Mais de 14 mil goianas colocaram o DIU gratuitamente pelo SUS

Só em 2022, foram inseridos um total de 1.218 dispositivos intrauterinos em pacientes de Goiânia, segundo levantamento dado pela SMS

Postado em: 01-06-2023 às 08h06
Por: Alexandre Paes
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O SUS oferece a todos os estados e municípios brasileiros cerca de seis métodos contraceptivos gratuitamente | Foto: Banco de imagens

Pouca gente sabe, mas o Sistema único de Saúde (SUS) oferece a todos os estados e municípios brasileiros cerca de seis métodos contraceptivos gratuitamente. O mais comum é a distribuição de preservativos masculinos e femininos, e seguidos deles as mulheres podem buscar comprimidos anticoncepcionais de uso oral ou injetável, além de optar pelo inserção do DIU (Dispositivo Intrauterino) e até cirurgias de esterilização como a vasectomia (para homens) e laqueadura (para mulheres). 

Atualmente existem quatro tipos de DIU: prata, cobre, Mirena ou Kyleena . O disponível no SUS é o de cobre, que é livre de influência hormonal. Ele é feito de um fio de prata revestido de cobre em formato de “T” ou “Y”, e não apresenta material tóxico ou alérgico, a função dele é inflamar o tecido que reveste o órgão, e as alterações bioquímicas causadas pelo material impedem que os espermatozóides fecundem os óvulos.

De acordo com um estudo da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, o DIU apresenta índice de 0,2% a 0,8% de chance de falha, uma porcentagem muito baixa perto de outros métodos contraceptivos, como a pílula, que depende da usuária para ser ingerida por via oral. “Dentre as mulheres que utilizam o DIU como anticoncepcional, as taxas de gravidez são de quatro mulheres a cada mil no primeiro ano de uso e nos anos seguintes, a taxa anual de gravidez é ainda menor”, explica a coordenadora Geral de Ciclos de Vida da SES-GO, Amanda Faria.

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Pensando no planejamento familiar, a autônoma, Lays Lopes Souza Leite, de 27 anos, colocou o DIU pelo SUS em novembro de 2022. A autônoma tem duas filhas e usava comprimido contraceptivo, comumente chamado de anticoncepcional. Mesmo assim engravidou novamente. Dois meses após o nascimento de um menino, optou pelo procedimento, que foi feito na Maternidade Dona Iris, em Goiânia.

“Decidi que não queria correr o risco de engravidar novamente. No fim analisei e perguntei à médica da Unidade Básica de Saúde (UBS) o que seria mais viável, e chegamos à conclusão que o DIU foi o único método que meu organismo se adaptou. Até porque não tive experiências boas com os anticoncepcionais e injeções”, afirma. Lays lembra que não teve problemas com o dispositivo após o procedimento, e utilizou o SUS por ser de direito dela como cidadã.

O ginecologista e obstetra, diretor-técnico do Hospital e Maternidade Dona Íris, Eduardo Pontes, destacou as vantagens que as gestantes têm de inserir o DIU no pós parto. “Atualmente, esse método é usado por apenas 1,5% das mulheres brasileiras. Colocar o DIU no pós-parto, nas primeiras 48 horas, é vantajoso porque ela já está dentro do hospital, causa poucos efeitos colaterais e, com isso, evita uma nova gravidez nos meses seguintes”, explica.

Pontes associa a baixa popularidade do DIU de cobre a uma série de crenças falsas e preconceitos existentes, como se fosse o dispositivo fosse causa de abortos, pudesse levar à infertilidade e causar desconforto ao homem durante o sexo. “Esse método é seguro, de longa duração, com uma taxa de falha de 0,5% a 0,8%. Ele impede que o espermatozóide encontre o óvulo, não havendo fecundação, ou seja, impossibilitando a gestação”, disse.

