Preços mais influenciados pela demanda registram forte desaceleração em março

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de abril de 2024

Ampliando a tendência de desaceleração já observada na primeira quinzena do mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou as quatro semanas de março em 0,16%, bem abaixo da taxa de 0,71% registrada no mesmo período de 2023 e inferior ao IPCA-15 acumulado entre os dias 16 de fevereiro e 14 de março, na faixa de 0,36% – que, por sua vez, já havia sido muito mais baixo do que a inflação de 0,83% anotada em fevereiro. Em quatro semanas, portanto, a taxa experimentou um recuo equivalente a 0,67 pontos de percentagem, derrubando o IPCA acumulado em 12 meses de 4,50% para 3,93%, lembrando que o centro da meta inflacionária definida para este ano está em 3,0%, com margem de meio ponto percentual para baixo ou para cima.

Mas os preços que sofrem mais diretamente a influência da demanda passaram a variar numa intensidade ainda menor, sugerindo um mercado “frouxo” (quer dizer, com consumo acomodado em níveis que não representam riscos de uma recaída inflacionária). O cenário nesta área parece bem mais favorável do que parecem sugerir as projeções do Comitê de Política Monetária (Copom), que chegou a antecipar a decisão de aplicar mais um único corte de meio ponto percentual sobre a taxa de juros básicos no restante do ano, deixando o custo básico do crédito na faixa de 10,25% ao ano.

Descontados os preços monitorados, determinados de alguma forma pelo poder público, os demais produtos e serviços acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que responde pelo cálculo do IPCA, registraram variação muito próxima de 0,05% em março, o que se compara com 0,18% na taxa observada entre 16 de fevereiro e 14 de março e com 0,65% nos 29 dias de fevereiro deste ano. Essa medição carrega a influência dos preços das passagens aéreas, que têm se mostrado extremamente voláteis e encontram-se em baixa nas últimas semanas, com quedas de 10,71% em fevereiro e de 9,14% em março (ligeiramente mais acentuada do que o recuo de 9,08% registrado entre a segunda quinzena de fevereiro e as primeiras duas semanas de março). Excluídas as passagens e bens e serviços monitorados, de toda forma, os demais preços anotaram elevação de 0,12% nas quatro semanas do mês passado, diante de 0,27% nos 30 dias terminados em 14 de março e 0,74% ao longo de fevereiro.

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Preços “livres”

O acompanhamento realizado pela economista Luciana Rabelo, da equipe de macroeconomia do Itaú BBA, reforça a tendência de desaceleração no ritmo de alta dos preços “livres”, não sujeitos a controles e monitoramento pelo governo e agências reguladoras. Esse conjunto de itens havia experimentado elevação de 0,80% em fevereiro, passando a subir 0,24% nos 30 dias terminados em 14 de março, cedendo para apenas 0,13% nas quatro semanas do mês passado. Num exercício feito pela coluna, com a exclusão dos preços das passagens aéreas, a alta saiu de 0,89% em fevereiro para 0,31% na medição seguinte, coberta pelo IPCA-15 de março, recuando para 0,20% no fechamento do mesmo mês. Nos cálculos do Itaú BBA, a inflação dos preços livres passou a acumular 3,10% em março, praticamente no centro da meta inflacionária fixada para 2024, diante de 7,25% no mesmo mês do ano passado.

Balanço

  • No relatório Focus divulgado no início desta semana pelo Banco Central (BC), a mediana das previsões do setor financeiro indicava uma inflação de 0,24% para março, enquanto o próprio Itaú BBA projetava uma taxa de 0,27%. Obviamente, a inflação real ficou um tanto inferior às apostas do mercado, lembrando que o IPCA já vinha baixando depois de absorvidas as altas de mensalidades e materiais escolares e diluída de certa forma a inflação dos alimentos e dos combustíveis.
  • O Itaú BBA, em relatório divulgado ontem, aponta “surpresas baixistas disseminadas em três grupos”, a saber, alimentação no domicílio, que teve a inflação reduzida de 1,04% nos 30 dias terminados em 14 de março para 0,59% nas quatro semanas do mesmo mês; serviços, com variação de apenas 0,10% em março; e bens industriais, com deflação de 0,12% no mês passado.
  • “Em relação aos núcleos, tanto serviços subjacentes quanto industriais subjacentes vieram abaixo do esperado”, anota Luciana Rabelo. Esses indicadores “subjacentes” em geral excluem itens mais voláteis e refletem basicamente o comportamento de preços de serviços e bens que reagem mais diretamente a flutuações salariais. No caso dos produtos industriais “subjacentes”, os preços recuaram em média 0,08%. Os serviços “ subjacentes” variaram 0,45% em estabilidade virtual diante da taxa de 0,40% alcançada no IPCA-15 de março e abaixo da alta de 0,51% projetada.
  • Conforme a economista, “na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes ficaram estáveis em 5,7% e industriais subjacentes também, em 1,9%. Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou para 3,5%” (saindo de 3,9% na aferição anterior).
  • O IPCA em Goiânia, ao contrário, apresentou elevação ao passar de 0,14% no período quadrissemanal terminado em 14 de março para 0,36% nos 30 dias do mês passado. As pressões vieram principalmente do grupo alimentação e bebidas e da alta da energia elétrica residencial. No primeiro caso, os custos subiram 0,78% em todo o mês de março, depois de anotarem variação de apenas 0,06% na quadrissemana concluída em 14 de março. As tarifas de energia, que haviam subido 3,11% na medição anterior, passaram a indicar elevação de 4,21%. Pouco mais de quatro quintos do IPCA de março podem ser explicados, portanto, pelo encarecimento da alimentação e da energia elétrica.