Pelos versos de Camões

Cabo da Roca: o lugar que reserva muito mais que uma boa fotografia

Postado em: 01-08-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cabo da Roca: o lugar que reserva muito mais que uma boa fotografia

Rimene AmaralEspecial para O HOJE 

Há relatos de turistas que dizem que o lugar é místico. Relatos, apenas! Mas qualquer mortal que pisar os pés naquela ponta de terra vai entender o motivo dos palavrórios ditos sob fortes emoções. O Cabo da Roca é um lugar diferente. Primeiro porque é o ponto mais extremo da Europa, onde as gaivotas piam ao som abafado das ondas, quebrando nos rochedos, empurradas pelos ventos fortes que fazem a curva bem ali. É uma pontinha próximo a Sintra, alguns poucos quilômetros ao norte de Lisboa. O segundo motivo é a comida regional.

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O Cabo da Roca é muito mais que um ponto turístico citado por Luís de Camões – no Canto III de Os Lusíadas, ele escreveu: “Onde a terra se acaba e o mar começa”. Vã ilusão, até então. Mas, por lá, se comem aquelas deliciosas especiarias, servidas ali, com exclusividade, onde o vento urra com cheiro de liberdade. Um restaurante bem ao lado parece ter saído dos livros de história, lá da quinta série colegial, quando as professoras faziam questão de explicar que o Brasil só existe, como é hoje, por causa dos colonizadores portugueses – ainda não consegui entender se ela gostava ou não da ideia. Um dos pratos do tal restaurante são lulas e camarões gigantes enfiados em espetos e assados em brasa. As ‘espetadas’, como são conhecidas, são servidas da mesma forma como eram há séculos, acompanhadas de um banquete que traz um menu degustação com a marca registrada de Portugal: queijo azeitão da Serra da Estrela, sardinhas assadas, azeitonas miúdas em conserva, alheiras, antepastos de anchovas e de ervas, pães e, é claro, o famoso bacalhau do Porto. 

Por causa dessa diversidade de iguarias marinhas e da ligação que os nativos têm com elas, o Cabo da Roca também é denominado “Focinho da Roca”. E, ainda, pode ser chamado de “Promontório da Lua”. Nada mais poético! Desculpe-me  o leitor se algo não está de acordo com a geografia e a história, mas é difícil se ater a qualquer outra coisa quando se saboreia lulas e camarões gigantes, assados em brasa, tendo a imensidão do mar à frente e uma taça de vinho verde à mão. Mas pode acreditar. É isso mesmo! E nada de Fados, por incrível que pareça. De algum lugar, que não se consegue detectar, ecoa um som de Cravo que nos remete aos filmes com temática medieval. É como voltar a uma época em que não se viveu. Mas é agradável a todos os sentidos. 

A alguns passos dali, um descampado coberto de flores coloridas e de diferentes perfumes permite aguçar mais os sentidos. É possível definir cada um dos odores, de acordo com as cores. Tudo isso, como dizem os lusitanos, a rodear um imponente farol à beira do Atlântico. E a mistura do cheiro da maresia? O silêncio barulhento do vento? A batida das ondas nas rochas e o som abafado dos pássaros? Se fechar os olhos, é possível entrar numa cena de um filme, que não consegui identificar, mas parece roteiro de cinema.Encostar-se à cerca de madeira e encarar a imensidão é qualquer coisa como poder sentir a liberdade invadir a alma. O perigo é a vontade de abraçar essa sensação e achar que se pode planar como as gaivotas, sustentadas pelo ar onde o vento faz a curva. 

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