Preços registram forte desaceleração e reforçam necessidade de corte nos juros

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de junho de 2023

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), formado pela alta cúpula do Banco Central (BC), a ser iniciada hoje e concluída amanhã, ocorre em meio a um processo de deflação acelerada dos preços em geral, o que em tese deveria levar a uma redução mais ambiciosa e mais rápida dos juros básicos. Melhor dizendo, a tendência observada para as taxas de inflação deveria obrigar o Copom a reverter a política de juros altos, passando a reduzir aquelas taxas, ainda que com retardo excessivo, dado reconhecido agora pelo próprio mercado financeiro. Mas a expectativa do setor sugere que o BC persista na taxa de 13,75% em vigor há longos e penosos 11 meses, por razões meramente ideológicas.

Na verdade, a tendência de deflação (quer dizer, queda dos preços, na média) vem sendo observada no mercado atacadista, de forma mais persistente, desde janeiro deste ano e acentuou-se nas últimas semanas, como mostram as séries estatísticas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O comportamento baixista dos preços no setor, capturado pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que ajuda a compor o Índice Geral de Preços (IGP), passou a influenciar os preços cobrados do consumidor final, determinando a queda dos índices inflacionários e, algumas medidas, até mesmo a redução do custo de vida, mais recentemente.

Medido entre os dias 11 de maio e 10 de junho, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) caiu 2,20% na comparação com as quatro semanas entre 11 de abril e 10 de maio, quando já havia recuado 1,53% frente aos 30 dias imediatamente anteriores. Aqueles resultados, como já anotado, vinham sendo influenciados quase exclusivamente pela redução dos preços ao produtor. Neste caso, o IPA (que tem peso de 60% no cálculo do IGP) havia sofrido baixas de 2,25% nas quatro semanas terminadas em 10 de maio e passou a cair 3,14% na medição feita até 10 de junho. Em 12 meses, os preços ao produtor acumulavam, até 10 de junho deste ano, um tombo histórico de 9,62%, o que levou o IGP-10 a encolher 6,31% em igual intervalo, na maior queda em toda a série histórica.

Continua após a publicidade

Abaixo da meta?

Com baixas nos preços da alimentação, educação e recreação, transportes e comunicação, a novidade mais recente foi a inflação negativa também na ponta final do consumo. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) anotou um recuo de 0,18% nas quatro semanas encerradas em 10 de junho, depois de ter subido 0,60% nos 30 dias anteriores – o que mostra a velocidade da desaceleração experimentada pelos preços, explicada em parte pela redução nos preços dos combustíveis, mas também com quedas em setores de grande peso na cesta de consumo das famílias e ainda com desaquecimento para todos os grupos de despesas. Para registro, o IPC aferido pelo Ibre/FGV registrava, até 10 de junho, variação de 2,65% em 12 meses, já abaixo do centro da meta inflacionária fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,25% para este ano, com tolerância de 1,5 pontos percentuais para mais ou para menos, num intervalo, portanto, de 4,75% a 1,75%.

Balanço

  • Os sinais de uma virada no cenário já eram perceptíveis há semanas e foram acentuados nas medições mais recentes do custo de vida, refletindo a perda de fôlego da atividade econômica capturada nas pesquisas mais recentes da produção industrial, das vendas do comércio e igualmente no setor de serviços.
  • Ainda na alçada do Ibre/FGV, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), que acompanha o ritmo dos preços no mercado de varejo a cada quadrissemana, havia registrado elevação de 0,61% ao final da primeira semana de maio, chegou a zero no mesmo intervalo deste mês e passou a cair 0,17% nos 30 dias finalizados em 15 de junho.
  • A troca de sinais foi ainda mais expressiva no grupo alimentação, que havia experimentado alta de 1,02% na quadrissemana encerrada em 15 de maio. No mesmo intervalo de junho, os preços dos alimentos registraram baixa de 0,18%. Também ficaram negativas as variações nos índices de preços dos transportes, educação e comunicação. No primeiro caso, tomando as quatro semanas terminadas em 15 de maio e em 15 de junho, as despesas no setor chegaram a subir 0,63% e caíram 1,43% no período mais recente, com baixa nos preços do diesel, da gasolina e do etanol.
  • Os preços no setor de educação já vinham em queda desde que foi encerrado o pico de alta causado pelo reajuste anual das matrículas e ainda pelo encarecimento sazonal dos preços dos materiais didáticos. A queda chegou a ser mais intensa nos 30 de maio, num tombo de 3,37%. A partir de lá, o ritmo das baixas tem sido menos intenso, fechando os 30 dias até 15 de junho com redução de 1,20%. No grupo comunicação, a variação foi praticamente nula, com leve recuo de 0,01%.
  • O Ibre/FGV registra desaceleração para todos os demais grupos, sempre comparando as variações anotadas nas quadrissemanas finalizadas em 15 de maio e em 15 de junho. Os preços do vestuário saíram de variação de 0,73% para 0,35%; saúde e cuidados pessoais de 1,41% para 0,51%; despesas diversas de 0,62% para 0,49%. O grupo de gastos com habitação mostra desaceleração mais recente, mas igualmente expressiva, deixando a alta de 0,89% observada em 30 dias até o dia 7 de junho para atingir variação de 0,64% até 15 de junho.
  • O Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF), construído pela FGV para tentar capturar o chamado “efeito substituição”, quando as famílias substituem itens e/ou produtos que apresentaram altas mais fortes de preços por outros mais de custo menor, acumulava um salto de 11,65% em 12 meses até março do ano passado e subiu 4,0% em 12 meses até março deste ano.
  • Da mesma forma, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe), que afere o custo de vida em São Paulo, havia fechado maio com variação de 0,22% e chega ao final das quatro semanas encerradas em 15 de junho em zero. Há indicadores de sobra apontando na direção de uma desinflação. Na quarta-feira será possível saber se o BC continuará com sua escolha de derrubar a economia e agravar a crise.