Taxação de 3% sobre super-ricos poderia (quase) zerar o rombo
Esquecidas propositadamente no enfadonho debate econômico, dominado pela “esquadrilha austericida”, as distorções do sistema tributário brasileiro têm favorecido ao longo de décadas os muito ricos, gerando maior concentração de renda e de riquezas, agravando injustiças e gerando iniquidade por conta da baixíssima taxação a que estão submetidos exatamente os super-ricos, contingente formado por apenas 0,003% […]
Esquecidas propositadamente no enfadonho debate econômico, dominado pela “esquadrilha austericida”, as distorções do sistema tributário brasileiro têm favorecido ao longo de décadas os muito ricos, gerando maior concentração de renda e de riquezas, agravando injustiças e gerando iniquidade por conta da baixíssima taxação a que estão submetidos exatamente os super-ricos, contingente formado por apenas 0,003% da população adulta, algo como 237,0 mil privilegiados. Atualmente, a turma da grana pesada destina apenas 0,8% de suas riquezas para o pagamento do Imposto de Renda, embora a riqueza per capita dessa minoria entre a minoria aproxime-se dos R$ 13,0 milhões, qualquer coisa como 134 vezes mais do que a riqueza média de todo o restante da população brasileira, estimada em R$ 97,208 mil a valores de 2023.
Os dados ajudaram os pesquisadores Guilherme Klein Martins, Guilherme Arthen e João Pedro de Freitas Gomes, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), a construírem uma proposta para tornar o sistema tributário menos injusto e ainda gerar novas receitas, resumida na nota de política econômica divulgada na quarta-feira, 22, sob o título “Taxação dos Super-Ricos no Brasil: Efeitos sobre Arrecadação e Distribuição de Renda”.
O trabalho, que se dedicou a estimar o potencial de arrecadação com um aumento na cobrança de impostos sobre os super-ricos e os efeitos dessa taxação sobre a distribuição da riqueza doméstica, conforme Martins, Arthen e Gomes, foi inspirado na proposta dos economistas Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, “que sugere a introdução de um imposto mínimo global sobre a riqueza detida pelos indivíduos bilionários de cada país e foi defendida, em moldes similares, pelo Brasil em discurso proferido a países-membros do G20, em fevereiro de 2024”.
Cenários e propostas
Os economistas do Made combinam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) e da Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (DIRPF), referentes ao ano-calendário de 2022, com valores atualizados até o ano passado com base na inflação. Contemplando três bases de incidência, envolvendo aqueles contribuintes colocados no “topo da distribuição” da renda, correspondendo a 0,01%, 0,1% e 0,2% do total, e três faixas de alíquotas mínimas (2,0%, 2,5% e 3,0%), o estudo trabalha com nove cenários distintos de taxação. Entre as hipóteses testadas por Martins, Arthen e Gomes, aquela que oferece os resultados mais promissores em termos distributivos e igualmente para a arrecadação parece estar na proposta de criação de uma alíquota de 3,0% sobre as três faixas de super-ricos, que teria potencial para gerar uma arrecadação extra de R$ 77,8 bilhões, ampliando a alíquota efetiva do grupo de 0,2% mais ricos de apenas 0,8% para 14,6%.
Balanço