Setor formal respondeu por 92% das demissões desde novembro de 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 04 de agosto de 2023

Embora as análises e relatórios de consultorias e departamentos econômicos de instituições financeiras sinalizem uma tendência de aquecimento do mercado de trabalho, esse desempenho deveria ao menos ser colocado sob perspectiva, num “viés” de certa forma nem tão otimista. A série de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sugere que a ocupação tem “andado de lado” nos últimos trimestres e parcela relativamente importante dos avanços anotados devem ser creditados ao mercado informal, aqui incluídos trabalhadores sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores sem registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e uma categoria de ocupados que prestam serviços à própria família, comumente sem remuneração e fora da formalidade.

Numa fase mais recente, o total de ocupados chegou ao seu nível mais elevado no trimestre encerrado em novembro do ano passado, quando havia somado 99,693 milhões de pessoas, com 8,741 milhões de desempregados, somando um total de 108,434 milhões de pessoas incluídas na força de trabalho. Esse contingente representou 62,42% da população em idade ativa, ou seja, das pessoas com 14 anos ou mais, que alcançava até então 173,715 milhões de almas. A taxa de desemprego havia girado em torno de 8,1% até ali, antes de subir ligeiramente nos trimestres mais recentes, antes de voltar praticamente aos mesmos níveis no segundo trimestre deste ano, próxima de 8,0% (a diferença em relação a novembro de 2022 chega a meros 0,02 ponto percentual sem os arredondamentos corretamente aplicados àquela taxa, já que se trata de uma mensuração aproximada).

Não é o que parece

Continua após a publicidade

A questão é que tanto o total de ocupados quanto o número de desocupados ficaram menores desde o final do ano passado. Como a taxa de desemprego manteve-se praticamente inalterada no período, uma das conclusões bem poderia indicar que a desocupação poderia ter caído em ritmo mais intenso do que a ocupação. Mas não foi exatamente o que aconteceu. No trimestre finalizado em junho deste ano, os ocupados passaram a somar perto de 98,910 milhões de pessoas, significando uma perda de 783,0 mil empregos desde novembro, num recuo de 0,8%. Considerando a mesma conta, perto de 92,2% das ocupações fechadas em sete meses vieram do setor formal. O total de trabalhadores “formais”, numa estimativa que exclui do número de ocupados aqueles trabalhadores considerados informais e ainda empregados do setor público sem carteira, caiu de 57,756 milhões no trimestre setembro-novembro de 2022 para 57,034 milhões no segundo trimestre deste ano, correspondendo ao desaparecimento de 722,0 mil vagas, numa queda de 1,25%.

Balanço

  • O número de desempregados, em termos absolutos, caiu menos, saindo de 8,741 milhões para 8,647 milhões, o que correspondeu a uma redução de 1,1% (proporcionalmente, portanto, a redução foi um tanto mais intensa do que entre os ocupados). Considere-se, de toda forma, que a variação para baixo no total de desocupados correspondeu a 12% das 783,0 mil ocupações perdidas desde novembro do ano passado.
  • Mais ainda. A população em idade ativa, aquela com 14 anos ou mais de idade, apresentou um acréscimo de 892,0 mil, avançando de 173,715 milhões em novembro para 174,607 milhões em junho, numa variação de 0,51% (sempre tomando períodos trimestrais encerrados em cada um daqueles dois meses). Se todo esse contingente chegou à idade de trabalhar e o mercado não criou empregos novos, ao mesmo tempo em que o número de desempregados recuou, ainda que modestamente, para onde foi todo esse pessoal?
  • A explicação, parcial ainda, está no crescimento do número de trabalhadores fora da força de trabalho, quer dizer, que não estavam empregadas e nem buscavam uma colocação no mercado no momento da pesquisa. Estavam fora do mercado perto de 67,051 milhões de trabalhadores em junho deste ano, o que se compara a 65,282 milhões em novembro do ano passado. Houve um acréscimo de 1,769 milhão de pessoas fora da força de trabalho, o que correspondeu a um aumento de 2,71%.
  • No segundo trimestre deste ano, considerando a população de 14 anos ou mais, em torno de 56,6% estavam ocupados, relação que chegava a 57,4% em novembro do ano passado. Num exercício hipotético, caso a mesma proporção estivesse em vigor em junho deste ano, o número de ocupados subiria 1,3%, para 100,22 milhões, correspondendo a 1,314 milhão acima do número de fato registrado pela PNADC para o segundo trimestre deste ano. A consequência seria uma queda de 15,2% no número de desempregados, para 7,333 milhões de pessoas, levando a taxa de desocupação para 6,8%.
  • Na verdade, como se pode observar, a saída de trabalhadores do mercado tem levado a taxas de desemprego enganosamente mais baixas. Em novembro do ano passado, qualquer coisa próxima de 62,4% da força de trabalho estava ocupada e essa proporção foi reduzida para 61,6% em março. Supondo que o mesmo percentual tivesse sido repetido em junho deste ano, a força de trabalho teria avançado para 108,990 milhões de pessoas. Como o mercado conseguiu criar 98,910 milhões de vagas, o número de desempregados subiria para 10,080 milhões, subindo 16,6% em relação ao dado registrado pela pesquisa. A taxa de desocupação sairia de 8,0% para 9,25%.
  • Em 2019, na média, a participação dos trabalhadores na força de trabalho sobre a população em idade ativa girou ao redor de 63,6%. Projetando essa mesma taxa sobre o total de pessoas atualmente com 14 anos ou mais, a força de trabalho tenderia a se elevar para 111,05 milhões, fazendo o número de desempregados saltar 40,4%, para 12,140 milhões, com a taxa de desocupação atingindo 11,3%.