Na contramão do varejo e da indústria, serviço registra quinto mês de perdas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de fevereiro de 2024

O setor de serviços em Goiás, responsável por quase dois terços do Produto Interno Bruto (PIB), quer dizer, do total de riquezas geradas pelo Estado ao longo de um ano, seguiu de certa forma tendência inversa àquela registrada no varejo mais restrito e na indústria – que registrou em dezembro do ano passado seu mais nível em toda a série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme divulgado pelo órgão na quinta-feira, 8. O volume de serviços entregue pelo setor veio em desaceleração no segundo semestre do ano passado, depois de apresentar números mais vigorosos nos meses anteriores.

Os dados dessazonalizados do IBGE, excluídos fatores e eventos que sempre ocorrem em iguais períodos todos os anos, mostram que o nível de atividade dos serviços anotou em dezembro do ano passado o quinto mês consecutivo de perdas na comparação mês a mês. No trimestre final de 2023, a pesquisa mensal do instituto aponta reduções de 0,7%, de 1,5% e de 0,6% em outubro, novembro e dezembro, respectivamente, diante de cada um dos meses imediatamente anteriores. Numa versão pouco mais “otimista”, pode-se argumentar que o ritmo de baixa foi menor em dezembro, muito embora a tendência tenha se mantido em terreno negativo. No período de cinco meses, contados a partir de agosto, os serviços experimentaram uma queda de 10,2%. A comparação se dá precisamente com o melhor mês do setor no Estado na série estatística do IBGE, alcançado em julho do ano passado.

O desaquecimento foi verificado igualmente na comparação com idênticos meses de 2022. Em outubro do ano passado, o volume de serviços em Goiás havia registrado avanço de 4,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, com alta de 4,1% em novembro e uma variação de 1,3% em dezembro. O freio na velocidade de crescimento da atividade no setor não impediu que os serviços encerrassem o ano com alta de 6,5%, o que se compara com uma variação de 2,3% alcançada pelos serviços em todo o País nos 12 meses do ano passado.

Continua após a publicidade

Menor velocidade

A perda de vigor na comparação mensal deveu-se à retração anotada, em Goiás, pelos segmentos de outros serviços (que incluem os segmentos de esgoto, gestão de resíduos, recuperação de materiais e descontaminação, atividades auxiliares dos serviços financeiros e atividades imobiliárias), em baixa de 11,0% frente a dezembro de 2022, e de transportes de cargas e passageiros, armazenagem e correio, que recuou 1,8% naquela mesma comparação. As perdas foram compensadas pelas altas de 3,9% nos serviços prestados às famílias; pelo salto de 12,4% nas atividades de informação e comunicação; e pelo incremento de 7,4% em serviços profissionais e administrativos em geral. No acumulado em 12 meses, serviços de informação, com alta de 11,4%, e de transportes e segmentos associados, que avançaram 9,8%. Enquanto os serviços destinados às famílias apontaram variação de apenas 0,5% nos 12 meses do ano passado, os serviços profissionais e o grupo “outros serviços” apontaram recuos de 1,0% e de 0,6%.

Balanço

  • Na média de todo o País, observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a atividade no setor em dezembro passado “ficou entre a expansão da indústria (+1,1%) e a retração do comércio (-1,1%)”, com variação de 0,3% na saída de novembro para dezembro, descontados efeitos sazonais, dando “sequência, assim, à evolução próxima da estabilidade que passou a marcar o setor a partir do segundo semestre de 2023”.
  • Um dos destaques positivos ainda na comparação entre dezembro e novembro do ano passado, anota o instituto, veio dos serviços prestados às famílias, num avanço de 3,5%. “Como resultado disso, este ramo finalmente compensou as perdas provocadas pela pandemia de Covid-19”. Segundo o Iedi, “a comparação com o nível de faturamento de fevereiro de 2020 tornou-se positivo pela primeira vez em dezembro do ano passado: +2,2%. Agora, todos os ramos dos serviços superam o patamar pré-pandemia”.
  • Em Goiás, tomando ainda fevereiro de 2020 como base para comparação, o crescimento aproximou-se de 20% (na ponta do lápis, o nível de atividade dos serviços no Estado em dezembro do ano passado foi 19,7% mais elevado). A variação, de toda forma, deve ser considerada com cautela, já que os serviços em fevereiro de 2020 haviam acumulado perda de 24,6% em relação ao pico anterior da atividade no setor, registrado em fevereiro de 2014, seis anos antes. Como visto, a recuperação pós-pandemia gerou um novo pico em julho do ano passado, antes que o setor voltasse a retroceder.
  • Na visão do Iedi, a retomada dos níveis anteriores à pandemia pelo setor em todo o País parece sinalizar que, “com bases de comparação recompostas, o dinamismo dos serviços deve apresentar taxas de crescimento mais moderadas e estar mais dependente de seus tradicionais condicionantes, isto é, do emprego, do rendimento real das famílias e da atividade de outros setores, a exemplo da indústria”.
  • A evolução recente parece reafirmar o diagnóstico do Iedi. No acumulado em 12 meses, lembra o instituto, os serviços em todo o País apresentavam alta de 9,3% em dezembro de 2022, índice que recuou para 6,3% em junho do ano seguinte e para 2,3% em dezembro passado, sempre na variação anual. “Ou seja, embora tenha terminado no azul, o ano de 2023 foi de nítida desaceleração para o setor de serviços”, reforça, apresentando os resultados trimestrais para dar maior substância à sua análise. O setor chegou a crescer 5,4% no primeiro trimestre do ano passado, comparado a igual período de 2022, anotando elevação de 4,0% no segundo trimestre e de apenas 1,1% no terceiro trimestre, para recuar 0,6% no trimestre final de 2023.