Renda média dos muito ricos em Goiás saltou 67% em termos reais desde 2017

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de janeiro de 2024

A renda média mensal dos goianos muito ricos apresentou crescimento de 67% em termos reais entre 2017 e 2022, depois de descontada a inflação, atingindo algo em torno de R$ 424,101 mil. Foi o quinto maior aumento entre todos os Estados, com a renda média do estrato do 0,1% mais ricos ocupando igualmente uma quinta colocação no ranking regional. Os ganhos médios mensais dos 505 goianos colocados entre o 0,01% de renda mais alta cresceram proporcionalmente menos, subindo 53% acima da inflação – a 15ª maior variação entre os demais 25 Estados e o Distrito Federal. Em valor, no entanto, o rendimento médio desse 0,01% mais rico atingiu praticamente R$ 1,906 milhão em 2022, a sexta maior entre os Estados.

Os dados foram consolidados pelo economista Sérgio Wulff Gobetti, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em outra nota técnica divulgada na terça-feira, 23, no Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O trabalho é um complemento da nota também de autoria de Gobetti e analisada neste espaço na edição de 19 de janeiro passado. O especialista recorre aos números recentemente liberados pela Receita Federal relativos às declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) do período analisado nas duas notas.

As estatísticas mostram, especialmente no topo da renda, uma concentração esmagadora da renda, que tende a se agravar na medida em que os dados passarem a incluir os estratos de renda mais baixa. O rendimento médio mensal daqueles entre o 0,01% de renda mais alta foi nada menos do que 4,5 vezes maior do que o ganho médio do 0,1% mais rico. As discrepâncias tendem a ganhar dimensões avassaladoras, como sugerem alguns dos dados capturados por Gobetti. Num exemplo, a renda média do 0,01% mais rico em todo o País, algo em torno de R$ 2,170 milhões, foi 452 vezes maior do que o rendimento médio de R$ 4,8 mil recebido mensalmente pelos estratos de renda colocados “entre os centis 46 e 55 da distribuição dos declarantes” (ou seja, no centro da distribuição de renda entre os que declararam seu imposto em 2022).

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Abismo

A razão entre a renda média do 1,0% mais rico e a chamada classe média (aqueles colocados exatamente na metade da escala de distribuição dos declarantes do Imposto de Renda), mostra Gobetti, chegou na média de todo o País a 248. Mais claramente, os muito ricos ganharam, por mês, 248 vezes mais do que o brasileiro de classe média. Em Goiás, o quinto pior nesse quesito, a diferença chegou a 256 vezes. A liderança nesse ranking parcial da desigualdade foi assumida pelo Mato Grosso, com diferença de 364 vezes entre a renda no topo e nos segmentos médios, seguido por São Paulo (331 vezes), Paraná (268 vezes) e Mato Grosso do Sul (257 vezes). Conforme anota Gobetti, esse tipo de comparação foi a possível até o momento, já que não há “dados disponíveis da renda total das famílias por unidade federada que permitam, por meio de comparação com as informações do IRPF publicados pela Receita Federal, aferir a diferença de crescimento de renda entre a base e o topo da pirâmide em cada Estado”.

Balanço

  • Para chegar àqueles resultados, o economista decidiu, “por ora, (…) aferir a desigualdade entre os declarantes do Imposto de Renda que estão entre os 20% ou 25% mais ricos da população adulta. Para fazer isso, adotamos os seguintes recortes nos dados do IRPF: tomamos a renda média dos 38 mil declarantes mais ricos (o 0,1% mais rico no universo dos declarantes ou 0,025% mais rico da população adulta) e comparamos com a renda média das 3,8 milhões de pessoas que estão entre os centis 46 e 55 da distribuição dos declarantes”.
  • Mesmo assim, prossegue Gobetti, “as altíssimas taxas de enriquecimento verificadas em vários Estados do Norte e Centro-Oeste oferecem um indicativo de onde a desigualdade poderia estar crescendo mais”.
  • Na mesma linha, o pesquisador observa que os resultados obtidos a partir dos números da Receita Federal “indicam que, além de ter crescido bem acima da média da população, a renda da elite subiu mais nos Estados em que, em geral, a economia é dominada pelo agronegócio, chegando a uma alta nominal de 204% (ou 131% em valores reais) no Mato Grosso do Sul no estrato social constituído pelo 0,01% mais rico” (quer dizer, um conjunto de 221 pessoas).
  • Em Mato Grosso, o avanço para os super ricos, representando 0,01% dos declarantes, algo como 294 pessoas, alcançou 115% além da inflação, com alta de 122% para o Amazonas, uma exceção entre os maiores ganhos estaduais. “O fato dessas taxas serem maiores nos Estados em geral dominados pelo agronegócio (além de Amazonas) não é mera coincidência, uma vez que, conforme relatado na nota técnica anterior, verificou-se no período analisado (2017-2022) um crescimento extraordinariamente alto da renda da atividade rural, principalmente nos estratos mais ricos, em que esse tipo de rendimento (isento de tributação na sua maior parte) cresceu acima de 220% (ou 140% em termos reais)”, reforça ele.
  • Gobetti relembra que, na média, a renda “da elite do 0,01% cresceu nominalmente 96% no período de cinco anos – quase três vezes mais do que a registrada na base da pirâmide (33%)”. O economista acrescenta que essa base refere-se a “ todos os adultos que estão do primeiro ao nonagésimo quinto centil da distribuição de renda (95% dos declarantes); ou seja, todos os que não estão entre os 5% mais ricos. Em 2022, essa base é formada por todos adultos que tiveram renda líquida total inferior a R$ 10 mil mensais – por isso, estamos falando não apenas dos pobres, mas também da classe média”.
  • Descontada a inflação de 31,4% medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2017 e 2022, relembra Gobetti, a renda de 0,01% dos declarantes subiu 49% diante de virtual estagnação para os mais pobres e classe média, numa variação real de 1,5% em média. As evidências reforçam, portanto, a constatação de um avanço significativo da concentração da renda naqueles cinco anos, acrescenta Gobetti.