Educadores são finalistas de prêmio

Prêmio nacional reconhece professores da Educação Infantil ao Ensino Médio, e tem dois finalistas goianos

Postado em: 21-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Prêmio nacional reconhece professores da Educação Infantil ao Ensino Médio, e tem dois finalistas goianos

O professor de Educação Física Leonardo Andrade concorre com um projeto sobre a problemática do racismo

Raunner Vinícius Soares*

Dois professores goianos foram reconhecidos pelos seus projetos inovadores na educação chegando à final do Prêmio Educador Nota 10. Leonardo Andrade, professor de Educação Física do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE-UFG), com o projeto ‘Jogos e Brincadeiras’, e a Maria José do Nascimento, professora ativa na Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte de Goiás na função de coordenadora pedagógica do Centro de Educação de Jovens e Adultos Arco Iris (CEJAAI), com a ‘Experiência Eu, Cidadão do Mundo’. 

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Este prêmio foi criado em 1998 e reconhece professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e, também, coordenadores pedagógicos e gestores escolares de todo o país. Milhares de educadores, de escolas públicas e privadas, inscrevem trabalhos a cada edição do Prêmio em diferentes áreas de conhecimento.

A idealização do projeto ‘Jogos e Brincadeiras’ partiu da realidade objetiva que os alunos se encontravam. O projeto é um conteúdo especifico da Educação Física, no CEPAE-UFG, e que teve como meio articulador a cultura indígena e a cultura africana, dado a realidade que os alunos do 5º ano do Leonardo Andrade que, na sua maioria, é composta por descendentes de indígenas, ou da própria negritude, ou seja, tem raízes afrodescendentes. Então, neste sentido o projeto verticaliza uma visão crítica sobre o negro e sobre o índio na sociedade, tentando problematizar algumas situações de racismo. Trazendo a tona, a partir dos jogos e brincadeiras, como estes povos eram vistos historicamente, como eles são vistos hoje na contemporaneidade. Trazendo questionamentos, “o racismo existia no Brasil?”, “hoje ainda existe?”, “como existe?”.

Por este motivo o projeto foi concebido no sentido de tematizar o saber especifico da Educação Física, no caso, jogos e brincadeiras, e também no sentido de superar o racismo que ainda é empregado ao negro e ao índio na sociedade. Este projeto fez parte do conteúdo do 1º bimestre da disciplina do CEPAE-UFG, que é uma unidade de educação básica da Universidade Federal de Goiás, o antigo Colégio Aplicação da UFG, uma instituição pública de âmbito federal, que tem a Educação Física como área de conhecimento como disciplina que, sobre tudo, é visto como uma abordagem crítica, principalmente como influência das ciências sociais. “O que fazemos neste espaço é o que advogamos para fazer em todo o Brasil, superando a lógica esportivista e desenvolvimentista que a Educação Física já teve. Logo tentamos tratar a matéria de forma crítica e inovadora”, explica Leonardo. 

O projeto partiu do que o Leonardo já conhecia sobre os alunos, tentando englobar um ponto de vista emancipatório do ser humano. Segundo ele, nesta faixa etária e, também, pelo convívio social das crianças, surgem falas preconceituosas, racistas, e por vezes os negros, os índios, as minorias não são visto como protagonistas, apesar de serem a maioria dos alunos na escola, e no Brasil, representarem 54,9%. Portanto quando Leonardo estava fazendo um planejamento prévio, primeiramente ele pensou em caminhar no que simboliza o jogo tradicional, aqueles jogos que são passados de geração para geração, visando a manutenção da cultura. “O jogo tradicional simboliza isso, o que a avó ensinou de jogos para o filho, o que foi ensinado para o neto, e assim para a outra geração. Neste sentido voltamos lá nos nossos ancestrais chegando ao Brasil colônia, onde nossos principais descendentes eram os índios e os negros advindos da África”, afirma.

Neste sentido, os jogos tradicionais são passados de geração para geração, os nossos ancestrais índios e negros da África foram a base da edificação desses jogos, que retratam simbologias, retratam angustias, lutas historicamente estabelecidas. A partir disto, o professor começou a tematizar os jogos indígenas ampliando o repertório das crianças sobre as tradições, e problematizando o que estes jogos simbolizam. Posteriormente, os alunos passaram por jogos de matriz africana, ampliando os saberes das crianças, e também problematizado o que eles simbolizam, nas lutas dos negros, historicamente no Brasil, e na luta contra o racismo, e por fim problematizamos a imagem do índio e do negro no país e na nossa atual sociedade, porque apesar deles terem grande influência na cultura brasileira ainda são marginalizados, e sofrem preconceitos. 

“Pensei, ‘como que a gente pode fazer para superar este ideário? ’, e para mensurar o que as crianças aprenderam nós criamos um livro, coletivamente, que tinha todos estes conceitos que foram tratados durante o semestre pelos olhos do 5º ano. Partindo das crianças, fizeram numa folha em branco de papel cartão de forma dissertativa o que eles aprenderam, e também, ilustraram com desenhos. Por fim eu encadernei este livro, fiz uma capa, um sumário, paginei o livro, e este livro hoje compõem o acervo de produções do CEPAE-UFG. Está lá na biblioteca, para a posteridade, ou quem quiser ler e ter acesso aos conteúdos.”, pontua o professor.

