Pressões inflacionárias cedem em novembro no setor industrial

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 05 de janeiro de 2024

Depois de três meses de taxas positivas, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) voltou ao terreno negativo em novembro, indicando recuo de 0,43%, passando a acumular nos 11 meses iniciais de 2023 uma queda de 4,89%. Da mesma forma que as variações negativas colhidas ao longo da maior parte do ano passado acabaram influindo na moderação das taxas de inflação ao consumidor, não se pode descartar a possibilidade bastante concreta de que o bom comportamento observado em novembro venha, mais adiante, a contribuir para conter pressões de alta nos preços na ponta final do consumo, possibilidade reforçada pelos sinais de desaceleração da economia nos últimos meses.

Aferido mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPP mede a variação dos preços de matérias primas, insumos e bens industriais “na porta da fábrica”, descontados impostos e fretes. O histórico do índice ao longo dos 12 meses encerrados em novembro do ano passado mostra que as pressões de alta foram pontuais e não tiveram poder suficiente para se alastrar e produzir aumentos sequenciais de preços. Colocado de outra forma, o encarecimento momentâneo dos produtos industriais não gerou uma escalada de aumentos que poderiam ter, de alguma forma, reforçado pressões inflacionárias em toda a economia.

O cenário dos preços no setor industrial, ao contrário, confirma uma tendência de baixa. Entre novembro de 2022 e novembro do ano seguinte, o IPP ficou negativo em nove meses, com taxas positivas em apenas quatro – janeiro, agosto, setembro e outubro de 2023, com variações, pela ordem, de 0,29%, 0,75%, 1,06% e 1,07%. Com um detalhe a ser considerado: as altas no trimestre agosto a outubro foram influenciadas principalmente (mas não unicamente) pelos aumentos nos preços dos derivados de petróleo nas refinarias, sobretudo em agosto e setembro. Em 12 meses, o IPP acumula redução de 6,09%.

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Tendência revertida

No período entre janeiro e novembro do ano passado, entre os 24 setores acompanhados pelo IBGE, dois terços (ou 16 setores) registraram preços industriais em queda, com alta para um terço deles. Entre outubro e novembro, o balanço altera-se radicalmente, com o número de setores com alta de preços saindo de 14 para dez. No terreno negativo, apenas dez chegaram a apresentar queda em outubro, total elevado para 13 em novembro. Um 14º setor surge com preços estáveis, enquanto o setor de bebidas anotou variação de somente 0,1% – o que, na prática, pode ser considerado como estabilidade virtual. Tudo somado, 15 dos 24 setores (62,5%) anotaram preços em baixa ou estáveis, numa reversão em relação aos meses anteriores.

Balanço

  • O saldo crédito ampliado contratado por empresas, famílias e pelo setor público, incluindo empréstimos do sistema financeiro e outras formas de financiamento (como a colocação de títulos por empresas e governos), voltou a crescer em novembro, embora proporcionalmente ao Produto Interno Bruto (PIB) os números continuem inferiores àqueles observados em igual período do ano passado.
  • Na série do Banco Central (BC), o saldo ampliado da dívida total no País avançou 1,9% entre agosto e novembro do ano passado, avançando 1,38% em relação a outubro, passando a somar R$ 15,829 trilhões, o que representou 146,5% do PIB, saindo de 145,4% no mês imediatamente anterior. Em 12 meses, o saldo cresceu 7,18% na comparação com R$ 14,768 trilhões em novembro de 2022. Mas a relação daquele saldo com o PIB havia alcançado então perto de 147,8%. Mas nem por isso as correntes mais conservadoras do pensamento econômico recorrerem a esse dado para tentar mostrar que o País caminha para o buraco, prestes a “quebrar” por suposto endividamento excessivo.
  • Somadas, o saldo do crédito ampliado em poder de empresas e das famílias passou a representar 58,10% do total em novembro, o que se compara com 57,76% em agosto do ano passado, muito próximo do dado de novembro de 2022, quando representava 58,15% do crédito total.
  • Na comparação com novembro de 2022, a velocidade de crescimento do crédito ampliado apresentou nítida tendência de desaceleração quando se considera a taxa acumulada nos 12 meses imediatamente anteriores. Entre novembro de 2021 e o mesmo período do ano seguinte, o saldo havia crescido a uma taxa anual de 10,32%. No período seguinte, a variação foi reduzida para 7,18%.
  • Esse movimento foi comandado pelo mundo corporativo e pelas famílias, com o saldo do crédito contratado pelo governo anotando alguma aceleração. Por segmento, o crédito mais amplo concedido às famílias havia aumentado 17,5% entre 2021 e 2022 e passou a crescer 9,35% de novembro 2022 para novembro de 2023. Em valores nominais, o crédito para as famílias saiu de R$ 3,390 trilhões para R$ 3,707 trilhões, passando a representar 34,3% do PIB (frente a 33,9% no mesmo mês de 2022).
  • No caso das empresas, o saldo avançou de R$ 5,197 trilhões para R$ 5,490 trilhões entre novembro de 2022 e o mesmo mês do ano passado, numa variação de 5,63%. Nos 12 meses anteriores, a alta havia sido de 11,51%. A relação entre o saldo do crédito ampliado das empresas e o PIB, no entanto, baixou de 52,0% para 50,8%.
  • A relação entre dívida ampliada e PIB dos governos recuou ligeiramente de 61,9% para 61,4% entre novembro de 2022 e igual mês de 2023, com o saldo passando de R$ 6,181 trilhões para R$ 6,632 trilhões, numa variação de 7,30%. Contrariando a tendência do setor privado, esse saldo havia registrado elevação de 5,77% na comparação entre novembro de 2022 e igual período de 2021. Como curiosidade, o dado do BC para a dívida bruta do governo geral, em outubro do ano passado, apontava um saldo devedor de R$ 7,913 trilhões, em torno de 19% mais alto do que o dado de novembro registrado para novembro do mesmo ano, e representava 74,7% do PIB.