“Pílula do câncer” é sancionada e gera polêmica

Substância gera impasse entre prós e contra sua liberação

Postado em: 15-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Substância gera impasse entre prós e contra sua liberação

Jéssica Torres

O uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes diagnosticados com câncer foi liberado ontem, pela presidente Dilma Rousseff. A permissão foi definida como de relevância pública.  A decisão gerou grande comoção. De um lado grupos de pacientes com câncer veem como uma vitória e organizaram ontem em Goiânia passeata em comemoração, já entre especialistas e órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a medida provocou preocupação.

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O texto da lei, publicado no Diário Oficial da União, ressalta, entretanto, que a opção pelo uso voluntário da fosfoetanolamina sintética não exclui o direito de acesso a outros tratamentos contra o câncer. Sendo assim, a ingestão da substância, conhecida popularmente como “pílula do câncer”, poderá ser feita por livre escolha do paciente, que precisa ter um laudo médico que comprove o diagnóstico e assinar um termo de consentimento e responsabilidade.

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Aldair Novato Silva, garante que a classe é contra a decisão, já que não há liberação pela Anvisa. “A liberação veio na contramão do que sempre acontece. A substância não tem comprovação científica e não é mais eficaz do que outras que já existem. Não conhecemos as indicações, implicações do seu uso”, aponta. Em vista disso, ele alerta para o perigo dos efeitos colaterais. Por isso, explica que pelo código de ética os médicos não podem prescrever uma substância que não passou por testes e avaliação da Anvisa, para comprovar sua real eficácia e verificar seus riscos, sendo apenas possível via ordem judicial.

Esperança

Reginaldo Barbosa,42 líder do movimento em Goiânia, em prol da chamada fosfo, comemora a liberação. Sua esposa Luciany Barbosa, 42, descobriu em abril de 2014 que estava com câncer cerebral e a partir daí buscou todos os tipos de tratamento possíveis, pela medicina tradicional, porém nada adiantou e o tumor maligno em grau 4 está avançando. Em vista disso, entraram na Justiça Federal pedindo para que Luciany pudesse usar a fosfoetanolamina. Após a decisão favorável do juiz, Universidade de São Paulo (USP) e outros órgãos recorreram. Até agora ela não havia conseguido e ontem voltaram a ter esperança.

Mais três amigos passam pelo mesmo desespero. “A indústria farmacêutica não quer pela questão financeira. Como suplemento também teria o mesmo risco, não faz sentido”, destacam. Eles exemplificam o caso de uma criança que depois do uso da pílula voltou a andar, ver e escutar, o que não podia antes pela doença.

Já a avó do estudante Vinicius Marques, 22, dona Zila Marques, 65, descobriu que estava com câncer de mama, no ano passado, ainda em estágio inicial. Logo começou a se tratar e apesar de tomar medicamentos o que ajudaram em seu tratamento. Porém, o neto explica que não sabiam na época do uso da fosfo. Se fosse necessário também usariam. “Claro que devem fazer os testes científicos para verificar a eficácia, mas descobrir a doença é um momento de angústia. A pílula traz uma esperança para as pessoas”, acentua. 

Testes verificam eficácia da “fosfo” 

Diante da expectativa gerada em torno de seu efeito, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação criou, no ano passado, um grupo de trabalho para testes. No último dia 30 de março, o ministério divulgou os primeiros resultados, informando que o composto produzido pela USP não é tóxico, se administrado na quantidade estabelecida de três cápsulas de 330 miligramas cada, por dia. Por isso, sugeriu que a pílula fosse legalizada como suplemento alimentar para evitar também o contrabando e a venda no mercado paralelo.

O Ministério da Saúde informou que participa da elaboração de uma regulamentação para o uso, a pesquisa e o fornecimento da fosfoetanolamina sintética. Por meio de nota, esclareceu que, com a autorização de uso, os pacientes interessados terão de arcar com todos os custos, já que a substância não foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

 

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