Coluna

Queda das vendas em março reflete (apenas) duas semanas de isolamento

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 14 de maio de 2020

Os
maus resultados colhidos pelo varejo em março já eram esperados diante da parada
quase completa dos negócios a partir do início da segunda metade de março – e
esta é uma informação tão relevante quanto os números trazidos agora pela
pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Os números, apenas para deixar claro, refletem duas semanas
de paralisação de boa parte do varejo, resultado das medidas de isolamento
social adotadas nos Estados para tentar conter o avanço da pandemia. Também
conforme aguardado, tiveram destaque as vendas de alimentos, produtos de
limpeza e higiene, concentradas em hiper e supermercados, e ainda as vendas de
produtos farmacêuticos.

Os
números de abril tendem a ser ainda muito negativos, diante de um período mais
longo de afastamento social (comparativamente a março), podendo-se antever
certo alívio temporário nas semanas iniciais de maio, diante da adoção de
medidas de afrouxamento que algumas regiões vieram adotando a partir do final daquele
mês. A questão, neste ponto, é que o crescimento dos casos de contaminação e
das mortes têm levado a novo período de endurecimento das medidas de
isolamento, com perdas igualmente mais severas sobre a atividade econômica,
tornando o futuro imediato ainda mais incerto.

Parece
haver certa concordância, ao menos em setores mais lúcidos, de que medidas de
enfrentamento mais duras no início retardariam o ritmo das contaminações,
preservando vidas e permitindo uma retomada das atividades econômicas de forma
mais consistente e segura numa etapa seguinte. Como parte dessa estratégia, o
apoio do setor público para dar condições de sobrevivência a empresas e
famílias mais vulneráveis seria fundamental, desde que provido de forma
coordenada e eficiente, o que aliviaria os impactos inevitáveis da crise
sanitária sobre a economia. Bem, não foi exatamente o caminho escolhido pelo
governo brasileiro, perdido entre a simples negação dos riscos da coronavírus e
dogmas fiscais ultrapassados.

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Retração no
varejo

Em
todo o País, as vendas do chamado varejo tradicional registraram em março um
recuo de 2,5% frente a fevereiro, na maior queda desde março de 2003 nesse tipo
de comparação. Ali, as vendas chegaram a cair 2,71%.Os números, observa o Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), parecem indicar desempenho
“menos adverso do que os da indústria e o de serviços”. Mas apenas no setor de
varejo “restrito”, complementa, porque o varejo ampliado (que inclui concessionárias
de veículos, motos, autopeças e lojas de materiais de construção) sofreu
“retrocesso intenso”. De fato, as vendas do varejo ampliado desabaram 13,7% na
saída de fevereiro para março, caindo 6,3% em relação a março do ano passado.
As perdas chegaram a 36,4% para as concessionárias de veículos e motos e de
17,1% para materiais de construção, na comparação com fevereiro, e ainda quedas
de 20,8% e de 7,6%, respectivamente, agora em relação a março do ano passado.

Balanço

·  
Em
Goiás, as vendas do varejo restrito caíram 6,1% de fevereiro para março e 8,4%
frente a março do ano passado (o sexto pior desempenho entre as demais regiões
pesquisadas), ambas variações muito mais severas do que a média do País. O
motivo aparente para isso parece estar relacionado ao desempenho menos positivo
do setor de hiper e supermercados no Estado.

·  
O
volume vendido pelo segmento em Goiás aumentou 5,6% em março, na comparação com
igual período do ano passado, mas acumulou recuo de 1,2% no primeiro trimestre.
No País como um todo, o setor apresentou avanço de 11,1% (crescendo 4,1% no
trimestre).

·  
Na
comparação com março de 2019, os números em Goiás foram piores também nos
setores de combustíveis e lubrificantes, com queda de 13,1% (frente a uma baixa
de 11,2% no País como um todo); tecidos, vestuário e calçados (-49,8% em Goiás
e -39,6% no resto do País); móveis e eletrodomésticos (-16,4% no Estado frente
a -12,1%); e farmácias (avanço de 3,7% no Estado e salto de 12,1% no País).

·  
No
varejo ampliado, ao contrário, diante do comportamento mais favorável observado
para as vendas de veículos, motos e autopeças, o Estado anotou recuo de 6,3% de
fevereiro para março em Goiás, enquanto despencava 13,7% em todo o País.

·  
Em
relação a março do ano passado, as vendas no varejo ampliado baixaram 4,8% no
Estado (relativamente menor do que o tombo de 6,3% registrado em todo o País). O
setor de veículos avançou 2,4% em relação a março do ano passado em Goiás, bem
melhor do que a retração de 20,8% registrada em todo o País.As lojas de
materiais de construção caíram 3.1% no Estado, mas chegaram a baixar 7,6% na
média do País.

·  
De
acordo com o IBGE, entre as empresas que responderam à questão sobre os motivos
da queda das receitas de vendas em março, 43,7% delas “apontaram a crise de Covid-19
como justificativa. Esta parcela tende a aumentar a partir de abril, quando o
isolamento social passou a atingir a integralidade do mês nos principais
centros urbanos do País”, anota o Iedi.

·  
Batido
pela realidade, o Ministério da Economia revisou sua previsão para a economia
brasileira neste ano, passando a indicar queda de 4,5% para o Produto Interno
Bruto (PIB). As previsões anunciadas em março e abril pelo ministério indicavam
elevação de 1,8% e, na sequência, redução de 3,3%.

·  
Entre
outros efeitos, a projeção deverá corresponder a uma baixa de R$ 188,7 bilhões
na receita líquida esperada para este ano pelo governo federal, caindo 13,7%
frente a R$ 1,376 trilhão projetados em março, para R$ 1,188 trilhão. Como as
despesas tendem a ser R$ 292,8 bilhões mais elevadas, somando R$ 1,759 trilhão,
o déficit primário deve sair de R$ 87,8 bilhões para R$ 571,4 bilhões.