PIB volta a surpreender no segundo trimestre. Mas avanço perde força

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de setembro de 2023

A paralisação virtual dos investimentos no segundo trimestre foi compensada com alguma sobra pelo avanço do consumo das famílias e dos governos no segundo trimestre deste ano, o que levou o Produto Interno Bruto (PIB), mais uma vez, a desmentir as previsões do mercado, de consultores e economistas em geral. O comportamento das despesas públicas, com destaque para as transferências de renda para as famílias mais vulneráveis, ajudou a injetar algum fôlego na economia, assim como a queda da inflação, com barateamento relativo nos custos da alimentação, favoreceu os orçamentos familiares, abrindo espaço para o consumo de outros bens. Para complementar, o reajuste do salário mínimo, recompondo seu valor em termos reais, deve ter contribuído para reforçar o consumo das famílias, com efeitos encadeados sobre o restante da atividade econômica.

Nas estimativas mais recentes, as taxas de crescimento projetadas para o PIB variavam entre redução de 0,1% a algum avanço de 0,3% na comparação com o primeiro trimestre, com variações de 2,2% a 2,7% frente ao segundo trimestre do ano passado, na média das projeções. Os números preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram crescimento de 0,9% entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano e de 3,4% em relação ao trimestre finalizado em junho do ano passado. Em ambos os casos, vale anotar, houve desaceleração no ritmo de crescimento da atividade, ainda castigada pelos juros escorchantes impostos à economia pelo Banco Central (BC). Mantendo o trimestre inicial deste ano como referência, sob a ótica da oferta, o desaquecimento veio por conta da agropecuária, que saiu de um salto de 21% no primeiro trimestre para queda de 0,9% no trimestre seguinte. O avanço de 0,9% observado para a indústria em geral foi puxado pelo crescimento de 1,8% da indústria extrativa, graças à maior produção de petróleo e minério de ferro.

Menor impacto

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Na comparação com o segundo trimestre de 2022, a agropecuária ainda registrou alta vigorosa, saltando 17,0%, com o setor extrativo subindo 8,8%. Foram resultados bem mais vigorosos do que aqueles observados, no lado da demanda, para as despesas de consumo das famílias, que subiram 3,0%, e para consumo dos governos, numa variação de 2,9%. O investimento continuou muito negativo, encolhendo mais 2,6% naquela mesma comparação, o que limita as chances de a economia continuar a crescer ao longo dos próximos trimestres, no ritmo atual pelo menos. Num mero efeito estatístico, o desempenho do PIB no primeiro semestre, com avanço de 3,7% em relação ao mesmo período do ano passado, parece assegurar, segundo alguns cálculos, uma elevação mais próxima de 3,0% ao longo de todo o ano, ainda que a economia nada cresça nos dois últimos trimestres de 2023.

Balanço

  • Adicionalmente, a composição da taxa de crescimento no segundo trimestre, como anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), parece da mesma forma não sinalizar resultados mais animadores adiante, considerando “tanto a agropecuária como o setor extrativo têm uma capacidade mais limitada de espalhar seu dinamismo para o restante da economia. Ou seja, possuem menor ‘efeito multiplicador’”.
  • Ajudado também pela agropecuária, mas especialmente pela demanda das famílias de renda mais elevada, o setor de serviços repetiu os números do primeiro trimestre e anotou variação de 0,6% também no segundo trimestre. A taxa trimestral, que considera igual período do ano anterior como base para comparação, mostrou desaquecimento ao sair de 2,9% no primeiro trimestre para 2,3% no segundo. No acumulado dos primeiros seis meses deste ano, frente ao mesmo intervalo de 2022, o setor de serviços anotou crescimento de 2,6%, o que se compara com o ritmo de 4,4% acumulado na primeira metade do ano passado.
  • O investimento continua sendo um fator de preocupação. Nos últimos três trimestres, a chamada formação bruta de capital fixo – o investimento total na economia – registrou quedas de 1,2% e de 3,4% no quarto trimestre de 2022 e no primeiro deste ano, na comparação com os trimestres imediatamente anteriores, e não conseguiu sair do lugar no segundo trimestre de 2023, com variação de 0,1%. Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o investimento caiu 2,6% e passou a acumular baixa de 0,9% no primeiro semestre, saindo de alta de 4,2% no segundo semestre de 2022.
  • Na série histórica do IBGE, iniciada em 1996, o investimento havia alcançado seu maior nível no segundo trimestre de 2013, há dez anos, portanto. Mas encolheu 15,1% desde lá. A taxa de investimento no segundo trimestre, medida em relação ao PIB, baixou de 18,3% em 2022 para 17,2% neste ano – superando apenas os índices anotados entre 2016 e 2021 para o mesmo período, quando a economia foi chacoalhada pela forte recessão de 2015/16 e pela pandemia a partir de 2020.
  • A queda na taxa de desemprego, que fechou o segundo trimestre deste ano em 8,0% (frente a 9,3% no mesmo período do ano passado), e o ligeiro avanço de 0,7% registrado para a ocupação no mesmo intervalo, associados à variação real de 6,2% no rendimento real médio dos trabalhadores, explicado em parte pela redução da inflação, ajudaram a construir o avanço de 7,2% para a massa total de rendimentos do trabalho. Esse fator certamente ajudou a impulsionar a demanda das famílias.
  • Da mesma forma, em valores nominais, as despesas com benefícios de prestação continuada, assistência aos mais vulneráveis e deficientes e com o programa Bolsa Família, somados, experimentaram salto de 57,5% entre o segundo trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano. Essa classe de gastos aumentou de R$ 41,497 bilhões para quase R$ 65,360 bilhões.