Varejo respira, mas indicadores sugerem dificuldades à frente

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de abril de 2022

A expansão recente das vendas no varejo tradicional e no comércio varejista ampliado, que inclui concessionárias de veículos, lojas de autopeças e de materiais de construção, tem se dado “na margem”, como dizem os economistas, mas com números ainda muito frágeis ou negativos em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço “na margem” considera a evolução mês a mês, num comportamento que pode ou não levar a uma recuperação de fato – e os indicadores disponíveis reforçam as dificuldades à frente para que o comércio e toda a economia de fato consigam engrenar uma aceleração duradoura.

Os dados da pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram crescimento de 1,1% nas vendas do varejo restrito na passagem de janeiro para fevereiro, no segundo resultado positivo em sequência. A taxa veio, no entanto, abaixo da alta de 2,1% observada em janeiro, na comparação com dezembro, excluídos fatores sazonais, como as festas e feriados de fim de ano, por exemplo. No varejo ampliado, o volume de vendas saiu do zero a zero em dezembro para uma flutuação de 0,2% em janeiro, caracterizando uma estabilidade virtual, apresentando elevação de 2,0% em fevereiro, reforçada pela alta de 5,2% nas vendas de veículos (que, como se recorda, haviam despencado 6,6% em janeiro).

Em Goiás, os sinais vieram invertidos, com crescimento de 1,9% nas vendas do varejo convencional em fevereiro, comparado ao mês imediatamente anterior, e recuo de 0,4% no varejo amplo (supostamente com baixas para os setores de veículos e materiais de construção, que vem perdendo fôlego depois de uma fase de crescimento mais forte no passado recente).

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Desempenho apagado

Na comparação com o ano passado, os números são muito mais apagados. As vendas do varejo no País como um todo chegaram a avançar 1,3% em fevereiro frente ao segundo mês de 2021, mas haviam caído nos seis meses anteriores, com perdas mais recentes de 2,9% e de 1,5% em dezembro e janeiro. Na versão do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), “em relação à situação do setor no ano passado, porém, a performance é inferior, o que sinaliza dificuldades para dar continuidade a uma trajetória mais favorável”. Para Goiás, os dados da pesquisa apontam queda de 2,3% para as vendas do varejo restrito, medidas em volume, depois de perdas de 2,3% e de 5,2% respectivamente em dezembro de 2021 e em janeiro deste ano.

Balanço

  • Ainda na avaliação do Iedi, o mês de fevereiro “teve um dia útil a mais e a cobertura vacinal contra a Covid-19 progrediu muito em relação a fevereiro do ano passado, o que pode ter ajudado na alta das vendas. Mas ainda é cedo para saber se este é o início de uma nova fase de expansão, especialmente diante do desemprego ainda elevado e da inflação que corre a um ritmo acelerado”.
  • A aceleração das taxas de inflação tem ajudado a correr o rendimento médio dos trabalhadores, enquanto o desemprego elevado exacerba as incertezas e inibe decisões de consumo das famílias. A predominância das ocupações informais no mercado de trabalho, da mesma forma, torna a situação mais delicada sob o ponto de vista dos consumidores.
  • Para complicar, a elevação dos juros e consequente encarecimento do crédito na economia não ajudam a melhorar o cenário – ao contrário, contribuem para esfriar a atividade econômica ainda mais, objetivo final do Banco Central (BC) ao recorrer aos aumentos dos juros básicos como forma de segurar os aumentos de preços.
  • Em Goiás, fevereiro não foi exatamente um mês positivo para o comércio tradicional. Houve perdas para combustíveis e lubrificantes, que sofreram tombo de 13,5% em relação ao mesmo mês do ano passado (e já haviam sofrido retração de 7,1% em dezembro e de 14,3% em janeiro), e móveis e eletrodomésticos, com perdas de 13,9% (depois de desabar 14,4% e 16,3% em dezembro e janeiro, sempre em relação a iguais meses do ano anterior). Hiper e supermercados tiveram recuo de 0,3% e haviam caído 5,2% em janeiro.
  • O varejo amplo, no entanto, saiu de altas de 8,2% e de 4,0% em dezembro e janeiro para um incremento de 1,7% em fevereiro, com alta de 14,5% para as revendas de veículos e autopeças, mas retração de 17,5% para os materiais de construção.
  • Entre julho do ano passado e fevereiro deste ano, as duas pontas do varejo amargaram perdas, incluindo baixa de 5,4% para o varejo restrito e queda de 3,3% para o ampliado.
  • Tomando fevereiro de 2020 como base, no caso goiano, o varejo ampliado registrou crescimento, numa variação de 7,6%, mas o comércio varejista restrito encolheu 2,8%. Na média brasileira, os dois segmentos apresentam alguma elevação, embora modesta, com incremento de 1,2% para o varejo tradicional e de 0,8% para o ampliado.
  • A comparação histórica deixa mais visível os problemas enfrentados pelo comércio como um todo. O varejo convencional ainda apresenta queda de 30,0% entre fevereiro deste ano e igual mês de 2014, quando havia alcançado seu melhor desempenho na série. O varejo ampliado ainda se encontrava 24,3% abaixo de julho de 2013. Os dados mostram que as dificuldades para um crescimento mais alentado vêm de antes mesmo da pandemia.