Coluna

Receita com exportação de serviços de engenharia desaba 55% desde 2014

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 23 de dezembro de 2019

A
exportação de serviços de engenharia exige especialização, qualificação,
sofisticação e a montagem, internamente, de empresas altamente preparadas para
enfrentar uma guerra praticamente sem limites por espaços num mercado, por sua
vez, amplamente dominado por grandes grupos internacionais. Mesmo assim,
enfrentando toda a sorte de diversidade, o Brasil havia conseguido multiplicar
as vendas externas líquidas de serviços naquela área, já descontadas das
importações realizadas no mesmo setor, por cinco vezes entre 2004 e 2014. Mas o
desempenho murchou drasticamente nos anos seguintes, no mesmo ritmo de avanço
da criminalização de toda e qualquer operação de financiamento de exportações
no setor.

As
séries estatísticas do Banco Central (BC) confirmam a forte evolução observada
no período anterior, indicando a contribuição vigorosa do setor para o balanço
de transações correntes (a conta que reúne todas as operações de um país com o
restante do mundo, excluídas apenas transações de caráter financeiro, a exemplo
de investimentos e aplicações diversas em fundos, títulos privados e públicos e
ações). Em 2004, a indústria de engenharia trouxe para o Brasil receitas
líquidas de US$ 2,504 bilhões, o que correspondeu, a valores da época, a
qualquer coisa próxima a 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB), quer dizer, do
total e “riquezas” geradas pelas empresas e pelos cidadãos brasileiros então.

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Ao
final de 2014, aquela contribuição havia saltado para US$ 12,651 bilhões,
passando a representar pouco mais de 0,5% do PIB (os valores são aferidos em
dólares da época pelo BC e podem não expressar toda a relevância desse tipo de
atividade para a economia doméstica diante das oscilações comumente observadas
no mercado do dólar). Em valores não ajustados, houve um salto de 405,2% no
período. Comparada a 1999, a receita com a venda de serviços de arquitetura e
de engenharia no exterior chegou a avançar nada menos do que 721%.

Depois, o
desmanche

Os
impactos para a economia brasileira foram mais amplos, no entanto. Os números
brutos permitem uma visão apenas parcial dos resultados reais, já que a
exportação final envolve uma série de empresas e fornecedores aqui dentro,
dedicados à produção de máquinas, equipamentos, instrumentos e aparelhos
destinados a realização de obras de engenharia pesada fora do País, com elevado
valor agregado, níveis mais altos de sofisticação tecnológica, geração de
empregos qualificados e melhor remunerados aqui dentro. Essa experiência foi se
perdendo ao longo dos anos seguintes, com o desmanche do setor. Nos primeiros
11 meses deste ano, as exportações líquidas de serviços de arquitetura e engenharia
somaram US$ 5,209 bilhões, num tombo de 54,97% em relação aos US$ 11,568
bilhões acumulados entre janeiro e novembro de 2014. A contribuição do setor
para a conta de transações correntes voltou a níveis próximos a 0,3% do PIB, no
pior resultado para o período desde 2006.

Balanço

·  
Proporcionalmente
ao PIB (feita a ressalva das distorções geradas pelo câmbio sobre o valor
nominal do volume total de riquezas que o País produz a cada ano), o setor
retornou praticamente à relação observada no final dos anos 1990. As perdas
para o conjunto da economia certamente terão sido mais graves, o que exigirá,
quando isso for possível, estudos isentos e análises de maior fôlego.

·  
De
volta ao curtíssimo prazo, horizonte preferido de 9 entre cada dez “estrelas”
do “comentarismo” econômico de mercado, a alta da inflação nos últimos dois
meses do ano ganhou destaque nas últimas semanas. Mas deve ser lembrado que a
taxa decorreu de fatores isolados, que tendem a ser revertidos nas próximas
semanas, fazendo a inflação retornar a níveis muito bem-comportados, até porque
os fatores que determinaram sua queda nos últimos meses ainda se encontram
presentes (a saber, a baixa demanda, a alta ociosidade nas fábricas, o
desemprego muito acima da média histórica e a ausência de focos de pressão mais
preocupantes no horizonte visível).

·  
O
Índice Nacional de Preços ao Consumidor-15 (IPCA-15) de dezembro, como se sabe,
atingiu 1,05% sob pressão, sobretudo,da alta nos preços das carnes, mas também
do salto nos preços dos jogos de azar e do aumento das passagens aéreas (que,
muito obviamente, costumam subir em períodos de férias, festas e feriados –
muito especialmente nos finais de ano).

·  
Os
três itens responderam por 67,2% da taxa acumulada entre 12 de novembro e 11 de
dezembro deste ano, comparada às quatro semanas imediatamente anteriores,
praticamente a mesma contribuição registrada ao longo dos 30 dias de novembro.

·  
Os
efeitos desses aumentos ainda deverão “contaminar” o índice final de dezembro,
elevando a inflação acumulada em 12 meses para algo próximo a 4,0% e ainda
abaixo do centro da meta inflacionária.

·  
A
tendência para as semanas seguintes, no entanto, é de que o índice retome
praticamente seu curso “normal”, coma inflação voltando a girar em torno de
3,0% a 3,5% ao ano (para uma meta de 4,0% em 2020).

O Itaú BBA espera que o IPCA de janeiro já recue
para 0,24%, com esvaziamento das pressões das carnes (lideradas pela carne
bovina) e dos jogos de azar.