Usuários do plano do Imas reclamam de falta de atendimento e problemas para conseguir procedimentos

Instituições credenciadas ao Imas reclamam dos constantes atraso nos pagamentos que deveriam ser feitos pela administração municipal

Postado em: 18-03-2022 às 07h59
Por: Redação
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Instituições credenciadas ao Imas reclamam dos constantes atraso nos pagamentos que deveriam ser feitos pela administração municipal | Foto: Pedro Pinheiro

Por Sabrina Vilela

A professora de artes Angélica Oliveira, 46 anos, depende do plano do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (Imas) para que possa ter um atendimento de saúde digno. Mas, segundo ela, não é isso que tem acontecido. A docente precisa realizar uma cirurgia corretiva na mama, entretanto tem enfrentado uma série de obstáculos para conseguir o procedimento.

No ano de 2010, a professora fez uma cirurgia para a diminuição das mamas, que estavam causando problemas de saúde por conta do peso dos seios. Mas, a sonhada cirurgia acabou se tornando um pesadelo pois as mamas evoluíram para uma cicatrização não estética e ficaram de tamanhos diferentes. 

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Oito anos mais tarde a professora passou por mais um problema. “Eu sofri uma queimadura na mama direita, no entanto médicos que atendem pelo Imas se recusaram a fazer uma mastopexia com prótese para arrumar as mamas”, relata. Em janeiro deste ano, se sentiu humilhada por uma perita do Imas. “Ela disse que não era a farra da plástica. Mas, foi comprovado que eu precisaria das cirurgias e que não era estática, porém foi negado duas vezes”, afirma. 

Angélica Oliveira relata que a profissional foi afastada e que para conseguir a cirurgia terá que contratar um advogado. “Para mim fica difícil, pois terei que tirar dinheiro do bolso para pagar um advogado. Não tenho de onde tirar esse recurso. Por conta dessa situação, na manhã de ontem (17), a professora se juntou a um grupo de usuários do Imas, na porta da entidade, para reclamar das dificuldades para conseguir atendimento satisfatório. Eles alegam que o valor do plano é descontado na folha de pagamento, mas que a assistência não é adequada. 

De acordo com uma das responsáveis por levar grupos de servidores para o ato, a professora Sônia Fleury, representantes foram recebidos pelo presidente do Imas, Jefferson Leite da Silva. “O presidente nos recebeu e informou como está a situação do Imas, mostrou os erros de gestão e informou que somente agora conseguiram pagar os procedimentos de agosto de 2021”, informa. 

O professor Sebastião Ferreira, 56 anos, está entre os servidores que participaram da manifestação. Ele denuncia que mesmo buscando assistência por meio do plano,  existem prestadores de serviço que cobram do paciente. “Existem profissionais que atendem pelo Imas e cobram por fora, o que eles chamam de complementação de consulta”, reclama. A professora Angélica Oliveira enfrentou situação semelhante. 

Mobilização

No último dia 8 de março, foi anunciada pela Associação de Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg), a suspensão dos atendimentos por parte dos prestadores de serviços ao Imas, como hospitais, clínicas e banco de sangue.

A presidente da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de Goiás (Fehosp), Christiane do Vale, explica que contratualmente o pagamento deve ser feito 90 dias após o atendimento do paciente, mas que não é isso que vem ocorrendo. 

“Em março, por exemplo, vamos receber o mês de janeiro dos outros planos. Efetivamente o Imas deveria estar quitando o mês de janeiro de 2022 agora no final de março. Muitos prestadores estão aguardando pagamentos referentes a agosto do ano passado”. A exigência dos prestadores de serviços ao Imas é que a prefeitura resolva a situação, apresente o cronograma e pague os prestadores. 

Presidente do Sindicato dos Servidores de Goiânia, Ronaldo Gonzaga explica que a situação atual do Imas está um caos. “Enquanto presidente do Sindicato, já protocolei uma ação pública contra o presidente do Imas e já informei ao mesmo que todo aquele que servidor que for filiado ao Sindi Goiânia procurar qualquer tipo de atendimento eu vou estar movendo uma ação contra ele”, declara. O servidor paga e não é atendido”, declara. 

