Mato e entulho para todo lado nos bairros da Capital

Bairros de Aparecida de Goiânia estão repletos de matagal, lixo e entulho

Postado em: 14-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Mato e entulho para todo lado nos bairros da Capital
Bairros de Aparecida de Goiânia estão repletos de matagal, lixo e entulho

Gabriel Araújo*

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A cidade de Aparecida de Goiânia, no entorno da Capital, enfrenta problemas com o descarte indevido de lixo e entulho, além do descaso na limpeza de lotes nos bairros Morada dos Pássaros e Itapuã. A reportagem do jornal O Hoje visitou alguns locais de Aparecida e constatou a falta de manutenção e coleta de entulho em lotes baldios.

De acordo com a legislação atual, a responsabilidade de limpeza de lotes baldios é de dos proprietários, ficando para o órgão municipal a fiscalização e notificação dos donos. A Lei 792 de 1988, afirma que “compete á Prefeitura zelar pela higiene pública, visando melhoria do ambiente, a saúde e o bem estar da população, favoráveis ao seu desenvolvimento social e ao aumento da expectativa de vida”, afirma o código de posturas do município.

A aposentada Josemira Alves de Souza, de 72 anos, afirmou que o mato alto que cerca as ruas da cidade tornam a região mais perigosa. “Depois das 18h eu nem saio de casa mais, a gente fica com medo já que o mato cobre tudo. Ainda tem o lixo que o pessoal joga tudo aqui e a prefeitura não vem buscar”, contou.

Questionada, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano informou, por meio de nota ao jornal O Hoje, que está trabalhando dentro da capacidade para atender a demanda de coleta de entulhos dispensados de forma irregular nos lotes baldios e ruas da cidade. “A secretaria esclarece que a obrigação de dar uma destinação correta aos resíduos é do gerador, mas que realiza o serviço para minimizar os problemas para os demais moradores. Por isso, pede maior consciência da população quanto ao descarte e caso flagrem alguém jogando lixo e entulho em local incorreto, pode entrar em contato com a prefeitura”, completou o documento.

No último mês de janeiro, a Prefeitura de Aparecida iniciou o serviço de roçagem, limpeza e coleta de entulho nos lotes não edificados na cidade. A ação buscou percorrer todos os 249 bairros da cidade durante o primeiro trimestre, começando pelas regiões dos setores Cidade Vera Cruz e Santa Luzia.

De acordo com o órgão, a equipe de roçagem conta com 50 profissionais e 20 tratores que serão divididos em dois grupos que trabalham simultaneamente. Além disso, conforme informado, foi realizado a limpezas de canteiros centrais de avenidas, praças e áreas públicas pela equipe de Parques e Jardins, que conta com 110 servidores.

Lixo em escola

No Setor Cidade Satélite São Luiz, em Aparecida de Goiânia, o entulho se acumula em frente a uma escola da região, localizada na Rua Americano no Brasil. A população afirmou que o entulho se encontra na calçada da escola há mais de um mês e, por isso, as crianças precisam utilizar a rua para chegar à escola. Em resposta, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano da cidade informou que a retirada do lixo ocorrerá na próxima segunda-feira (18). 

Problemas sociais são principal desafio de Aparecida de Goiânia 

Aparecida de Goiânia é a principal cidade do entorno da Capital, possui mais de 500 mil habitantes e o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, atrás apenas de Goiânia e Anápolis. Apesar da força econômica, Aparecida possui apenas o sexagésimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Goiás e enfrenta diversos problemas estruturais, sociais e ambientais.

Há cerca de dois anos, o pesquisador Wesley da Silva Belizário, da Universidade Federal de Goiás (UFG), realizou um estudo que constatou a qualidade e a quantidade de água que flui em uma grande quantidade de nascentes em Aparecida está com problemas. 

O pesquisador analisou a qualidade e quantidade de água que estava fluindo nas nascentes e, segundo ele, foi preciso observar lixo, odor e a cor da água para entender o que estava ocorrendo nos olhos d’água. “São áreas próximas à ruas e avenidas de circulação e sem proteção. Algumas delas tem em suas proximidades áreas de depósito de entulho, lixo domiciliar e lançamento de esgoto e efluentes industriais”, afirmou o pesquisador.

Em reportagem publicada no último mês de abril, O Hoje visitou uma das nascentes retratadas no estudo, localizada no Jardim Imperial, em Aparecida de Goiânia, e constatou o aterramento do local. De acordo com um morador da região que preferiu não se identificar, há cerca de três anos algumas casas foram construídas no local da antiga nascente, que agora apareceu em outro local. “O pessoal começou a chegar e aterrar onde era a nascente e agora ela tá aqui embaixo. Dá para ver que o asfalto vive quebrando por causa de infiltrações e toda vez que chove isso vira um rio”, relatou.

A nascente visitada, que deságua no córrego Santa Rita, é apenas uma das que estão morrendo e que precisam de um trabalho de recuperação. “É preciso uma mudança urgente na forma como a população, o poder público e iniciativa privada veem a questão dos recursos hídricos e, sobretudo, a importância das nascentes”, lembrou o pesquisador.

Dentro do atendimento de saúde à população a cidade enfrenta a falta de estrutura, médicos e greves. Dados oficiais cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia mostram que o município conta com cerca de três mil profissionais de saúde, divididos entre médicos, enfermeiras e técnicos de enfermagem. São 36 unidades básicas de saúde, cinco de unidades de emergência e uma maternidade geridos pelo poder público municipal. Segundo a pasta, são pouco mais de 700 médicos divididos em todas as 42 unidades de atendimento.

No último mês de maio, a equipe do jornal O Hoje visitou a Buriti Sereno, em Aparecida de Goiânia, e constatou o déficit de profissionais para o atendimento da população. No dia em questão, apenas dois profissionais estavam realizando exames físicos, enquanto o ideal, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município, é que cinco médicos estejam trabalhando por turno, sendo três clínicos gerais e dois pediatras.

Esta semana, os servidores da saúde da cidade iniciaram uma greve devido ao não cumprimento, por parte da gestão do município, de determinações legais quanto à Lei do Plano de Carreira, além de melhores condições de trabalho e a correção do valor da data-base. “Tentamos evitar que a situação em Aparecida de Goiânia culminasse em uma paralisação, mas a falta de empenho da gestão não deixou alternativas”, ressaltou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde), Flaviana Alves.

Por fim, o município continua enfrentado problemas estruturais em suas vias. A reportagem encontrou diversas crateras e erosões em diversas áreas da cidade e constatou que o solo da região favorece a formação de erosões. Em entrevista concedida ao jornal, o geólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Roberto Malheiros, contou que a formação geológica da região é uma mistura de arenoso e argiloso. “O problema da erosão começa justamente com a retirada da proteção do solo. Esse processo é visto em várias fases, e começa com uma pequena erosão até chegar ao ponto em que elas se tornam enormes”, diz o geólogo. 

Segundo ele, é preciso que a água seja usada com moderação nesses locais. “Outra forma de diminuir o processo de erosão é usar com moderação os licitadores de energia. Hoje, um dos grandes problemas não só de Aparecida, mas de outros municípios goianos, está relacionado aos mananciais”, completou. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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