Produtos de base agrícola concentram quase 83% das exportações da indústria

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de janeiro de 2024

A adoção de políticas agressivas de incentivos fiscais ao longo de décadas, com a distribuição de bilhões de reais em benefícios tributários, praticamente não gerou impactos desejáveis sob o ponto de vista do comércio exterior, com mudanças contestáveis na estrutura da indústria goiana, mantendo a baixa diversificação e complexidade, refletida numa concentração crescente das exportações da indústria de transformação em bens de base agropecuária. Se em 2022 essa classe de produtos chegou a responder por quase 69,5% das exportações totais da indústria goiana de transformação, a participação elevou-se para 82,95% no ano passado, o que ajudou a impulsionar o superávit na balança comercial do setor como um todo.

As vendas externas de bens de base agropecuária, notoriamente produtos de baixa agregação de valores e de conteúdo tecnológico proporcionalmente mais reduzido, subiram de US$ 4,409 bilhões para US$ 4,915 bilhões, num aumento de 2,85% (em torno de US$ 125,522 milhões adicionais). Os volumes exportados nesta área aumentaram de 4,470 milhões para 4,915 milhões de toneladas, numa alta de 9,94%. O resultado final dessa conta foi determinado ainda pela queda de 6,45% nos preços médios dos bens exportados, seguindo a tendência de redução nas cotações das principais commodities no mercado internacional. 

A despeito do aumento vigoroso no saldo entre exportações e importações da indústria como um todo, os números reforçam alguma deterioração na qualidade dos resultados colhidos ao longo do ano passado, com perdas paras as exportações e queda igualmente nas importações. Neste último caso, a redução ficou concentrada nas compras de adubos importados, influenciada pelo tombo nos preços médios no mercado internacional, combinado com os menores volumes adquiridos no exterior pelo agronegócio.

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A indústria goiana reduziu suas exportações em 7,06% no ano passado, para um total próximo a US$ 5,925 bilhões, saindo de pouco mais do que US$ 6,375 bilhões em 2022, o que representou uma perda de receitas ao redor de US$ 450,320 milhões. O setor de transformação, em consequência, perdeu participação na pauta de exportações do Estado, saindo de uma fatia de 45,06% em 2022 para 42,79%. Como se recorda, as vendas externas totais do Estado recuaram 2,13% no período, recuando para US$ 13,846 bilhões.

Alta nada virtuosa

As importações da indústria, lideradas por produtos farmacêuticos, adubos, veículos, tratores, suas peças e acessórios, baixaram ainda mais fortemente, num tombo de 16,11% na saída de 2022 para 2023, caindo de US$ 5,739 bilhões para US$ 4,814 bilhões. Como as importações totais do Estado baixaram 18,37%, para US$ 4,883 bilhões, a participação da indústria nas compras externas avançou de 95,95% para 98,60%. A redução do gasto em dólar com a entrada de bens importados, como se pode perceber, foi mais de duas vezes superior à perda de receitas na exportação, atingindo algo em torno de US$ 924,572 milhões. E essa diferença foi fundamental para alavancar o saldo comercial da indústria, num ganho muito embora motivado por fatores nem tão positivos assim. Obviamente, seria preferível que o aumento no superávit viesse como consequência de crescimento tanto das exportações quanto das importações, reforçando a chamada “corrente de comércio” e impulsionando os negócios de forma geral na indústria. Não foi o que ocorreu, como mostram os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Balanço

  • A diferença entre exportações e importações, positiva no caso da indústria de transformação, aumentou nada menos do que 74,51% entre 2022 e 2023, saltando de US$ 636,509 milhões para algo levemente inferior a US$ 1,111 bilhão. Diante desse avanço – e já que o saldo comercial total do Estado avançou bem menos, algo na faixa de 9,8% –, a indústria passou a ser responsável por 12,39% do superávit comercial total, diante de uma fatia de 7,79% em 2022.
  • Considerando a balança comercial como um todo, mesmo excluindo-se as compras de adubos, o valor restante das importações realizadas pelo Estado variou modestamente. Na prática, registrou-se uma estabilidade quase virtual, já que as compras externas saíram de US$ 3,982 bilhões para US$ 4,008 bilhões, variando 0,64% (reforçando, com a exclusão das compras de adubos, conforme detalhado a seguir).
  • No ano passado, como já registrado aqui, as importações de adubos desabaram 56,24%, com queda de 15,48% nos volumes importados e tombo de 48,22% no preço médio de cada tonelada importada. Esse comportamento influiu decisivamente no desempenho das importações do setor industrial. Em 2022, os gastos com adubos importados, na faixa de US$ 1,999 bilhão, responderam por 34,84% das importações totais da indústria de transformação, fatia que murchou no ano passado para 18,18%, já que aquele tipo de gasto havia despencado para US$ 875,030 milhões – ou seja, em torno de US$ 1,124 bilhão a menos.
  • Excluindo-se os adubos da conta, o restante da indústria importou pouco mais de US$ 3,739 bilhões em 2022, valor elevado em 5,34% no ano seguinte, para US$ 3,939 bilhões, significando um incremento de US$ 199,714 milhões. A principal contribuição para esse crescimento veio do aumento de 30,10% nas importações de produtos farmacêuticos, que saiu de US$ 1,274 bilhão para US$ 1,657 bilhão (cerca de US$ 383,424 milhões a mais). Essa classe de produtos passou a representar 34,43% das importações da indústria, diante de 22,20% em 2022.
  • Na ponta das exportações, excluídos os bens de origem agropecuária, as vendas externas restantes desabaram 29,28%, saindo de US$ 1,967 bilhão para US$ 1,391 bilhão. Pesaram aqui as quedas de 51,5% e de 8,63% nas exportações, respectivamente, de outo e cobre e seus concentrados.
  • A indústria igualmente teve os termos de troca deteriorados no ano passado, como reflexo da queda mais intensa nos preços médios dos bens exportados, num recuo de 14,86%, diante da redução de 5,14% nos preços de cada tonelada importada pelo Estado. O custo médio dos bens importados, que havia sido 26,4% mais elevado do que o preço de cada tonelada exportada em 2022, passou a superar o valor médio das exportações em 40,80%.