Carta de mulher revela horror que vivia com o pai de seus quatro filhos

Vítima de violência doméstica conta em carta entregue a assistente social que homem transformou a vida dele em um inferno

Postado em: 21-10-2023 às 12h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Carta de mulher revela horror que vivia com o pai de seus quatro filhos
Na carta, a qual a reportagem do jornal O Hoje teve acesso, a mulher define o marido como sendo “desequilibrado e problemático” | Foto: Reprodução

Não tem muitas décadas que cartas eram sinônimo de troca de afeto: saudade, amor, raiva e outros sentimentos que prevalecem nas relações humanas. Folhas em branco eram preenchidas com caneta – ou com penas e tinteiros, há séculos – para ditar trivialidades, segredos ou notícias do cotidiano de alguém que está longe. 

Sem um telefone celular, mas com uma carta em um lugar onde apenas ela sabia, na manhã de quarta-feira (18) aproximadamente às 10h30, uma mulher, acompanhada do marido e de seus quatro filhos, chegou na Secretaria de Assistência Social de Valparaíso para solicitar uma cesta básica. No entanto, bastou alguns metros de distância do companheiro, para que a mulher tirasse a carta dobrada. O texto era escrito à mão, com letras tremidas, num azul-esperança de canetas do tipo BIC. 

Durante o atendimento individual, a mulher de 30 anos, entregou o papel à assistente social, onde descrevia a rotina do abuso e a violência que sofria no relacionamento que mantinha com o homem de 64 anos. Ela passou por violência na noite anterior.

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Na carta, a qual a reportagem do jornal O Hoje teve acesso, a mulher define o marido como sendo um “desequilibrado e problemático”. Ela conta que, quando os parentes que moram em Luziânia vêem ele, correm e trancam a porta”.

Devido ao cenário de violência dentro de casa, os filhos com idades entre 6 e 10 anos, pedem para que a mãe separe do homem e dizem não aguentar mais a situação, é o que afirma um trecho da carta. “Ele me vê como propriedade dele, meus filhos se sentem ameaçados por ele psicologicamente. Eles perguntam quando vamos embora, eles falam que não aguentam mais viver com ele sobre o mesmo teto”, diz a mulher no texto.

“Eu acalmo eles, digo que tudo vai dar certo. O pai chantageia falando para eles que vão morrer de fome, me humilhando na frente dos meus filhos porque eles sabem que não deixa eu trabalhar, controla tudo”, relata ela.

Ela disse ainda que a única certeza que tem, é que não abre mão dos seus filhos. “Ele usa muito meus filhos, sabe que é o meu ponto fraco, o de qualquer mãe. Fala que não vai ter separação por causa dos filhos. É complicado, gosta muito de sufocar, tirar meu sossego”.

“Não posso sair para a casa da minha família, não posso me arrumar porque estou dando liberdade, meus familiares não podem vir na minha casa, não posso sair só”, afirma. A mulher alega ainda que o companheiro é prepotente, distorce conversa e, se precisar, aumenta.

 “Eu me sinto em um beco sem saída, dentro de uma gaiola, ele é muito cruel ao ponto de acabar com sua saúde mental. Eu chego ao ponto de chorar, me trancar, não quero ver ninguém pelo meu emocional, ele deixa muito mexido”, desabafa no texto.

Atualmente a mulher que vinha sendo ameaçada e temia pela própria  vida dos filhos está morando na casa de familiares e recebe apoio da assistência social, tanto financeira quanto psicológica.

 “Ele ficava o tempo todo vigiando ela do lado de fora da sala”, diz o secretário de Assistência Social, José Antônio, conhecido como Zé, à reportagem do jornal O Hoje. 

A assistente social, de prontidão, já acionou a Polícia Civil, que efetuou a prisão em flagrante do suposto agressor. “A assistente continuou com o atendimento enquanto aguardava a viatura”, afirma o secretário. O homem alega que não cometeu os atos.

A polícia agora investiga o caso para verificar se houve mais crimes e por quanto tempo esses crimes ocorreram. De acordo com o delegado Leonilson Pereira de Sousa, na madrugada de quarta-feira, o agressor manteve sua companheira presa em casa e ameaçou os filhos. Sem ter a quem pedir socorro, a mulher decidiu escrever uma carta, relatando o sofrimento. Logo pela manhã, ela pediu que o marido a levasse até a sede da secretaria de Assistência social onde denunciou as agressões.

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