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domingo, 24 de novembro de 2024

O falso debate sobre o crédito direcionado e a política de juros

A taxa básica de juros, numa decisão atropelada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como se sabe, foi ligeiramente reduzida para 10,50% pelo Conselho de Política Monetária (Copom), em seu convescote mais recente, concluído no dia 8 passado. Entre outros pontos apresentados para justificar o menor ritmo imposto à queda dos juros, […]

A taxa básica de juros, numa decisão atropelada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, como se sabe, foi ligeiramente reduzida para 10,50% pelo Conselho de Política Monetária (Copom), em seu convescote mais recente, concluído no dia 8 passado. Entre outros pontos apresentados para justificar o menor ritmo imposto à queda dos juros, parte do comitê argumenta que o avanço recente do crédito direcionado, que cobra juros mais baixos dos tomadores, estaria reduzindo a “potência” da política monetária, vale dizer, estaria funcionando para “amortecer” o impacto dos juros altos sobre a demanda total na economia, contribuindo para enfraquecer, em consequência, o combate à inflação.

Os dados sobre as operações de crédito liberados ontem pelo próprio BC, no entanto, ajudam a colocar em dúvida aquele tipo de raciocínio, diante da participação menos relevante das contratações de empréstimos direcionados em relação ao total das concessões de empréstimos e financiamentos de todo o sistema financeiro. Na prática, trata-se de um falso debate, até porque o peso dos juros continua a impedir que a atividade econômica de fato deslanche e alcance níveis mais alentados de crescimento. Mesmo porque, a despeito de flutuações eventuais, as taxas de inflação continuam bem comportadas e abaixo do limite de alta definido pela política de metas inflacionárias.

Ajustadas sazonalmente, quer dizer, com a exclusão de fatores que se repetem nos mesmos períodos todos os anos, as concessões de novos empréstimos e financiamentos pelas instituições financeiras, nas estatísticas do BC, cresceram 2,6% no trimestre encerrado em abril deste ano frente aos três meses imediatamente anteriores, acumulando variação de 13,9% em 12 meses. Em dados nominais, ou seja, sem correção pela inflação decorrida, as concessões saíram de alguma coisa acima de R$ 1,499 trilhão no trimestre entre fevereiro e abril do ano passado para algo ligeiramente abaixo de R$ 1,708 trilhão nos mesmos três meses deste ano, depois de terem alcançado R$ 1,665 trilhão entre novembro de 2023 e janeiro deste ano.

Peso reduzido

As concessões no segmento de crédito livre, com taxas de juros reguladas pelo próprio mercado financeiro, apresentaram alta de 13,3% em 12 meses, saindo de R$ 1,331 trilhão no trimestre finalizado em abril do ano passado, quase 89% das concessões totais, para pouco menos de R$ 1,508 trilhão em idêntico intervalo deste ano, correspondendo a 88,3% dos novos empréstimos liberados por bancos, financeiras e outras entidades de crédito. O crédito direcionado, que inclui empréstimos para compra de moradias, o crédito rural para as safras e os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre outras operações, apresentou uma taxa de avanço um pouco maior, num incremento de quase 13,9%. Ainda em valores nominais, essas concessões subiram de R$ 170,9 bilhões para R$ 204,3 bilhões – quer dizer, as concessões no segmento livre foram 7,4 vezes maiores. As concessões de crédito direcionado representaram 11,96% do total das novas contratações realizadas pelo sistema financeiro no trimestre terminado em abril deste ano, frente a uma participação de 11,21% em igual período de 2023.

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