Coluna

Recursos a juros livres ampliam sua participação no financiamento da soja

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 19 de dezembro de 2019

Os
recursos contratados pelo campo para custeio da soja na safra 2019/20 em Mato
Grosso deverão experimentar crescimento de 12,7% na comparação com o ciclo
imediatamente anterior, com participação recorde das linhas de crédito
oferecidas a juros livres pelo sistema financeiro, segundo acompanhamento anual
realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Líder
na produção da oleaginosa, o Estado deverá responder na safra atual por 27,4%
de toda a produção brasileira, com uma colheita esperada em 33,2 milhões de
toneladas do grão na estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab).

No
total, o Imea estima que os produtores de soja deverão contratar algo em torno
de R$ 22,506 bilhões para financiar o plantio da safra atual, o que se compara
com R$ 19,973 bilhões na safra 2018/19. A principal contribuição para esse
incremento veio da elevação em torno de 10,9% nos custos de custeio da lavoura,
que saíram de R$ 2.076 para R$ 2.302 por hectare, enquanto a área reservada ao
plantio avançou ligeiramente de 9,67 milhões para 9,78 milhões de hectares, em
números aproximados.

Ainda
de acordo com o Imea, a participação dos bancos apresentará avanço pela sexta
safra consecutiva, sustentado por recursos de Letras de Crédito do Agronegócio
(LCA), recursos das próprias instituições, moeda estrangeira e outras formas de
funding (financiamento). Excluídos os recursos federais subsidiados, a fatia do
sistema financeiro deverá saltar de quase 17,8% para qualquer coisa próxima a
25,2% (ou 7,4 pontos de porcentagem a mais), o mais elevado da série histórica
do Imea. Isso corresponderá ainda a um salto de quase 59,6% no volume dos
financiamentos contratados, que tendem a avançar de R$ 3,548 bilhões para R$
5,661 bilhões. O setor contribuirá com 83,4% no crescimento do volume total de
recursos destinados ao financiamento da soja no Estado entre as safras 2018/19
e 2019/20.

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Para baixo

A
redução da taxa básica de juros, com consequente aproximação entre seu custo e
os juros do crédito rural oficial (que ficaram mais salgados), avalia o Imea,
tornou “mais atrativo ao produtor rural acessar o financiamento através de
recursos sem subsídio governamental, seja pela não limitação de recursos por
CPF (Cadastro de Pessoa Física) ou pelo menor tempo para aprovação do crédito”.
Em contrapartida, a participação dos bancos com recursos federais
no funding da safra tende a despencar de quase 13,1% para pouco mais de 8,5%,
enquanto os volumes contratados nesta área deverão desabar 26,3%, encolhendo de
R$ 2,608 bilhões para R$ 1,921 bilhão. Esta deverá ser a menor participação
desde os 8,0% registrados no ciclo 2010/11, confirmando a perda de importância
relativa do crédito rural oficial no financiamento das safras no Estado (e em
todo o País, já que o mesmo movimento tem sido observado nos principais polos
de produção de grãos).

Balanço

·  
OImea
espera que a tendência de crescimento na participação dos recursos livres,
liderados pelas operações lastreadas em LCA emitidas pelo campo e empresas
rurais, deverá ser mantida ainda na safra 2020/21, “pela facilidade de acesso e
pela taxa de juros que vem sendo reduzida nos últimos meses”.

·  
Além
disso, pondera ainda o instituto, “as relações de troca com os principais
fertilizantes da soja estão mais propícias neste momento quando comparadas ao
ano passado, o que está gerando um acelerado avanço nasnegociações de insumos
para a safra 2020/21 da oleaginosa no Estado, o que pode beneficiar aqueles
players que estão preparados para esse adiantamento de negócios e isso
consequentemente pode alterar as proporções destes agentes no funding da
próxima safra”.

·  
Os
produtores com maior nível de planejamento poderão ser favorecidos
principalmente pela tendência inicial de leve redução nos custos de custeio na
comparação entre as safras 2019/20 e a seguinte. Numa estimativa do Imea, as
despesas com custeio deverão recuar ligeiramente (menos 0,76%) entre as duas
safras, baixando de R$ 2.302 para algo abaixo de R$ 2.285 por hectare.

·  
A
participação das grandes tradings multinacionais no financiamento do cultivo da
soja em Mato Grosso deverá a mais baixa desde 2016/17, quando havia se limitado
a 24,0%. Entre 20118/19 e 2019/20, a fatia das multinacionais, que têm sido
mais “criteriosas na concessão do crédito ao produtor”, deverá recuar de 29,6%
para 28,1%, com o volume de crédito oferecido pelas tradings variando 6,94% (de
R$ 5,912 bilhões para R$ 6,322 bilhões).

·  
Para
comparação, na safra 2008/09, as multinacionais entraram com praticamente
metade dos recursos (o que corresponderia, considerando os valores previstos
para a safra atual, a algo como R$ 11,3 bilhões).

·  
As
revendas de insumos, que financiaram 19,2% do custeio na safra passada, deverão
entrar com 18,8% dos recursos no ciclo atual, enquanto o total de recursos do
setor no campo sairá de R$ 3,833 bilhões para R$ 4,228 bilhões (alta de 10,3%),
“devido, principalmente, a entrada de recursos internacionais nesse segmento
nos últimos anos”, sustenta o Imea.

O uso de recursos próprios pelo produtor deverá
crescer 7,4% (de R$ 4,072 bilhões para R$ 4,374 bilhões), mas sua participação
tende a baixar de 20,4% para 19,4% (distantes dos 35% registrados, por exemplo,
na safra 2014/15).