O especialista conta que se surpreendeu com o aumento da procura pelo dispositivo nos últimos anos. “Fizemos um treinamento da nossa equipe no início deste mês. Desde então, houve um crescimento de 10% no número de atendimentos feitos”, aponta. Como é livre de hormônio, o DIU de cobre não oferece restrições para mulheres com câncer de mama, por exemplo, e possui validade média de dez anos.

Assim como a maioria dos métodos, o DIU também possui efeito colateral conforme salienta Pontes. “O DIU pode acarretar no aumento da duração e da quantidade de sangramento menstrual, principalmente no primeiro ano de uso do dispositivo. As cólicas também podem se tornar mais intensas, especialmente durante o processo de inserção e no mês seguinte”.

Como colocar o DIU?

Só em 2022, foram inseridos um total de 1.218 dispositivos intrauterinos em pacientes de Goiânia, isso segundo levantamento dado pela Secretária Municipal de Saúde (SMS). Em todo o estado, a coordenadora dos ciclos de vida da SES destaca que os 246 municípios goianos ultrapassaram os 14.700 DIUs inseridos. Para buscar o procedimento a paciente faz a primeira consulta e realiza os primeiros exames solicitados pelo médico, e depois deve seguir as orientações. 

“O DIU, assim como qualquer método contraceptivo, é opção da mulher. Esse dispositivo representa apenas um dos métodos contraceptivos disponíveis no SUS. A mulher consulta na APS [atenção primária à saúde], demonstra interesse na inserção e é avaliada pelo profissional. Se não houver contraindicação o DIU é inserido. Fora do contexto da APS a mulher pode inserir o DIU em consulta com ginecologistas na rede de atenção à saúde municipal, ou nas maternidades, após abortamentos ou parto”, orienta a SMS da capital.

De maneira geral, depois de 30 dias, a mulher precisa retornar para ver se o organismo se adaptou corretamente ao DIU. O retorno é importante para verificar se o dispositivo se movimentou dentro do útero. Retornos também são feitos após três e seis meses. Conforme orientado pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), em todas as UBS do estado, a paciente recebe as instruções após o procedimento e é acompanhada pela unidade mais próxima de sua residência.

Laqueadura e Vasectomia 

O SUS oferece cirurgia de vasectomia e todos os estados brasileiros possuem estabelecimentos para a realização. O serviço não oferece a cirurgia de reversão, e esse procedimento leva de 15 a 20 minutos e não há necessidade de internação. Após a cirurgia, é necessário utilizar outro método contraceptivo durante, pelo menos, 90 dias.

A laqueadura, por sua vez, é um procedimento cirúrgico que dura entre 40 minutos e uma hora. O procedimento evita o contato do espermatozóide com o óvulo, que acontece nas trompas, para impedir a fecundação e, consequentemente, a gestação. Também pode ser recomendada nos casos em que uma gravidez coloca a pessoa em risco. “Há possibilidade de realizar reversão da laqueadura com técnicas de reprodução assistida, no entanto, o sucesso do procedimento depende de fatores como a preservação das tubas e a condição de saúde das trompas”, comenta o ginecologista Nicolas Caíres.

Para buscar a laqueadura ou vasectomia pelo SUS , a saúde do estado explica que o paciente deve procurar a UBS  mais próxima de sua residência e expressar a vontade de utilizar o método. Como pré-requisitos, a pessoa deve ter, no mínimo, dois filhos vivos ou 21 anos. Para as situações em que a laqueadura pode ser feita no momento da cesariana, a lei estabelece o prazo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o parto.

Documentação necessária para solicitar método contraceptivo pelo SUS

É obrigatória a apresentação dos seguintes documentos:

  • RG
  • CPF
  • cartão SUS
  • comprovante de residência de Ananindeua no nome da paciente ou dos pais (caso resida de aluguel, deve levar a declaração de residência)
  • A idade mínima é de 16 anos, e para menores de 18 anos é preciso estar acompanhada dos pais ou responsável.

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