2022 e o mesmo período do ano seguinte, crescendo de 3,656 milhões para 3,848 milhões, significando a abertura de 192,0 mil vagas. No terceiro trimestre de 2023, o número de ocupados havia registrado variação de apenas 0,5% com geração de 19,0 mil empregos novos. O rendimento real médio reduziu a taxa de crescimento ao longo de dois trimestres em sequência, muito embora as variações reais tenham se mantido em níveis relativamente elevados.

Continua após a publicidade

Menor aceleração

A melhor descrição, no caso, talvez seja considerar o movimento mais recente como “menor aceleração”, já que a tendência continuou positiva. Nos dois primeiros trimestres do ano passado, o rendimento real médio havia crescido 12,7% e 14,3% na comparação com idênticos trimestres de 2022. Mas no terceiro e quarto trimestres, o ritmo de avançou foi reduzido para 8,4% e 5,7% na mesma ordem. Essa alteração de ritmo poderia estar relacionada a certa aceleração da taxa de inflação acumulada em 12 meses, que havia alcançado 3,16% ao final de junho do ano passado e alcançado 5,19% nos 12 meses terminados em setembro. Mas o ritmo de alta dos preços em geral voltou a se desacelerar e fechou o ano em 4,62%. O fato é que a variação nominal, sem considerar o efeito corrosivo da inflação sobre o poder de compra dos salários, igualmente perdeu força, com as altas na faixa de 17,0% nos dois primeiros trimestres de 2023 cedendo para 12,8% no terceiro e para 10,0% no quarto trimestre.

Balanço

  • A perda relativa de ânimo dos rendimentos nominais, por sua vez, pode estar relacionada ao perfil das novas ocupações geradas pela economia goiana, concentradas em atividades de menor qualificação. Antes de explorar esse ponto, cabe registrar os números da desocupação, que chegaram a níveis historicamente baixos, como resultado do avanço do emprego.
  • Entre o quarto trimestre de 2022 e igual intervalo de 2023, a população na força de trabalho (ou seja, as pessoas com 14 anos ou mais de idade) registrou acréscimo de 159,0 mil, variando 4,1% e passando de 3,917 milhões para 4,076 milhões (maior nível na série histórica da PNADC). O mercado de trabalho, como já registrado, abriu mais 192,0 mil colocações, o que fez o número de pessoas desocupadas cair 12,5% em 12 meses, encolhendo de 260,0 mil para 228,0 mil, ou seja, 33,0 mil a menos. Foi o menor número desde o quarto trimestre de 2014, quando 177,0 mil trabalhadores estavam sem emprego.
  • A taxa de desemprego, como resultado, baixou de 6,6% ao final de 2022 para 5,6% – a oitava mais baixa entre os Estados e a menor, não por coincidência, desde os 5,2% registrados no quarto trimestre de 2014.
  • De volta à ocupação, uma fatia não desprezível do aumento registrado em 12 meses veio do avanço da informalidade, como anota a PNADC. Em torno de 37,2% dos ocupados no quarto trimestre do ano passado não tinham registro em carteira e muito menos inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), somando 1,431 milhão de ocupados informais. Na comparação com o último trimestre do ano imediatamente anterior, quando a pesquisa registrava 1,341 milhão de informais, aquele número havia crescido 6,7%, significando 90,0 mil a mais – o que, por sua vez, correspondeu a 46,9% do número de vagas abertas em toda a economia estadual no período.
  • Entre os setores de atividade, aqueles que demandam qualificação menor responderam por mais da metade das ocupações e ainda por praticamente dois terços do aumento do total de empregos. A coluna somou o total de ocupações geradas pelos setores de construção, comércio, reparação de veículos e motos, transporte, armazenagem e correio, alojamento e alimentação, outros serviços e serviços domésticos. O resultado correspondeu a 2,086 milhões de colocações no quarto trimestre de 2023, correspondendo a 54,2% do total de pessoas ocupadas.
  • Um ano antes, aqueles mesmos setores haviam empregado 1,959 milhão de pessoas. Nos 12 meses seguintes, portanto, foram abertas mais 127,0 mil vagas, numa elevação de 6,5% diante do final de 2022. Como resultado, em conjunto, os setores analisados aqui responderam por 66,2% de todas as vagas criadas no período por todo o mercado de trabalho goiano.
  • O desempenho da agricultura, num ano de safra recorde, foi decepcionante, com abertura de 2,0 mil vagas e variação de 0,8% em 12 meses. A indústria reduziu o total de ocupados de 474,0 mil para 453,0 mil entre o quarto trimestre de 2022 e igual trimestre de 2023, com fechamento de 21,0 mil empregos, numa queda de 4,5%.