Neste cenário, as entidades que representam os prestadores de serviço se reuniram com o presidente da Comissão de Saúde na Câmara Municipal, vereador Mauro Rubem, na tarde de ontem (17). Agora, o vereador solicitará uma audiência com o presidente da Câmara, o vereador Romário Policarpo, com a presença do líder do prefeito, vereador Anselmo Pereira, para tratativas em relação a cronograma, quitação e outros assuntos relacionados. Segundo informaram os prestadores de serviço, enquanto isso, a paralisação continua. 

À reportagem, o vereador Mauro Rubem destacou que os prestadores de serviço têm mais de 50 milhões em dívidas para receber, com os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro já vencidos, uma vez que há 90 dias para receber após o serviço. “A situação é preocupante porque eles não têm condição de voltar a trabalhar se não houver o pagamento de parte da dívida e um planejamento, um cronograma de pagamento das parcelas atrasadas”, afirmou. 

Também ontem (17), o vereador Ronilson Reis apresentou requerimento para a instauração da Comissão Especial de Inquérito (CEI), com objetivo de investigar os prestadores de serviços e contratos do Imas. O documento para abertura da investigação já conta com 13 assinaturas, sendo necessárias apenas 12 para ser acatada pelo plenário. Ronilson Reis pretende chegar a 20 assinaturas. O requerimento será protocolado na próxima terça-feira.

Suspensão de atendimentos ocorre desde 2021 

Essa não é a primeira vez que a Ahpaceg anuncia a suspensão dos atendimentos aos usuários do Imas. Em fevereiro de 2021, hospitais e demais instituições de saúde associados também suspenderam gradualmente os respectivos atendimentos.  À época, a Ahpaceg afirmou que as instituições estavam sendo obrigadas a realizar cortes no atendimento devido à decisões do órgão, como a definição unilateral e sem comunicado prévio de cotas de pacientes, o que caracteriza, segundo a Associação, uma clara violação do contrato firmado com os prestadores de serviços de saúde. 

No início deste mês, hospitais, clínicas e bancos de sangue suspenderam o atendimento aos usuários do Instituto de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (Imas) por falta de pagamento. Segundo as instituições credenciadas, há constante atraso nos pagamentos que deveriam ser feitos pela administração municipal. Enquanto isso, apenas  casos de urgência e emergência seguem em atendimento. 

A suspensão dos atendimentos pelos prestadores de serviço ocorreu menos de um mês após rumores de privatização do Imas terem vindo à público. No último dia 16 de fevereiro, o secretário municipal de Governo, Arthur Bernardes, descartou a privatização durante entrevista coletiva. 

O secretário municipal falou com a imprensa logo após reunião no Ministério Público de Goiás (MPGO), onde levou pedido da Prefeitura de Goiânia para que o órgão investigue a dívida da autarquia ao longo dos anos. À ocasião, o secretário afirmou que não haveria suspensão no atendimento aos usuários do Imas, e destacou que a meta é garantir a autossutentabilidade do órgão.

Resposta

Sobre a reunião realizada ontem, o Imas informou que o presidente do Imas, Jeferson Leite da Silva, se reuniu, nesta quinta-feira (17), na sede do instituto, com representantes de sindicatos dos servidores municipais de Goiânia, para ouvir reivindicações em relação ao atendimento de usuários do Imas. Segundo ele, todos os prestadores estão sendo pagos, de acordo com instrução normativa do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). 

O presidente do instituto ressaltou que a Prefeitura de Goiânia tem feito o repasse ao Imas, mensalmente, para custeio de despesas com pessoal, prestadores de serviço e despesas do instituto, conforme acordado com o TCM. “Conforme determinação do prefeito Rogério Cruz, seguindo as instruções normativas do TCM, os repasses devem ser em ordem cronológica”, informa. “Não dá para privilegiar A ou B com uma quantia maior, o que foi acordado com o TCM é o repasse igualitário, em relação aos meses em atraso. Agosto está pago, setembro inicia na próxima semana e assim por diante, até que todos os pagamentos estejam em dia”, detalha Jeferson.

Em resposta a questionamento de representantes dos servidores no encontro, Jeferson Leite reafirmou que não existe intenção, por parte da Prefeitura de Goiânia, de privatizar o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores. “Essa discussão não partiu do município, e não está em pauta”, enfatiza.

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