Coluna

Pecuária eleva produção de carne por hectare de pastagem em 159%

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 28 de fevereiro de 2020

A pecuária brasileira continua a acumular
ganhos de produtividade ao longo do tempo, demonstrando avanços no peso médio
dos animais abatidos e ainda na produção média de carne por hectare. As
mudanças decorrem predominantemente da adoção de técnicas mais aprimoradas de
manejo, investimentos em tecnologia, com aplicação de pacotes tecnológicos mais
intensivos, melhoras nos sistemas de nutrição e, mais recentemente, da
ampliação dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Os números dizem respeito à média do setor,
que inclui desde empresários conscientes, que se preocupam genuinamente com a
sustentabilidade e perpetuação de seu negócio, e ainda pecuaristas menos
idôneos e confiáveis, que ainda acreditam em sistemas de criação ultrapassados
e ambientalmente nocivos. Os registros oficiais, de toda maneira, deixam
nítidos os avanços já realizados e mostram que ainda há espaço para ganhos
adicionais, que poderão contribuir para mitigar o impacto ambiental da
atividade e assegurar margens de rentabilidade mais generosas.

Os dados preliminares da pesquisa trimestral
de abate animal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), num
exemplo, mostram que o setor abateu 32,398 milhões de bovinos no ano passado,
entre bois, vacas, novilhas e novilhos. Houve um modesto avanço de 1,11% em
relação às 32,043 milhões de cabeças abatidas em 2018, mas a produção de carne
parece ter avançado 2,6%, já que o peso total das carcaças abatidas cresceu de
quase 7,990 milhões para 8,197 milhões de toneladas. O incremento é explicado
também pela alta no peso médio dos animais levados a abate, que passou de 253
para 259 quilos, aproximando-se de 17,3 arrobas.

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Ganho
de peso

Num horizonte mais longo, comparando com 2009,
o total de abates aumentou 15,45%, enquanto a produção de carne (peso total das
carcaças) experimentou alta de 23,1%. Naquele ano, o abate de 28,063 milhões de
animais gerou um peso total de 6,662 milhões de toneladas, correspondendo a uma
média de 15,83 arrobas por animal. O peso médio por cabeça registrou elevação
de 6,58%. Em grandes números, os ganhos de produtividade responderam por
praticamente um terço do crescimento da produção de carne bovina naqueles 11
anos. O censo agropecuário de 2017, que teve seus dados divulgados recentemente
pelo IBGE, sugere tendências semelhantes e ganhos ainda mais expressivos.

Balanço

·  
Nas
duas décadas encerradas em 2017, a área total de pastagens naturais e
cultivadas encolheu pouco mais de 10%, passando dos 177,70 milhões de hectares
indicados pelo censo agropecuário de 1996 para qualquer coisa ao redor 159,50
milhões de hectares. A redução foi mais intensa no tamanho dos pastos naturais,
que encolheu de 78,05 milhões para 47,32 milhões de hectares até a medição mais
recente, realizada em 2017, numa queda de 39,4%.

·  
Naquele
intervalo, não ocorreu exatamente uma substituição de pastos naturais por
pastagens cultivadas, já que estas apresentaram crescimento de 12,6% (saindo de
99,65 milhões para 112,17 milhões de hectares). O resultado final, como visto,
foi um encolhimento dos pastos.

·  
Isso
não evitou que a intensificação nos sistemas de criação e novas técnicas mais
modernas tornassem possível um aumento do rebanho bovino, que cresceu de 153,06
para 172,72 milhões de cabeças (embora esse número tenha sofrido algum recuo na
comparação com o censo de 2006).

·  
O
rebanho aumentou 12,8% em 20 anos, mas a produção de carne (novamente medida
com base no peso total das carcaças) registrou salto de 130,3% ao avançar de
3,335 milhões para 7,682 milhões de toneladas. Essa evolução fez com que a
produção de carne por hectare de pastagem experimentasse um salto de 158,8%
entre 1997 e 2017, avançando de 18,6 para 48,2 quilos.

·  
Para
comparação, mantida a produtividade do final dos anos 1990, o Brasil precisaria
ocupar uma área de pasto duas vezes e meia maior para alcançar a mesma produção
realizada em 2017. Poupou-se terra, foi possível evitar emissões e a derrubada
de florestas (mas obviamente não freou o desmatamento e as queimadas).

·  
Por
isso, há muito a avançar ainda. A taxa de ocupação nas pastagens ainda é muito
baixa, inferior a duas cabeças por hectare. E as áreas de pecuária que adotam
sistemas de integração com grãos e matas ainda são proporcionalmente tímidas,
muito embora seu impacto deva ser levado em consideração.

·  
Pesquisas
recentes conduzidas pela Embrapa Cerrados sustentam que a destinação de apenas
15% das áreas de produção para sistemas de integração
(lavoura-pecuária-floresta) já seria suficiente para compensar com sobras todas
as emissões de gases formadores do efeito estufa em toda a propriedade,
deixando ainda um saldo positivo de carbono na fazenda.