“Supersafra” de grãos puxa setor de serviços no começo deste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de maio de 2023

Em tendência de acomodação depois de uma fase de recuperação mais acelerada, explicada pelo mergulho sofrido pelo setor durante o período mais duro da pandemia, o nível da atividade no setor de serviços voltou a apresentar variação positiva em março deste ano, avançando 0,9% na comparação com fevereiro, quando já havia anotado elevação de 0,7%. Como havia anotado um tombo de 2,9% em janeiro, persistia, ao final de março, uma redução de 1,3% em relação a dezembro do ano passado.

Em relação a igual mês do ano passado, o volume de serviços consumido por empresas, famílias e governos em todo o País registrou crescimento de 6,3% em março deste ano, acumulando no trimestre uma elevação de 5,8% – num ritmo praticamente um terço mais baixo do que a taxa de 8,1% observada no terceiro trimestre do ano passado, quando a atividade havia crescido 8,1% frente a idêntico trimestre de 2021, segundo anota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O comportamento daqueles indicadores, avalia ainda o instituto, sugere um “processo de lenta desaceleração” no setor.

Os resultados positivos de março, principalmente, parecem refletir em boa medida o início da movimentação da “supersafra” de grãos, estimada em quase 313,9 milhões de toneladas, praticamente 41,4 milhões de toneladas a mais do que as 272,4 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Além de impulsionar o transporte de cargas, a produção recorde tem mantido aquecido também o setor de armazenagem, assim como serviços portuários por conta do avanço nos embarques de grãos para fora do País.

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Agregados em um único setor, os segmentos de transportes, armazenagem e correio avançaram 3,6% na saída de fevereiro para março, crescendo 8,5% frente a março de 2022 e acumulando elevação de 6,5% no primeiro trimestre. Em fevereiro e março, aponta o IBGE, os transportes acumularam ganho de 7,0%.

Oscilações

A atividade no setor de transporte rodoviário de cargas, não por acaso, atingiu em março deste ano seu melhor momento na série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que responde pela pesquisa mensal sobre serviços. Comparado aos mesmos meses de 2022, o transporte de cargas havia crescido 3,0% e 1,7% em janeiro e fevereiro, mas saltou 15,1% em março, quando se intensifica a colheita das safras de verão nas principais regiões produtoras do Centro-Sul. O segmento de armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio, ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, havia sofrido um baque em janeiro, desabando 9,7% em relação ao último mês do ano passado e passou a avançar 4,4% e 5,9% em fevereiro e março, respectivamente, sempre considerando o mês imediatamente anterior. Diante dos mesmos meses de 2022, a atividade nesta mesma área chegou a sofrer perdas de 4,6% e de 3,8% em janeiro e fevereiro, nessa mesma ordem, mas anotou alguma reação em março ao avançar 1,9% (o que, muito evidentemente, não repôs a redução ocorrida nos dois meses anteriores).

Balanço

  • No trimestre, o volume de serviço de armazenagem ainda encolhe 2,0% frente aos três primeiros meses de 2022. Em conjunto, os segmentos de transportes de cargas e armazenagem respondem por 23,30% de todo o volume gerado pelo setor de serviços.
  • No setor de grãos, especialmente, a oferta de serviços de armazenagem mantém bem abaixo da demanda, num gargalo que vem se agravando safra após safra. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade estática de armazenagem iniciou o ano em 189,62 milhões de toneladas, mas a safra esperada deverá ser 65,5% maior do que o espaço até então disponível em armazéns e silos.
  • Desde 2010, ainda de acordo com a Conab, enquanto a capacidade dos armazéns cresceu 39,2%, a produção de grãos experimentou salto de 110,3%. Nas fazendas, que têm capacidade para abrigar meros 9,3% da safra esperada, os armazéns já instalados permitem recepcionar 29,290 milhões de toneladas, praticamente 51,4% mais do que em 2010, mas sustentam uma participação de apenas 15,45% na capacidade estática total da rede armazenadora credenciada pela Conab.
  • De volta à pesquisa, o IBGE destaca ainda o desempenho no setor de serviços profissionais, administrativos e complementares, que cresceu 2,6% em março, frente a fevereiro, quando havia recuado 1,4% depois de sofrer perda de 2,1% em janeiro. O resultado de março não recompôs a queda de 3,4% que havia sido acumulada nos primeiros dois meses deste ano.
  • Com participação de 23,46% no volume total de serviços, o setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) igualmente atingiu o pico de atividade em março deste ano, embora tenha avançado apenas 0,3% diante de fevereiro e anotado alguma desaceleração diante de idêntico período do ano passado. Nesse tipo de comparação, o setor de TIC saiu de uma alta de 9,5% em fevereiro para anotar variação de 6,5% em março. Mas acumula incremento de 7,4% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado.
  • Os serviços prestados às famílias, considerando perdas nos segmentos de hospedagem e alimentação, registraram a segunda queda consecutiva na comparação mês a mês, caindo 0,8% em fevereiro e 1,7% em março. A taxa de crescimento anual, que havia atingido 11,4% em janeiro, frente ao mesmo mês de 2022, cedeu drasticamente e passou a apontar variação de 3,7% em março.
  • Para Goiás, os números do IBGE trazem uma aparente aceleração nas taxas de crescimento, saindo de um avanço de 2,0% em fevereiro para alta de 4,2% em março, na comparação com os meses anteriores. Na taxa mensal, ou seja, diante de igual período de 2022, os serviços cresceram 8,8% em fevereiro e 11,8% em março, passando a acumular variação de 9,4% no trimestre.
  • O incremento em março sofreu influência do salto de 31,2% no grupo chamado “outros serviços”, que inclui as atividades de esgoto, gestão de resíduos, recuperação de materiais e descontaminação, assim como atividades auxiliares de serviços financeiros, atividades imobiliárias, serviços de apoio à agropecuária e à produção florestal, manutenção e reparação de bens. Os transportes avançaram 13,8%, logo na sequência do incremento de 15,0% nos serviços de informação e comunicação. Os serviços prestados às famílias encolheram 8,2% depois de saltar 24,1% em fevereiro. No trimestre, registrou-se avanço de 9,4%.