Recorde em janeiro sinaliza bons números no setor externo em 2024

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 21 de fevereiro de 2024

Os dados iniciais da balança comercial brasileira, na visão do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), detalhada na edição mais recente de seu Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado ontem, sinalizam que o setor externo brasileiro tende a experimentar “um cenário favorável no presente ano”. Mas aponta igualmente uma tendência mais preocupante de ampliação da dependência em relação ao mercado chinês, uma contribuição mais intensa de um grupo reduzido de produtos no desempenho exportados e uma importação crescentemente concentrada em bens de consumo duráveis e semiduráveis, tomando emprestado dados de um trabalho desenvolvido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em janeiro deste ano, as exportações superaram as importações por uma diferença de US$ 6,527 bilhões, o mais elevado da série histórica para o mês desde 1997, o que “confirma a expectativa de um cenário favorável”, reforça o boletim. O superávit experimentou um salto de 185,6% em relação ao saldo de US$ 2,845 bilhões registrado no primeiro mês do ano passado. A China, aqui incluídos Hong Kong e Macau, respondeu por 41,13% de todo o superávit brasileiro e ainda foi responsável por 60,0% do avanço experimentado pela balança comercial brasileira (exportações menos importações).

Os grandes números da balança em janeiro mostram um incremento de 18,51% para as vendas externas, que saíram de US$ 22,796 bilhões para US$ 27,016 bilhões, num incremento de US$ 4,220 bilhões. Numa tendência já em vigor desde o ano passado, as exportações foram movidas muito mais pelo aumento dos volumes embarcados, que cresceram 21,1% nos cálculos do Icomex, já que os preços médios recuaram 2,0% – numa intensidade menor do que o tombo registrado no lado das importações. As compras externas praticamente repetiram os números de janeiro do ano passado, mantendo-se em torno de US$ 20,490 bilhões diante de US$ 20,511 bilhões no mês inicial de 2023. Os volumes importados até cresceram com certo vigor, variando 9,7%, mas os preços médios dos bens importados sofreram baixa de 8,8%.

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China dependência

O mercado chinês foi o destino de 29,19% das exportações totais do Brasil, atingindo US$ 7,886 bilhões em janeiro passado frente a US$ 5,152 bilhões no mesmo mês de 2023, quando haviam representado 22,60% das vendas externas totais originadas pelo mercado brasileiro. A comparação entre os dois números aponta um salto de 53,06% com acréscimo muito próximo de US$ 2,734 bilhões. Nessa comparação, a contribuição chinesa para o aumento das exportações brasileiras alcançou nada menos do que 64,74%. Para ser mais claro, a cada US$ 100 exportados a mais pelo Brasil, em torno de US$ 64,74 tiveram como destino China, Hong Kong e Macau, integrados como um só mercado nas estatísticas da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Midc).

Balanço

  • As compras de produtos chineses pelo Brasil avançaram num ritmo bem mais moderado, comparativamente, crescendo 11,19%, de US$ 4,667 bilhões para US$ 5,189 bilhões. Como as exportações para aquela região cresceram com vigor muito maior, o superávit comercial brasileiro com a China foi multiplicado em quase 5,6 vezes, saltando de apenas US$ 485,28 milhões para US$ 2,697 bilhões (41,13% do saldo total, conforme já anotado), num incremento levemente superior a US$ 2,211 bilhões. Vale dizer, 60% do crescimento do superávit comercial brasileiro tiveram aquela região da Ásia como responsável.
  • Na ponta das exportações, o crescimento experimentado no mês veio de apenas quatro itens e/ou produtos, a começar pelas vendas externas de óleos brutos e óleos combustíveis de petróleo. As vendas naquelas duas áreas subiram, respectivamente, de US$ 3,129 bilhões e de US$ 1,035 bilhão para US$ 4,802 bilhões e US$ 1,248 bilhão na mesma ordem, correspondendo a altas de 53,38% e de 20,57%. Somados, os dois grupos de produtos acumularam uma variação de US$ 1,885 bilhão, equivalente a 44,67% do incremento observado para o total das exportações.
  • Os embarques de petróleo em bruto, que representaram 17,8% das exportações totais, aumentaram 61,8% em volume, mas anotaram baixa próxima de 5,5% nos preços.
  • As vendas externas de soja em grão e minério de ferro tiveram elevação relevante, com saltos de 191,13% para o primeiro (com as vendas subindo de US$ 500,40 milhões para US$ 1,457 bilhão) e de 56,93% no segundo caso, avançando de US$ 1,816 bilhão para US$ 2,850 bilhões. Revertendo a tendência anterior de baixa nos preços, o minério de ferro teve as vendas impulsionadas pela alta de 20% nos volumes e pelo salto de 30,8% nos preços, como reflexo da maior demanda chinesa.
  • Os quatro itens analisados elevaram sua participação na pauta de exportações de 28,43% em janeiro do ano passado para 38,33% no mesmo mês deste ano, refletindo o aumento de 59,80% nas vendas externas totais do grupo, que avançaram de US$ 6,481 bilhões para US$ 10,356 bilhões. A variação, no caso, chegou a US$ 3,876 bilhões em valores aproximados, o que correspondeu, por sua vez, a 91,84% do crescimento observado para o total as exportações brasileiras.
  • Mais objetivamente, não apenas acirrou-se a concentração em relação ao mercado chinês, como também passou a ser verificada uma acentuada dependência das exportações de um grupo restrito de commodities primárias, de menor agregação de valor.
  • Na análise do Icomex, entre os setores de atividade, a liderança ficou por conta da indústria extrativa, que aumentou suas exportações em 53,1% em valor, 44,4% em volume e 5,90% nos preços médios exportados.