Preço mais alto alavanca exportações e importações no primeiro semestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de julho de 2021

A alta experimentada pelos preços internacionais dos principais produtos exportados pelo Estado explica o resultado histórico alcançado pelas vendas externas de Goiás na primeira metade deste ano, já que os volumes embarcados sofreram queda na comparação com os primeiros seis meses do ano passado, puxada principalmente pela redução nos embarques de soja em grão, farelo e milho. O aumento dos preços lá fora tem sido turbinado pela queda nos estoques de passagem dos grãos e ainda pela demanda crescente da China, sobretudo no caso da soja e da carne bovina, mas também pelo óleo de soja.

O volume total das exportações goianas encolheu 7,32% na comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período do ano passado, saindo de 8,081 milhões para algo próximo a 7,490 milhões de toneladas, embora o valor exportado tenha crescido com vigor, numa alta de 14,35%. Esse avanço foi assegurado pela elevação de 23,4% nos preços médios pagos pelos produtos exportados a partir de Goiás, num comportamento fortemente influenciado pela tendência de aumento nas cotações das commodities agrícolas e minerais no mercado internacional.

As importações, no entanto, avançaram em valor e em volume, com valorização ainda dos preços médios pagos pelas empresas goianas. Como já detalhado neste espaço na semana passada (07.07.21), as compras externas aumentaram quase 48,0% no primeiro semestre, de US$ 1,604 bilhão para US$ 2,373 bilhões, numa conta engordada, em larga medida, pelas importações de energia da Argentina e o Uruguai. Em volume, no entanto, o avanço ficou limitado a 13,3%, passando de 1,516 milhão para 1,718 milhão de toneladas. Mas os preços médios de importação saltaram nada menos do que 30,6%.

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Com margem reduzida de erro, pode-se inferir que o aumento nos valores médios pagos pelas importações sofreu influência das compras de energia importada. Como esse item não entra nos volumes indicados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, pode-se tentar estimar qual teria sido a evolução dos preços médios das compras externas se excluídas as operações de importação do insumo. Neste caso, as importações realizadas pelos demais setores da economia goiana subiram pouco menos de 16,6%, de US$ 1,593 bilhão para US$ 1,857 bilhão, resultando numa variação de 2,9% para os preços médios.

Termos de troca

Incluindo novamente a energia na contabilidade da balança comercial do Estado, os dados mostram uma deterioração nos chamados “termos de troca” ao longo deste ano, muito provavelmente pelo valor agregado mais alto daquele insumo. Isso significa que a economia goiana teve que realizar um esforço adicional para pagar as importações, que ficaram proporcionalmente ainda mais caras na comparação com os preços médios dos produtos exportados. Em outros termos, o Estado e suas empresas tiveram que exportar muito mais para pagar a conta das importações, reduzindo proporcionalmente a oferta desses bens e produtos no mercado interno. Ao fim das contas, o consumidor goiano teve que pagar mais caro pelos mesmos bens e produtos – até porque, a conta em reais dos itens importados ficou mais salgada diante da desvalorização do real frente ao dólar. A cotação média do câmbio entre o primeiro semestre de 2020 e o mesmo intervalo deste ano subiu 9,44%.

Balanço

  • Historicamente, os “termos de troca” têm sido desfavoráveis ao Estado e vêm oscilando para baixo e para cima de tempos em tempos. Desta vez, muito provavelmente pelo forte aumento das importações de energia, registrou-se uma piora. No ano passado, os preços médios dos bens importados havia sido 105,4% mais elevados do que os valores médios recebidos a cada tonelada exportada. Neste ano, essa diferença subiu para 117,3%. Quer dizer, uma unidade importada passou a custar 2,17 vezes mais do que o valor médio recebido pelos exportadores.
  • Em parte, essa discrepância explica-se em razão do perfil das exportações e das importações, mas também está relacionada à própria estrutura da indústria goiana e a sua baixa complexidade, com participação muito reduzida ou quase nula de bens mais sofisticados e de alto valor agregado.
  • De fato, as exportações de soja, farelo e óleo, ouro e carne bovina congelada responderam por 70,4% das vendas externas totais concretizadas pelo Estado no primeiro semestre deste ano. Além disso, quase 80,0% do aumento acumulado no período pelas vendas externas totais resultaram da contribuição daqueles três itens.No prato das importações, as compras de produtos farmacêuticos, energia, adubos e veículos, suas partes e acessórios, tiveram participação de 68,3% no total da pauta.
  • Excluída a energia, houve melhora nessa relação, mas a conta fica desfalcada de um de seus principais itens. Apenas como exercício, a diferença entre os preços médios nas duas pontas caiu de 103,96% para 69,35%. Como se percebe, a diferença continuaria substancial, embora um pouco mais curta.
  • Principal fator a explicar a redução nos volumes embarcados para fora do País, as vendas externas de soja em grão, também em volume, caíram de quase 5,580 milhões para pouco menos de 5,191 milhões de toneladas, recuando praticamente 7,0%.Ainda assim, o valor exportado apresentou salto de quase 15,0%, impulsionado pelo aumento de 23,5% nos preços médios do grão exportado pelo Estado, que avançou de US$ 338,91 para US$ 418,68 por tonelada.
  • Os preços da soja na Bolsa de Chicago, segundo acompanhamento feito pela consultoria StoneX, registraram salto de quase 69% entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano. Mas recuaram 6,9% de maio para junho deste ano, baixando de US$ 15,72 para US$ 14,62 por bushel. Essa flutuação para baixo parece ter correspondido mais a um ajuste no mercado do que a uma tendência a determinar o comportamento daquelas cotações daqui para frente.
  • No caso do farelo de soja, os volumes encolheram 17,7% e a receita de exportação, ao contrário, apresentou elevação de 4,33%. A diferença está no avanço de 26,8% nos preços médios de venda frente ao primeiro semestre do ano passado.
  • As vendas externas de minérios de cobre aumentaram 15,1% na mesma comparação, mas o volume embarcado desabou 23,1%. O crescimento foi turbinado pelo salto de 49,7% nos preços.