Produção industrial parou de crescer nos últimos 12 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 06 de setembro de 2023

Os resultados negativos ou no mínimo muito tímidos do setor industrial nos últimos meses, demonstrando incapacidade para reagir a um ambiente macroeconômico ainda pouco amigável para a indústria em geral, levaram à estagnação da produção quando considerado o período de 12 meses terminados em julho deste ano. Comparada com os 12 meses imediatamente anteriores, a produção registrou variação nula. Simplesmente, a indústria não saiu do lugar, com resultados mais negativos para o segmento de bens de capital, setor responsável pela produção de máquinas e equipamentos em geral para todo o restante da economia, além de fabricar caminhões e ônibus, indicando que o investimento se mantém em níveis muito reduzidos.

A produção recuou 0,6% em julho em relação a junho, quando havia anotado variação zero, repetindo os volumes produzidos em maio. Na comparação com julho do ano passado, a pesquisa industrial mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou redução de 1,1%, com a indústria em geral acumulando recuo de 0,4% nos sete primeiros meses deste ano em relação a igual período de 2022. Os dados da pesquisa, reforça o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), indicam “a permanência de um quadro adverso no setor”.

Essa longa sequência de dados ruins, anota o Iedi, “nada mais é do que a consequência de um conjunto muito amplo de distorções da nossa macroeconomia sobre o setor”. A queda modesta dos juros básicos não alterou fundamentalmente o cenário de custos de capital exacerbadamente elevados e nem se poderia esperar que isso de fato viesse a ocorrer num espaço de tempo tão curto. A expectativa é de que os juros do crédito se mantenham em níveis reais (depois de descontada a inflação) elevados até pelo menos os primeiros meses do próximo ano, mesmo que o Banco Central (BC) confirme a política de cortes regulares de meio ponto percentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

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Constrangimentos

As “altas taxas de juros dos financiamentos para a indústria”, registra ainda o Iedi, continuam sendo um fator de constrangimento para a atividade no setor, “bem como o enorme ônus que o setor carrega devido à tributação que outras atividades relevantes, como a agricultura e os serviços, não carregam”. Numa visão até otimista, o Iedi considera que, “se viermos a ter um avanço célere nestes dois campos (juros e carga tributária sobre a indústria), que não esgotam os fatores que estão travando a produção, mas que são importantes, podemos assistir a um setor industrial crescendo novamente”.

Balanço

  • O retrocesso observado na indústria de bens de capital, sinalizando níveis decrescentes de investimento, volta a colocar em destaque o fato de que o baixo desempenho do setor industrial como um todo, durante um período de tempo mais do que alongado, pode estar sacrificando as possibilidades de crescimento futuro não só da indústria, mas da economia como todo – a não ser que o País decida mesmo consolidar sua opção por um caminho que tende a eternizar baixas taxas de crescimento ao continuar apostando em setores de baixo dinamismo e menor nível de desenvolvimento tecnológico.
  • A produção de bens de capital sofreu tombos de 15,3%, 11,3%, 11,1% e de 16,9% respectivamente em abril, maio, junho e julho deste ano em relação aos mesmos meses do ano passado. Na verdade, o setor experimentou em julho, no mesmo tipo de comparação, o 11º mês consecutivo de perdas. Nos sete meses iniciais deste ano, comparados aos mesmos meses do ano passado, a produção do setor despencou 10,8%, passando a anotar um tombo de 6,7% em 12 meses.
  • Se a produção industrial em geral não conseguiu retomar os níveis anteriores à pandemia, anotando queda ainda de 2,3% na comparação entre julho deste ano e fevereiro de 2020, o setor de bens de capital continuava, em julho deste ano, ainda 6,90% distante daqueles níveis. Comparada a seu melhor momento, anotado em abril de 2013, a produção de bens de capital despencou 39,1%.
  • Na média de todo o setor industrial, a produção aproxima-se de uma perda de 19,0% em relação a maio de 2011. Na verdade, nenhum dos grandes setores da indústria conseguiu até aqui reeditar seus melhores resultados na série histórica do IBGE. A produção de bens intermediários, por exemplo, continuava em julho 16,1% abaixo dos volumes produzidos em maio de 2011. A produção de duráveis despencava 42,1% em relação àquele mesmo mês de 2011, com redução de 13,4% para a produção de bens semi e não duráveis na comparação com junho de 2013.
  • Comparadas a junho, a produção de bens intermediários recuou 0,6%, com baixa de 4,1% para os bens duráveis e elevação de 1,5% no setor de semi e não duráveis. Tomando julho do ano passado como base, na mesma sequência, a produção registrou zero de variação no setor de bens intermediários, recuando 3,5% e 0,3% nos outros dois setores já listados.
  • Para registro, a produção de bens duráveis já havia sofrido baixa de 4,0% em junho, em relação ao mesmo mês do ano passado, antes de cair 3,5% em julho. A produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, na comparação com o mês imediatamente anterior, caiu 3,4% em junho e 6,5% em julho. Se comparada ao mesmo mês do ano passado, as quedas foram de 5,2% e de 9,5% em junho e julho respectivamente. O desempenho mostra que a redução temporária de impostos sobre automóveis, se ajudou a ampliar as vendas momentaneamente, não teve reflexos sobre a produção.
  • Em agosto, agora no dado da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de veículos leves caiu 3,2% frente a julho e 14,1% em relação a agosto de 2022. A produção de caminhões e ônibus, da mesma forma, baixou pela ordem 4,0% e 2,4% na saída de julho para agosto, com tombos de 47,0% e de 39,2% diante de agosto de 2022. Sinais nada promissores para o desempenho da indústria como um todo.