‘Travessia Kanü-Shi’, do Sonhus, chega à Capital

Resultado de trabalho de oito anos de estudo vira peça teatral, um ‘poema corporal’, apresentado no Teatro Goiânia

Postado em: 14-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Resultado de trabalho de oito anos de estudo vira peça teatral, um ‘poema corporal’, apresentado no Teatro Goiânia

De hoje (14 de junho) a quinta-feira (16), o Grupo Sonhus Teatro Ritual apresenta ao público goianiense o Travessia Kanü-Shi, um espetáculo resultado da investigação da linguagem da dança-teatro butô japonesa que durou oito anos. As três apresentações ocorrerão às 20h no Teatro Goiânia. O ingresso é um quilo de alimento não perecível. Esta é mais uma apresentação que integra o ano de celebração de 20 anos do Grupo Sonhus.

No palco, a plateia assistirá a uma peça com muito movimento e pouco texto. “É um poema corporal que exige do público empenho, atenção e sensibilidade. Convida o público a respirar em outro tempo, a desacelerar e mudar de marcha, a voltar à sopa primordial de nossa essência humana e animal, nossa condição de bicho pensante”, comenta o diretor Nando Rocha.

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Esse espetáculo, um dos mais novos do grupo (estreado em 2015), é resultado da junção e síntese de outros três espetáculos intitulados Travessia. Hoje, eles estão extintos do repertório, mas já participaram de mais de 20 festivais em todo Brasil, além de ter passado pela Alemanha, Itália e Estados Unidos. Também ganhou, por duas vezes, o Prêmio Funarte de Teatro Miriam Muniz, além de dois editais da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e um da estadual – Goyazes.

O trabalho corporal é bastante presente nas criações do grupo. “Desde o início, estudamos bastante esses movimentos artísticos modernistas, do início do século 20, especialmente o expressionismo, o minimalismo e o surrealismo, que nos fascinavam em seus conceitos e visualidades”, comenta Nando. 

Alguns anos depois, o grupo conheceu a dança-teatro butô. Esse movimento artístico do Japão se inspirou nessas mesmas linguagens modernistas da arte ocidental e as mesclou às artes tradicionais japonesas como o teatro Nô e Kabuki. De acordo com Nando, esta era uma busca por uma expressão que pudesse expor o trauma japonês pós-bombas (Hiroshima e Nagasaki). “A identificação estética foi imediata para nós. Também tínhamos a memória do acidente radioativo do Césio 137 em Goiânia. Queríamos expressar nossas memórias sobre este episódio, sem sermos óbvios, muito menos literais”, explica Nando.

Para que o espetáculo se tornasse um trabalho consolidado, o grupo contou com coreógrafos e diretores como Tadashi Endo, japonês residente na Alemanha, onde os atores do grupo estiveram em 2008; Gustavo Collini, italiano residente na Argentina, onde estiveram em 2010. Joane Lagge nos EUA, onde estiveram em 2008; Natsu Nakagima e Yoshito Ohno no Japão, onde estiveram em 2010; Norberto Presta, argentino, e Sabrine Uitz, alemã, ambos à época residentes, na Itália, onde estiveram em 2007.

Sinopse

Kanü-Shi, em japonês, quer dizer “canoa de papel”. No tempo da travessia, vê-se memória e imaginação se misturarem neste espetáculo, que brinca com o tempo natural da vida cotidiana e o recria no tempo poético da cena. Dançar, neste caso, é transgressão necessária, contrária ao tempo do viver à deriva, fora da canoa, onde tanto se quer embarcar. Dança no balanço de jangada no mar  e dos pássaros lutando para voar. Tempo de sonho, sinfonia de vento. Orientar-se é preciso.

É impreciso expressar rastros por onde se passa. Um corpo que evoca ancestralidade é preciso.  Uma canoa de papel é imprecisa, vulnerável como a vida. Completar a travessia é preciso. Infinito não é preciso. O coração não contenta: o porto, não! 

Foto: divulgação

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