‘Vovó Uber’: De caixa de supermercado a motorista de aplicativo com fama na internet

Conhecida como Vovó Uber, dona Conceição conta sua história de fama nas redes sociais após horas de trabalho no banco do carro

Postado em: 13-11-2023 às 08h30
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Conhecida como Vovó Uber, dona Conceição conta sua história de fama nas redes sociais após horas de trabalho no banco do carro | Foto: Arquivo pessoal

Já parou para pensar quantas histórias cabem em um ambiente? Em uma casa cabe um livro, ou até mesmo um filme. Mas pensou em quanto cabe em um carro? Um motorista de aplicativo pode até falar que tem um livro por trás de toda e cada viagem.

Uma destas motoristas do aplicativo Uber é a dona Conceição Castro, de 60 anos, também conhecida nas redes sociais como Vovó Uber. Sua página no Instagram é dedicada para além da sua rotina de trabalho e almeja histórias de suas idas e voltas por dentro da cidade. Também, ganhou fama por compartilhar palavras de ajuda e sabedoria. A equipe de reportagem do O Hoje entrou em contato com ela para saber mais da pessoa atrás das telas e de onde surgiu seu pseudônimo. 

Nesse processo, foi possível saber o que engloba esta pessoa. Como exemplo, Conceição é naturalizada da Bahia, mas se mudou para o estado de Goiás há mais de 30 anos e mora na região metropolitana. Por alguns desses anos trabalhou como atendente de caixa de supermercado, uma profissão que muitas pessoas não prestariam muita atenção. 

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Porém, tudo mudou há quatro anos, quando saiu de seu emprego e esperou uma vida mais tranquila em sua casa com a sua família. Acontece que, Conceição não é uma pessoa que gosta de ter uma vida muito tranquila, “não aguento [fazer nada], mesmo quando eu deixei de ser a caixa eu ia para o supermercado conversar com meus colegas, e de vez em quando dar carona para eles. Foi aí que tive a ideia do Uber com ajuda dessas pessoas”, diz Conceição com uma leve gargalhada.

A partir daí, Conceição começou a trabalhar na Uber junto com o começo da pandemia de covid-19, quando na mesma época teve que desempenhar um papel crucial como transporte para ajudar de pessoas doentes, mesmo ela sendo parte do grupo de risco. “Já virei desde enfermeira cuidando de pessoas no banco detrás a ambulância levando uma pessoa para UPA e buzinando para chegar mais rápido”. 

Outro fator que motivava ela a continuar era a proximidade com seus passageiros, “cerca de 90% das pessoas que eu levo eu conheço porque só ando em Senador Canedo, então este início foi tranquilo”. Como efeito, se iniciou ali um vínculo de amizade com certos viajantes. Durante os percursos pela cidade, ela conversava e ajudava as pessoas se tornando um ombro amigo e dando dicas de sabedoria, um papel parecido com uma avó.

Se a saída de seu trabalho anterior no supermercado foi o princípio de sua carreira de motorista de aplicativo, então o ato de conversar e ajudar os outros foi a aurora de sua visibilidade, “Eu gosto de conversar e brincar com as pessoas e por isso me chamavam de ‘Vó’. Chegou um momento em que quando eu falava com elas sempre me contaram para eu compartilhar essa ajuda com outras pessoas também”.

Hoje ela dispõe de mais de 35 mil seguidores no Instagram, e seu conteúdo segue com relatos de suas viagens, palavras de ajuda e suporte da sua rotina. Segundo ela, tenta ser o mais acessível para todo mundo entender, “[meu conteúdo] é muito orgânico, nada produzido ou editado, falo como falaria se estivesse numa corrida”. Essa acessibilidade pode ser considerada a chave para sua recém popularidade, nos comentários das redes sociais a chamam de “vovó” e agradecem pelas falas honestas. Contudo, não esperava pela explosão de seguidores que recebeu, “não esperava, muito espontâneo” , diz ela. 

E, quando para o que teria a dizer de suas palavras de “vó” para os futuros e atuais motoristas de aplicativo, disse “[tem que] ter coragem, respeito, paciência e muito cuidado e segurança porque não é sempre que sabemos quem entra no nosso carro. Tem que ter disciplina com seu trabalho também, sobretudo com a administração de dinheiro, e ser apresentável”.

Uma das chaves para a rotina de trabalho são limites razoáveis

Manter uma rotina de trabalho como motorista de Uber é algo difícil e corrido, não tanto pelo estresse físico ou corporal, mas pelo estresse mental e emocional, chamado de Estresse de Trabalho (ET). E ser motorista tempo integral por qualquer rua ou avenida denota um cuidado especial com a saúde mental. 

Os estresses quase constantes com fatores externos podem deteriorar a saúde. Especialmente em regiões bastantes urbanas, como Conceição fala pouco vai à capital, “[Goiânia] é muito estressante, o trânsito e a mobilidade são muito intensos, mas a hora do ‘rush’ aqui também não é muito diferente, tem que saber andar pela cidade para não ficar parado”.

Este percurso tem que ser alinhado com métodos para se ter uma vida mais saudável. Para isso, o O Hoje conversou com Bruno Fernandes, Psicólogo especializado em psicologia da saúde e em neuropsicologia. A equipe perguntou para ajudar quaisquer pessoas que já é motorista ou pretende ser. 

Quando questionado sobre a viabilidade deste trabalho, Bruno responde, “Nenhuma rotina exaustiva que não preze pelo bem-estar físico e mental pode ser considerada adequada, em qualquer idade que seja. Portanto, o trabalho precisa ser adequado às condições pessoais.” De acordo com ele, é necessário entender a sua própria situação pessoal de saúde para se ter um trabalho que seja saudável. 

Ou seja, uma das questões principais, seja Uber ou outra área que possa causar estresse, é “estabelecer limites razoáveis, tentar tirar pausas para uma alimentação saudável e descanso satisfatório. Tire momentos de lazer e para cuidar da saúde física realizando exercícios que compensem e minimizem os danos físicos do trabalho e sempre reavalie os motivos e satisfações que tem com a carreira atual”.

De acordo com ele, esta dica vale independentemente da idade, contanto que a pessoa tenha conhecimento próprio de suas capacidades, “o estresse mental não está relacionado só à idade da pessoa, mas também aos estressores, o tempo de exposição a eles e à maneira como cada um aprende a lidar com essas situações ao longo da vida. O quanto antes aprendermos a cuidar da nossa saúde mental, podemos desenvolver habilidades cognitivas e emocionais para definir limites saudáveis para nós e para os outros.

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