Coluna

Perda de R$ 236 milhões na renda dos ocupados tende a travar recuperação

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 16 de agosto de 2019

Os
sinais já muito tênues de alguma reação da atividade econômica em Goiás tendem
a sofrer novo baque caso persista a tendência de baixa na massa de rendimentos
pagos ao total de pessoas ocupadas, apontada na edição mais recente da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Divulgada ontem, seus dados mostram uma
retração de 3,3% na soma de todos os rendimentos recebidos pelos trabalhadores
goianos (a massa salarial, em bom economês) na passagem do primeiro para o
segundo trimestre, o que explica em parte o arrefecimento observado na economia
ao longo do período.

A
queda correspondeu a uma redução de R$ 236,0 milhões na massa de rendimentos,
que baixo de R$ 7,205 bilhões para R$ 6,969 bilhões na comparação entre aqueles
dois trimestres, já descontada a inflação do período. Foi a pior perda desde o
tombo de 6,5% observado entre o terceiro e o quarto trimestres de 2015, em meio
à recessão, quando a massa de salários chegou a registrar uma perda de R$ 450,0
milhões.

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Obviamente,
a redução observada agora fará encolher proporcionalmente o poder de compra das
famílias, afetando as vendas do comércio e o setor de serviços, mais
diretamente conectados à capacidade de consumo da população, com efeitos possíveis
também sobre a atividade industrial. O mercado não demonstrou fôlego, da mesma
forma, para repetir os números do segundo trimestre do ano passado, quando a
massa de rendimentos havia alcançado R$ 6,996 bilhões. Estatisticamente, a
pesquisa registrou certa “estabilidade” (ainda que estagnação pareça
a definição mais adequada), com variação negativa de apenas 0,4% em termos
reais.

A
redução na renda somada de todas as ocupações registra uma combinação de baixo
crescimento no emprego e redução do rendimento médio real (quer dizer,
atualizado com base na inflação até junho deste ano). O salário médio caiu 3,8%
na comparação com o segundo trimestre deste ano, saindo de R$ 2.348 para R$
2.344. O total de pessoas ocupadas de alguma forma, incluindo empregos sem
carteiro e por conta própria, variou de 3,327 milhões para 3,348 milhões,
avançando apenas 0,6% (com criação de 21,0 mil vagas).

Subocupados

Mesmo
ainda tímida frente a um total de 393,0 mil desempregados, a abertura de novas
ocupações na economia goiana ainda ficou concentrada em trabalhos temporários e
de menor remuneração (o que talvez explique a redução no rendimento médio). De
fato, o número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas saltou
9,5% entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, avançando de 159,0 mil
para 174,0 mil pessoas – ou seja, 15,0 mil a mais, o que representou 71,4% do
número de novas ocupações criadas entre os dois trimestres.

Balanço

·  
Como
dado positivo, o total de trabalhadores com carteira finalmente deu sinais de
alguma melhora, crescendo 1,9% no segundo trimestre (sempre em relação aos três
meses imediatamente anteriores) e saindo de 1,238 milhão para 1,261 milhão de
pessoas.

·  
O
emprego na indústria, da mesma forma, apresentou crescimento, depois de sofrer
quedas em quatro dos últimos seis trimestres. De qualquer forma, o número de
empregados no setor cresceu 4,7%, de 436,0 mil para 456,0 mil (20,0 mil a
mais). A lentidão pode ser percebida quando se compara com o melhor período
para o emprego no setor, registrado no terceiro trimestre de 2012, quando 494,0
mil trabalhadores estavam ocupados no setor. Persiste uma retração de 7,7%.

·  
Entre
os grandes setores, desta vez, a indústria foi uma das poucas áreas a
apresentar números mais positivos. A construção civil abriu 5,0 mil vagas, mas
manteve o mesmo número de ocupados registrados no segundo trimestre de 2018
(255,0 mil).

·  
Os
setores de comércio, reparação de veículos e serviços em geral (incluindo
serviços domésticos) fecharam 4,0 mil colocações,
mantendo virtual estabilidade com 2,344 milhões de ocupados (mas 40,0 mil a
mais do que no mesmo trimestre de 2018).

·  
Como
reflexo das condições ainda precárias no mercado, o número de pessoas
desalentadas (que desistiram de buscar emprego por falta de oportunidade ou por
não conseguirem colocação decente) aumentou 15,9%, de 80,0 mil para 93,0 mil
pessoas. Foi o segundo trimestre consecutivo de alta no desalento, acumulando
variação de 25,7% desde o quarto trimestre do ano passado.

Numa nota final, a estagnação da massa de renda
desde o segundo trimestre de 2018 esteve relacionada muito mais à redução de
1,6% no rendimento médio real, já que o número de ocupados avançou 1,3% (mais
44,0 mil vagas criadas, das quais 40,0 mil em trabalhos por conta própria).