Produção industrial volta a derrapar em Goiás e acumula recuo de 6,2%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de abril de 2024

A indústria goiana voltou a tropeçar em fevereiro, na segunda queda mensal consecutiva desde que a produção atingiu seu nível histórico máximo em dezembro do ano passado, na série estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera indicadores devidamente “dessazonalizados” – quer dizer, já desconsiderados os fatores que ocorrem sempre nos mesmos períodos a cada ano e que poderiam distorcer a comparação mês a mês, gerando uma percepção equivocada sobre as tendências em cena naquele momento. A queda em fevereiro foi menos intensa, com redução de 2,4% em relação a janeiro, quando a produção havia sofrido baixa de 3,9% frente a dezembro último. Em dois meses, o setor industrial goiano anotou retração próxima de 6,2%.

As séries estatísticas do IBGE não contemplam dados igualmente dessazonalizados para os diversos setores da indústria regional, o que impede uma visão mais detalhada da evolução do setor mês a mês. Os dados mensais, comparados a idênticos períodos do ano anterior, apresentam taxas fortemente positivas neste ano, comportamento explicado em grande parte pelos dados muito ruins apurados nos meses iniciais de 2023, mas também pelo fato de fevereiro deste ano ter registrado um dia útil a mais em função do ano bissexto. Parte do crescimento observado nesse tipo de comparação, portanto, corresponde a uma recuperação frente a níveis achatados pelo desempenho negativo colhido um ano antes.

Base achatada

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Na comparação com igual mês do ano imediatamente anterior, a produção havia crescido 13,6% em outubro, mais 17,9% em novembro e 19,8% em dezembro, fechando o ano de 2023 com elevação de 5,9%. A sequência mais recente dá pistas sobre as dimensões da retração observada anteriormente e, de fato, até o final do primeiro semestre, a produção vinha experimentado baixa de 0,6% no acumulado em 12 meses. O crescimento observado em fevereiro deste ano, por exemplo, pode ser comparado à queda de 3,0% registrada no mesmo mês do ano passado. Ainda concentrada especialmente em quatro setores – bens alimentícios, biocombustíveis, produtos químicos e veículos – nos dados mais recentes, a tendência de crescimento em bases mensais tem sido observada desde maio, alcançando em fevereiro deste ano o décimo resultado positivo na comparação com idêntico mês de um ano antes, elevando a variação acumulada em 12 meses para 7,3%. Para comparação, o crescimento médio da indústria brasileira em igual período chegou a algo em torno de 1,0%.

Balanço

  • Mais de 70% do crescimento anotado pela indústria goiana em fevereiro e no acumulado do primeiro bimestre deste ano vieram da indústria de fabricação de bens alimentícios, com contribuição mais relevante, de acordo com o IBGE, da produção de carnes bovina e de aves frescas e congeladas, maionese e farelo de soja. O setor de alimentos avançou 15,8% em fevereiro e passou a acumular variação de 16,4% no primeiro bimestre, comparado aos primeiros dois meses de 2023. Em fevereiro do ano passado, a produção de alimentos havia sofrido tombo de 6,4% diante de igual mês de 2022, recuando 0,8% no bimestre inicial de 2023.
  • As atividades de refino de derivados do petróleo e de produção de biocombustíveis, como relevância mais óbvia para aquele segundo segmento, lideraram em termos proporcionais, com saltos de 84,2% em fevereiro e 105,0% no bimestre. O avanço foi liderado pelos setores de etanol e biodiesel, que têm apresentado forte incremento neste início de ano, a despeito do período ser marcado pelas semanas finais da safra de cana.
  • Nos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção de etanol em Goiás saltou de 62,403 milhões para 126,248 milhões de litros entre o primeiro bimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, mais do que dobrando no período (uma alta de 102,31%). O Estado produziu ainda 255,902 milhões de litros de biodiesel em janeiro e fevereiro deste ano, frente a 127,998 milhões de litros nos mesmos dois meses do ano passado, correspondendo a uma alta de 99,93%. Na soma dos dois insumos, a produção goiana aumentou 100,71% na mesma comparação, avançando de 190,401 milhões para 382,150 milhões de litros.
  • O desempenho positivo das indústrias de fertilizantes minerais e químicos, superfosfato, detergentes e sabões levou a um incremento de 13,1% no setor de produtos químicos em geral ao longo do primeiro bimestre, depois de um aumento de 18,3% em fevereiro.
  • As montadoras de veículos, com maior contribuição dos automóveis, instaladas em Goiás aumentaram sua produção em 82,0% em fevereiro, num avanço acumulado de 66,0% no primeiro bimestre. Para comparação, nos dois primeiros meses do ano passado, o setor havia registrado perdas de 16,8%. 
  • Os destaques negativos ficaram na conta das indústrias de máquinas e equipamentos, confecções e medicamentos, que sofreram baixas de 13,3%, 20,2% e de 23,3% no primeiro bimestre, respectivamente.
  • Na visão do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ainda que a produção da indústria em geral no País tenha anotado recuo no segundo mês do ano, “os dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a grande maioria dos parques regionais se saiu melhor e conseguiu crescer em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais”. Entre as 15 regiões acompanhados pelo IBGE, dez delas registraram crescimento na passagem de janeiro para fevereiro, “com destaque para Rio Grande do Sul (+9,4%), Amazonas (+7,3%), Espírito Santo (+5,9%) e alguns Estados no Nordeste, como Pernambuco (+5,2%) e Ceará (+5,2%)”.
  • Ainda na avaliação do Iedi, dado o tamanho de sua indústria, “São Paulo freou o desempenho do agregado nacional”, com a produção industrial recuando 0,5% no Estado, “devolvendo parte da expansão (de 1,3%) registrada em janeiro”.