Produção industrial encolhe 4,8% entre maio e dezembro em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de fevereiro de 2023

O dado final da produção industrial em 2022, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em mais uma edição de sua pesquisa mensal sobre o desempenho regional do setor, não conta toda a história da indústria em Goiás ao longo do ano passado. Nos 12 meses de 2022, comparado ao ano imediatamente anterior, a pesquisa aponta uma variação positiva de 1,4% para a produção da indústria no Estado, o que se compara com o recuo de 0,7% observado para todo o restante do setor no País.

O resultado acumulado no ano passado parece sugerir uma recuperação, especialmente quando se considera que a produção havia sofrido baixa de 3,9% em 2021, mais do que devolvendo o modesto incremento de 1,6% alcançado em 2020, na fase mais aguda da crise trazida pelo vírus da Covid-19. Numa observação adicional, o resultado de 2022 não foi suficiente para recompor os níveis de produção de 2020, considerando que o tombo registrado em 2021 foi muito mais intenso do que a reação registrada um ano mais tarde.

O dado explica, por exemplo, porque o nível da produção realizada pela indústria em dezembro de 2022 mantinha-se perto de 7,4% abaixo do volume produzido em fevereiro de 2020, antes da pandemia. A observação da série de comparações sobre a mesma base de referência (o segundo mês de 2020) sugere que a indústria goiana literalmente quase não saiu do lugar desde janeiro de 2021. Naquele mês, a distância frente a fevereiro de 2020 indicava um recuo de 7,1%.

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Ao longo do ano passado, a produção registrou seu melhor momento em maio, depois de avançar em torno de 3,2% na comparação com abril, já desconsiderados fatores sazonais que poderiam de alguma forma distorcer esse tipo de comparação. Em dezembro, no entanto, os volumes produzidos pela indústria no Estado acumulavam baixa de 4,8% frente a maio. A série histórica da pesquisa, iniciada em 2002, aponta ainda um tombo de 11,6% quando são comparados os dados do último mês do ano passado e outubro de 2019, quando a produção da indústria em Goiás havia atingido os volumes mais elevados em sua trajetória.

Desaceleração

A produção goiana sofreu desaquecimento vigoroso no final de 2022, fazendo murchar o crescimento acumulado no ano. A bem da verdade, a produção desabou em dezembro, com baixa de 3,7% em relação a novembro, quando registrou-se estagnação (crescimento zero diante de outubro), e tombo de 10,2% diante do último mês de 2021. Foi uma tendência inversa àquela observada no final daquele ano, já que a produção havia avançado 11,5% na passagem de novembro para dezembro de 2021. A taxa de crescimento acumulada em 12 meses, que havia alcançado 2,6% até novembro, passou a indicar variação de 1,4%. Trimestre a trimestre, a indústria veio pisando no freio, após experimentar alguma aceleração relativa na primeira metade do ano.

Balanço

  • No primeiro trimestre de 2022, a produção industrial em Goiás havia avançado 0,6%, no primeiro resultado positivo após quatro trimestres consecutivos de perdas em 2021. Numa retrospectiva, a indústria havia sofrido perdas de 5,4%, de 3,3% e de 5,0% no primeiro, segundo e terceiro trimestres de 2021, pela ordem, com o ritmo de queda perdendo intensidade no trimestre final daquele ano, mas ainda com redução de 1,7% sempre em relação aos mesmos períodos de um ano antes.
  • Depois de registrar aquela elevação modesta de 0,6%, a indústria passou a crescer a uma velocidade de 1,8% e 1,9% no segundo e terceiro trimestres, respectivamente. Mas voltou a sofrer desaquecimento nos três meses finais do período, diante de uma variação de 0,7% anotada pela indústria frente ao trimestre final de 2021.
  • A desaceleração relativa pode estar relacionada a uma base mais elevada, considerando o salto de 11,5% observado na saída de novembro para dezembro de 2021. Mas a série mais longa de dados parece indicar que os problemas são mais profundos e duradouros, com o setor enfrentando nítida dificuldade para sustentar níveis de crescimento mais alentados ao longo do tempo.
  • Estruturalmente, os fatores não diferem daqueles que atingem a indústria em todo o País, com o fim de toda e qualquer política industrial, condenada pelo neoliberalismo que tomou conta do País; uma relação entre dólar e real que, em grande parte das últimas décadas, favoreceu as importações; crédito caro e juros na estratosfera, levando o setor a adotar estratégias defensivas, na descrição do saudoso David Kupfer, baseadas em reduções irracionais de custos (e investimentos) e privilégio à geração de resultados de curto prazo.
  • No caso goiano, o cenário se complica em função da notória incapacidade de agregar setores de maior conteúdo tecnológico, com a maior fatia do valor da produção industrial concentrada em alimentos e demais produtos de base agropecuária e mineral.
  • Retomando a pesquisa mensal do IBGE, o avanço de 1,4% acumulado nos 12 meses do ano passado esteve largamente concentrado em dois setores, contemplando, não por coincidência, fabricantes de produtos alimentícios e biocombustíveis (etanol e biodiesel). Agregados, os dois segmentos contribuíram 1,9 pontos para o crescimento registrado pela indústria como um todo no ano passado, o que significa dizer que todo o restante do setor sofreu recuo de 0,5%.
  • Comparada a 2021, a produção de alimentos avançou 1,5%, enquanto o setor de biocombustíveis experimentava salto de 6,4%. Como registro, tomando apenas o mês de dezembro, a produção havia despencado 6,1% no setor alimentício e 10,3% para as usinas de etanol e biodiesel, olhadas em conjunto.
  • Não foi “demérito” daqueles dois setores: seis entre os nove ramos industriais acompanhados em Goiás pelo IBGE sofreram perdas na comparação entre dezembro de 2022 e o mesmo mês de 2021, destacando-se os tombos de 54,7% e de 24,6% registrados pelas indústrias de veículos e de extração mineral, respectivamente.
  • Nos 12 meses de 2022, metalurgia, outros produtos químicos (adubos e fertilizantes, principalmente) e veículos (novamente) registraram baixas, pela ordem, de 2,3%, 14,8% e 6,1% diante de 2021.