Aulas

As aulas de Educação Física acontecem três vezes por semana no 5º ano. No CEPAE-UFG existe a turma A e a turma B, sendo três aulas na quinta-feira e três aulas na terça-feira com duração de 45 minutos cada. Leonardo desenvolve no que ele denomina como ‘práxis pedagógica’, que é a efetivação do pensamento abstrato e a elaboração da realidade concreta, uma relação que não se separa. Basicamente, segundo o professor, não se separa a teoria da prática, então existem momentos de vivência que se explora mais os movimentos dos alunos, a dinâmica, a experiência na quadra, no tatame, na sala de dança, mas também existem momentos de reflexão e discussão, debate em sala de aula, e ao contrário também, acontecem vivências nas salas e debates na quadra. 

Os conteúdos são aplicados no sentido de fazer uma ponte entre a teoria e a prática. Todos os jogos que os alunos aprendem, o professor promove uma reflexão entre os alunos.  “Exemplo disso é a brincadeira ‘Escravos de Jó’, que tem uma matriz na africanidade. No sentido que quando a gente canta ‘Escavo de Jó jogavam no caxangá’. ‘Caxangá’ é do tupi guarani, que significa mata densa, mata fechada, então os escravos que jogavam na mata fechada, ‘zig-zagueavam’ fugindo do capitão do mato. Este jogo era uma forma que os escravos ensinavam seus filhos formas de fugirem da escravidão, formas de emancipação”, explica o educador. 

Professora Maria José concorre com projeto baseado na cidadania e diversidade  

A ‘Experiência Eu, Cidadão do Mundo’ foi idealizada pela Professora Maria José a partir do desenvolvimento de uma prática pedagógica na modalidade Educação de Jovens e Adultos do Centro de Educação de Jovens e Adultos Arco Iris (CEJAAI). A partir dos debates realizados nos momentos de estudos com a equipe de professores da EJA, a coordenação pedagógica e demais gestores levantamos alguns pressupostos importantes para o estudo da modalidade. Destes, enfatizamos o acesso aos bens culturais a partir da temática ‘políticas sociais’ em favor da transformação da realidade, tendo como pauta a construção dos direitos humanos, diversidade, gênero, étnico-racial, orientação sexual, geracional entre outras, inclusão e cidadania.

Diante deste contexto e do percurso histórico do CEJAAI, desativado nos anos 80 e renascimento nos anos 1990 como um Centro que promoveria a Educação de Jovens e Adultos na região sudeste da cidade de Goiânia e Goiás, a experiência ‘Eu, Cidadão do Mundo’ tem como marca a busca de um olhar para as identidades nela existente e, a necessidade de um processo pedagógico, onde o aprender e ensinar abrace os diferentes contextos vivenciados pela sua comunidade. Esse propósito se efetiva por meio de uma prática dominada por temas emergentes que eclodem das necessidades desta comunidade escolar. Estes temas incluem o domínio dos saberes, os princípios metodológicos e as avaliações voltadas para a inclusão social, a escuta a diversidade e, também, a adequação às diferentes faixas etárias que a instituição atende.

Segundo Maria José, trazer, pois, as identidades dos atores desse processo como ‘eixo detonador’ de uma proposta firmada no resgate histórico do sujeito, na emancipação e sua possível transformação e a de seu meio aponta para a importância de uma práxis enraizada na escuta e no diálogo. Assim, as afirmativas, os silêncios ou emudecimentos dos sujeitos da EJA levaram a construção dessa experiência. Há a expectativa de que a mesma seja realizada, coletivamente, onde todos, professores e estudantes, sintam e se tornem construtores na proposta de uma sociedade mais humana e cidadã.

Objetivo

O projeto teve como objetivo estabelecer o debate e as discussões dos atores da EJA no CEJAAI , visando conhecer, respeitar e conviver com a diversidade cultural, a partir da identidade de cada sujeito da comunidade CEJAAI. 

A proposta contempla o respeito aos seus sujeitos, a conquista da autonomia e a dialogicidade. Parte do estudo da realidade, por meio de vários instrumentos: Pesquisa Diagnóstica dos Estudantes da EJA, Grupo de Estudo Semanal, Observações em sala de aula, Participação de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem e na organização dos dados resultantes da sistematização do material, contidos nas falas e nas fontes de pesquisa.

Educação

Para Maria José, é preciso pensar a educação como o lugar da experiência e do conhecimento a ser observado, encontrado e construído. A certeza de que este conhecimento não se encontra apenas nos livros, nas mídias sugeridas pelas instituições formadoras, mas também no diálogo, nas narrativas que nos levem ao autoconhecimento e a transformação do aluno, do colega de trabalho e minha, pois sou um ser em construção.

Buscar esse lugar e o compromisso com a fala e de escuta do outro, tentar romper com essa dimensão do silenciamento, enfim, permitir falar e ouvir, o querer falar e o saber ouvir. É com uma certa ousadia, ou ingenuidade que a experiência Eu, cidadão do Mundo possa dar continuidade a esta história que se apresenta inacabada. Entre silêncios, censuras e discursos, estamos sempre, construindo a (nossa) história. (Raunner Vinícius Soares é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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