“É um sonho de infância”, diz jovem que fez o Enem 2023 para estudar Zootecnia na UFG

Ao final da tarde deste domingo (5), estudantes comentaram primeiro dia de prova do Enem 2023

Postado em: 06-11-2023 às 08h13
Por: Redação
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Ao final da tarde deste domingo (5), estudantes comentaram primeiro dia de prova do Enem 2023 | Fotos: Ronilma Pinheiro/O HOJE

Ronilma Pinheiro e Alexandre Paes

“É uma área que acompanho desde pequeno. Faz parte da tradição da minha família”, diz Adrian Luan Lemes, de 18 anos, que sonha em cursar zootecnia na Universidade Federal de Goiás (UFG) desde criança. O jovem, morador de Hidrolândia, cidade que fica a 35,9 Km de Goiânia, veio para a capital ainda no sábado, para que nada o impedisse de estar no local da prova no domingo. Ao meio-dia em ponto, lá estava Adrian na frente do portão do Campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), onde responderia 90 questões e faria uma redação.

A ansiedade fez com que Adrian acordasse cedo. Quanto mais se aproximava o horário da prova, mais tenso o jovem ficava. “ Quando deu meio-dia, fiquei meio pálido”, relembra. Ao entrar na sala de prova, o estudante pensou que não daria conta de fazer o exame. “Pensei que eu não ia dar conta, mas depois eu fui me abrindo e as questões não eram tão difíceis como eu pensava”, conta.

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O estudante do 3° ano do Ensino Médio que está hospedado na casa da tia, diz que o amor pela zootecnia surgiu a partir da sua vivência diária na Fazenda da família. “ Fui pegando gosto pelos animais, pelas aves, os bovinos, os caprinos. E então fui pegando especialidades sobre eles, e como diz: ‘Fui alongando minha cabeça em cima da zootecnia’ ”, diz Adrian ao afirmar que se saiu bem na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2023), e por isso seu sonho está próximo de se tornar realidade.

Assim como Adrian, estudantes de todo o país foram às escolas e universidades neste domingo (5) para responder as questões do Enem 2023 e fazer a redação exigida pelo primeiro dia de prova. O exame possibilita a entrada em Universidades Federais por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ou em Universidades particulares com bolsas parciais ou integrais pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni). 

O Enem transforma vidas, muda histórias e realiza sonhos. Para alguns é uma opção fazer ou não, para outros, é a única possibilidade de ingressar no ensino superior. Há aqueles que começam a fazer o exame ainda no ensino fundamental, para pegar experiência e poder chegar mais preparado quando estiver na fase final do ensino médio – quando precisam ingressar no ensino superior. É o caso da adolescente Nayara Cândida dos Santos, de 15 anos. Marilene Candida Ferreira, funcionária doméstica de 39 anos, mãe da adolescente, aguardava a filha na frente do portão desde às 12 horas, quando a levou para fazer a prova. 

A mãe que não teve oportunidades de estudar, mas com muita dificuldade concluiu o ensino médio, vê na filha a possibilidade de realizar um sonho que, para ela, ficou somente em suas memórias. “Ela quer fazer astronomia e se esse é o sonho dela, eu tô aqui pra apoiar”, diz Marilene com os olhos cheios de lágrimas, ao falar dos sonhos da filha única.

Enquanto isso, Bruna Suyane Pinheiro, de 16 anos, alega que só fez a prova por mera obrigação do pai. É  a primeira vez que a jovem que sonha em se tornar advogada, fez  a prova do Enem. Ela destaca o cansaço físico e mental como o principal inimigo de quem está fazendo o exame. “ É muita questão, é muito texto. O tema da redação eu achei até tranquilo”, afirma. No entanto, Bruna diz que o Enem não é o “bicho de 7 cabeças” que tanto lhe falavam. “Foi menos assustador do que eu pensava”.

Diferente de muitos outros jovens que sonham com o ingresso na UFG, Bruna, a irmã mais velha de três irmãos, diz que prefere estudar em uma universidade particular. A jovem que acabara de sair pelo portão, já demonstrava preocupação com a segunda fase do exame. “Semana que vem é exata. Nossa senhora tô bem assustada porque exatas não é minha área não”.

O dia da prova do Enem é um mix de emoções tanto para os ansiosos que chegam no local horas antes dos portões abrirem quanto para aqueles que chegam atrasados e precisam esperar o próximo ano para terem outra oportunidade. Esse foi o caso da enfermeira Vânia Rita Coelho, que confundiu o local de prova e havia ido para o campus errado. A mulher estava arrasada porque chegou atrasada para o exame.

“Tema da redação do Enem 2023 não é problema para alunos com bom repertório sociocultural”, diz professor

Este ano os estudantes que fizeram o Enem precisaram dissertar sobre o tema: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.  Carlos André Pereira Nunes, professor de Língua Portuguesa e de Redação, disse ao jornal O Hoje que o tema foi totalmente inesperado. “Pode ser que alguém tenha falado num curso de produção textual ou na escola, sobre mulher, sobre trabalho, mas falar sobre invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher, dificilmente isso aconteceu”, afirma.

Apesar de ser algo inesperado, o professor diz que isso não é um problema para os alunos que têm um bom preparo, uma vez que eles têm um bom repertório sócio-cultural, ou seja, eles “têm leitura suficiente para falar sobre qualquer tema”.

O professor relaciona a importância do tema à conscientização da sociedade brasileira sobre esse tipo de trabalho, que apesar de não ser considerado trabalho por muitas pessoas, é um serviço feito por mulheres. “Por exemplo, na formação, no cuidado que ela tem com a família, na formação dos filhos, na construção ali da gestão da casa. Isso não é nem um pouco remunerado”, explica.

Carlos André destaca ainda alguns aspectos importantes que o estudante precisava entender para conseguir fazer uma boa redação a partir do tema proposto. “O primeiro deles é compreender que este tema está falando, por exemplo, sobre a geração, provavelmente da idade da avó deles”. De acordo com o professor, nesse caso específico, fala-se da invisibilidade do trabalho que era feito por essas mulheres até certa geração. “Cuidar dos filhos e cuidar do marido, era um trabalho que não era trabalho, por não ser remunerado. Era um trabalho que não era visto como algo eficiente”, detalha.

Além disso, citar intelectuais importantes no cenário brasileiro, como Maria Mier e Nancy Fobe, “que falam sobre essa perspectiva da exploração econômica das mulheres no capitalismo global”,  também seria uma alternativa para enriquecer a capacidade argumentativa desse estudante, segundo Carlos.

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