Nível dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste desaba 41,5% em julho

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de julho de 2021

Responsáveis por pouco mais de 70,0% da capacidade de armazenamento de energia hidroelétrica em todo o País, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram baixa de pouco mais de 41,5% entre julho do ano passado e o mesmo mês deste ano, retomando níveis proporcionalmente muito próximos daqueles observados em julho de 2001, ano de racionamento explícito de energia. Há grandes diferenças entre os dois períodos, a começar do próprio perfil da geração, ligeiramente menos concentrada nas hidrelétricas agora, e do tamanho e distribuição das linhas de transmissão pelo País, que hoje permitem interligar todas as regiões, o que não ocorria há duas décadas.

De qualquer forma, a hidroeletricidade ainda responde por uma fatia importante da capacidade instalada e a queda no armazenamento de água levou o governo a acionar uma espécie de racionamento disfarçado, expresso no choque tarifário que elevou o valor cobrado pela chamada bandeira vermelha em praticamente 52,0% recentemente. O cenário prospectivo está longe de ser tranquilo, precisamente se for considerado que o período seco apenas começou e as projeções sugerem um regime de chuvas ainda insuficiente para recompor a capacidade dos reservatórios no próximo verão, o que deixaria o sistema sob estresse na entrada da próxima estação seca.

Os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que o volume de energia acumulado nos reservatórios caiu de 97.851 megawatts/mês em julho do ano passado para pouco menos de 59.152 MW/mês neste mês nas represas do Sudeste e Centro-Oeste. Em relação à capacidade máxima do subsistema regional, a água armazenada passou a representar 28,1% diante de 48,1% em julho do ano passado e de 44,9% no mesmo período de 2019. Para comparação, em julho de 2001, os reservatórios acumulavam um volume de água correspondente a 26,85% da capacidade máxima.

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Entre as usinas instaladas na bacia do Rio Paranaíba, os reservatórios de Emborcação, Nova Ponte e Itumbiara operavam, na segunda-feira, com 16,96%, 14,31% e 10,31% de sua capacidade plena. Furnas, na bacia do Rio Grande, registrava um percentual de 27,80%.

Geração e transmissão

Em maio deste ano, dado mais recente do ONS, o País anotava capacidade instalada para 167.224 megawatts, dos quais 64,93% ou 108.580 MW em hidroelétricas. Há uma década e meia essa participação aproximava-se de 84,0%, ainda que no período a capacidade da hidrogeração tenha crescido 43,7%. Claramente, a geração eólica, intermitente por natureza, foi o grande destaque no período, saindo de apenas 0,10% da capacidade total para 10,66% (de 92 para 17.822 MW). As térmicas, incluindo desde as ultrapoluentes geradoras a óleo combustível e diesel até a geração de energia mais verdade, a partir de biomassa, tiveram sua capacidade ampliada de 12.588 no início de 2006 para 35.571 MW em maio deste ano (182,6% a mais). A fonte solar, que sequer existia em meados da década de 2000, atingiu capacidade de 3.261 MW em maio deste ano, respondendo por 1,95% do total.

Balanço

  • A pressão sobre os preços dos alimentos foi mais intensa na segunda metade de 2020, mas continuou a gerar inflação ao longo deste ano, afetando, sobretudo, a renda das famílias de renda mais baixa. O aumento dos custos da alimentação, observa o ex-ministro da Agricultura e coordenador do FGV Agro, Roberto Rodrigues, foi observado em todo o mundo desde a chegada da pandemia, que recolocou na agenda global o tema da segurança alimentar.
  • No ano passado, o grupo alimentação foi responsável por 65,6% na composição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subindo 14,09% diante de uma inflação de 4,52%. O peso do grupo no cálculo da inflação girou em torno de 21,04%. No acumulado entre janeiro e maio deste ano, com o IPCA registrando 3,22% no período, a contribuição dos alimentos foi reduzida para menos de 15,0%, variando 2,28%. O IPCA passou a ser puxado principalmente pelos combustíveis e pela energia elétrica nos últimos meses. A acomodação do câmbio a partir de abril ajudou a amenizar os focos altistas. Na média, a cotação média do dólar em reais experimentou redução de 8,7% entre março e os 12 primeiros dias de julho.
  • A quebra na produção global de grãos nos últimos dois anos veio acompanhada de um aumento da demanda no mundo todo, resultando em estoques mais baixos e preços em elevação, retoma Rodrigues. Os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) registram quedas de 13,2% e de 20,2% nos estoques de passagem de milho e soja entre os ciclos 2018/19 e 2020/21 em todo o globo. As reservas de milho saíram de 322,56 milhões para 279,86 milhões de toneladas, passando a representar menos de três meses de consumo. Os estoques finais de soja em grão baixaram de 114,61 milhões para apenas 91,49 milhões de toneladas, algo equivalente a 90 dias de consumo. Na safra 2019/20, em ambos os casos, o mundo acumulava estoques suficientes para fazer frente aproximadamente ao consumo de mais de 100 dias (121 dias no caso da soja).
  • No Brasil, conforme Rodrigues, a opção por uma agenda macroeconômica liberalizante levou o governo a abandonar virtualmente a política de estoques reguladores. A escolha trouxe complicações na área do combate à inflação ao retirar do governo a opção de manejar aqueles estoques de forma a limitar o estrago produzido aqui dentro pela elevação dos preços externos. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os estoques públicos foram praticamente zerados para os principais grãos. Em agosto de 1988, já em plena entressafra, por meio de Aquisições do Governo Federal (AGF), os estoques públicos de arroz e feijão somavam, respectivamente, 5,272 milhões e 178,76 mil toneladas. Em maio deste ano, restavam 21,556 mil toneladas de arroz nos estoques públicos. As reservas de feijão encontram-se zeradas pelo menos desde 2017 e permanecem assim neste ano.
  • Componente estratégico na alimentação animal, o milho chegou a somar estoques de 7,354 milhões de toneladas em julho de 1987. Mas desde 2017 o governo não registra um único grão de milho em seus armazéns. A falta de estoques reduziu a capacidade de reação do governo a pressões altistas.