Petróleo sobe e preços do gás e dos combustíveis pressionam inflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de outubro de 2021

Os aumentos mais recentes anunciados pela Petrobrás para os preços dos combustíveis e do gás de cozinha tendem a descarregar seus efeitos mais fortemente sobre a inflação de novembro, com peso relativamente menos intenso no índice inflacionário deste mês, já que seu impacto ficará limitado à semana final de outubro. Os reflexos daqueles reajustes, somados às turbulências produzidas em série pelo tresloucado que desgoverna o País e sua equipe, com fortes oscilações do dólar, podem até ser parcialmente compensados pela alta menor ou mesmo alguma estabilidade nas tarifas de energia elétrica residencial, mas não deverão produzir desaceleração mais sensível no ritmo da inflação, com os mercados calibrando suas projeções para qualquer coisa ao redor de 9,0% em 2021 – estimativa que tende a ser superada ao que sugerem os dados atuais.

Embora excessivamente elevados, sob impacto da bandeira de escassez hídrica (R$14,20 a cada 100 quilowatts/hora), em vigor desde setembro, os custos da energia elétrica indicaram leve desaquecimento nas quatro semanas encerradas no dia 22 de outubro, conforme mostra o Índice de Preços ao Consumidor Semanal da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). A taxa mensal havia alcançado 3,93% até 15 de outubro, recuando para 2,36% na medição seguinte. Os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15(IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda indicam certa aceleração, com a alta saindo de 3,61% nas quatro semanas terminadas em 15 de setembro para 3,91%. Deve-se notar, no entanto, que a energia havia experimentado salto de 6,47% nos 30 dias de setembro. A tendência que parece prevalecer, portanto, é de desaceleração, num sentido inverso ao anotado pelos combustíveis e pelo botijão de gás.

Escalada externa

Continua após a publicidade

No mercado internacional, os preços do barril de petróleo continuaram a subir nos últimos dias, prenunciando que a fase de alta nos preços dos combustíveis e do gás ainda não se esgotou. Ontem, os preços do petróleo tipo Brent, como o extraído no Mar do Norte no Reino Unido, e WIT (West Texas Intermediate, um tipo de óleo mais pesado, produzido pelos Estados Unidos) subiram respectivamente 0,75% e 2,0% frente a quinta-feira da semana passada. O barril acumulava alta de 12,4% (WTI) e 8,8% (Brent) desde o final de setembro, saltando 77,1% e 67,2% em relação a janeiro deste ano, seguindo aquela mesma ordem.

Balanço

  • A inflação nos 30 dias encerrados em 15 de outubro, conforme o IPCA-15, atingiu 1,20%, correspondendo à maior taxa para um mês de outubro desde 1995. A inflação acumulada em 12 meses bateu em 10,34%, com a taxa retomando níveis próximos aos registrados no começo de 2016, quando o IPCA em 12 meses havia alcançado 10,36% em fevereiro daquele ano.
  • Os preços aferidos entre os dias 15 de setembro e 13 de outubro, comparados às quatro semanas imediatamente anteriores, subiram mais do que esperavam os mercados, que apostavam uma variação máxima de 1,06% para o período. O relatório Focus, divulgado semanalmente elo Banco Central (BC), numa espécie de sondagem sobre os humores do mercado financeiro, mostra que o setor tem apostado agora em taxas mensais de 0,79% e de 0,51% para o IPCA de outubro e novembro, respectivamente.
  • A se confirmarem, aquelas taxas poderão levar a discreta desaceleração da taxa acumulada em 12 meses, visto que a inflação naqueles mesmos dois meses do ano passado havia alcançado 0,86% e 0,89%. Para dezembro, o Itaú BBA projeta um IPCA de 0,67%, bem abaixo da inflação de 1,35% observada no último mês do ano passado.
  • Não será de fato um alívio muito relevante e ainda não significa que a possibilidade de o IPCA encerrar o ano acima de 9,0% possa ser de fato afastada. Seria a taxa mais alta desde 2015, quando o IPCA variou 10,67%, aproximando-se da inflação de 9,30% registrada em 2003. De acordo com o relatório semanal do BC, o setor financeiro elevou sua previsão para o IPCA neste ano de 8,45% há um mês para 8,96%.
  • O dado mais concreto é que a inflação vai continuar causando desorganização nos orçamentos das famílias, corroendo o valor real dos salários e dilapidando a capacidade de consumo especialmente da parcela mais vulnerável da população, levando-se em conta que a inflação dos alimentos consumidos no domicílio aproximava-se em outubro de 13,5% em 12 meses.
  • A média dos chamados “núcleos da inflação”, medida que desconsidera grupos de produtos mais voláteis, assim como alimentação no domicílio, preços administrados e outros, igualmente mostra uma escalada, com a variação em 12 meses saindo de 2,26% em outubro do ano passado para 6,73% em igual período terminado em outubro deste ano, na aferição do Itaú BBA. BC e mercados conferem relevância para a inflação indicada pelos chamados “núcleos” porque consideram que estes refletiram de forma mais fidedigna os efeitos da atividade econômica sobre os preços, capturando assim as tais “pressões de demanda”.
  • Numa economia com capacidade ociosa elevada, como mostram os números do desemprego, parece de certa forma irrealista acreditar que uma demanda excessiva estaria de fato por trás dos aumentos recentes dos preços na economia. Os aumentos atingiram 63,8% dos itens e produtos pesquisados pelo IBGE para compor o IPCA-15 deste mês. Mas a difusão das altas diz pouco sobre o processo de formação do índice inflacionário.
  • Nas quatro semanas encerradas em 15 de outubro, pouco mais de metade da inflação (50,6%) podem ser explicados por cinco produtos ou grupo de produtos: tomate, gás de botijão, energia elétrica, passagem aérea e combustíveis. Para o conjunto daqueles itens, a inflação passou de 0,52% em setembro para 0,61%. Os demais preços anotaram variação composta de 0,59% até 15 de outubro, frente a 0,62% no mês anterior.