Coluna

Produtor vende soja a ser colhida em 2021 para assegurar mercado

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 17 de janeiro de 2020

Depois de bater recorde na safra 2019/20, na série histórica trabalhada pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), com elevação de 10,4% frente ao ano agrícola anterior, o custo operacional médio das lavouras de soja em Mato Grosso, maior produtor nacional do grão, responsável por 28% da produção brasileira na safra passada, tende a recuar levemente no ciclo 2020/21, saindo de R$ 3.498 para R$ 3.466, mantendo-se ainda em níveis elevados se comparado a um gasto pouco acima de R$ 3,1 mil nas safras 2017/18 e 2018/19.

A busca de uma melhor composição entre preços e custos e os temores de que o acordo entre Estados Unidos e China (muito embora seus efeitos para o Brasil ainda não estejam muito claros) venha a reduzir as oportunidades de venda para o mercado chinês levaram os produtores a negociar antecipadamente a soja que será colhida apenas no começo do próximo ano. Ao longo de 2019, o Brasil exportou para a China perto de 57,960 milhões de toneladas do grão, correspondendo a 78,3% das exportações totais do produto (pouca coisa acima de 74,0 milhões de toneladas).

Segundo acompanhamento semanal realizado pelo Imea, até o final da semana passada, dado mais recente disponível, os produtores já haviam fechado contratos para a venda antecipada de qualquer coisa ao redor de 4,82% da produção estimada, “volume nunca antes observado para este período na série histórica”, destaca o instituto. Se for considerada uma produção próxima das 33,0 milhões de toneladas projetadas para a safra 2019/20, isso significa a negociação de 1,6 milhão de toneladas, em grandes números.

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Houve uma nítida aceleração no ritmo dos negócios com a safra 2020/21 entre o último mês de 2019 e o primeiro deste novo ano, já que o percentual negociado havia alcançado apenas 0,17% em dezembro. As negociações para venda da safra em curso, da mesma forma, avançaram de 51,1% para 59,1% da produção esperada para este ano, percentual que se compara com 46,62% em janeiro de 2019 (neste caso, os dados referem-se à safra 2018/19, já colhida).

Preços estimulantes

Segundo anota o Imea, mesmo a queda nos preços do dólar no final do ano não foi suficiente para esfriar o ânimo dos produtores, estimulados pela alta dos preços da soja em Chicago “e pela boa relação de troca com os fertilizantes”. Os preços futuros em Chicago sinalizam, por enquanto, a perspectiva de alguma variação positiva para a safra a ser entregue em março do próximo ano, com a média dos contratos alcançando valores em torno de US$ 9,49 por bushel (perto de 2,7% acima dos valores registrados para os contratos com entrega em março deste ano, cotados a US$ 9,24). Na média, os produtores de Mato Grosso têm conseguido preços estimulantes para a soja a ser colhida neste ano, com os contratos registrando valor médio de R$ 71,69 por saca em dezembro, na contabilidade do Imea (alta de 0,79% frente ao mês anterior). Os preços fixados para a soja a ser entregue em 2021 chegaram a R$ 70,77 por saca, subindo 1,03% em relação a novembro (mas 1,3% abaixo do valor negociado a soja da safra atual).

Balanço

·   O custo operacional de produção do milho na safra 2019/20, ainda a ser plantada em Mato Grosso, deverá experimentar alta de 11,8% em relação ao ciclo anterior, passando de R$ 2.414 para R$ 2.700 por hectare, o que corresponde a R$ 22,26 por saca, considerando uma produtividade média de 121,29 sacas por hectare.

·   Apenas do aumento nos custos, as margens de lucratividade tendem a ser bastante favoráveis, já que os preços da saca de milho no mercado da região estavam quase 49% mais elevados do que o custo operacional médio, girando ao redor de R$ 33 por saca.

·   A boa relação entre preços pagos e custos por saca a ser colhida igualmente fez acelerar as negociações para venda da safra deste ano. Até o começo de janeiro, os produtores do Estado já haviam negociado praticamente 56,9% da produção esperada, diante de 40,66% em janeiro do ano passado.

·   A considerar a previsão do Imea para Mato Grosso, em torno de 31,6 milhões de toneladas de milho (quase 2,0% menor do que a safra de 2018/19), os produtores já teriam negociado algo como 18,0 milhões de toneladas, sempre em números aproximados.

·   No ano passado, o Estado respondeu por 56,5% de toda a exportação de milho do País, que bateu recorde ao atingir 43,254 milhões de toneladas. Saíram de Mato Grosso 24,434 milhões de toneladas do grão (alta de 44,1% frente a 2018). E quase metade desse volume (mais precisamente, 47,7%) foram embarcados a partir de terminais e portos instalados no chamado Arco Norte, desafogando os portos das regiões Sul e Sudeste.

·   Em 2018, a saída pela Norte movimentou 31,1% do milho exportado pelo Estado. Entre os dois anos, esse volume mais que dobrou, saltando de 5,271 milhões para 11,651 milhões de toneladas (121% a mais).

No caso da soja, os volumes despachados pela chamada “saída Norte” avançaram de 45,4% para 47,8% do total exportado, com alta de 7,1% (de 8,921 milhões para 9,558 milhões de toneladas).