Festival Paraíso Músicas do Mundo começa hoje

Música dos mais diversos ritmos e belezas naturais são os atrativos do evento, que vai de hoje a sábado, em Alto Paraíso

Postado em: 13-10-2016 às 06h00
Por: Redação
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Música dos mais diversos ritmos e belezas naturais são os atrativos do evento, que vai de hoje a sábado, em Alto Paraíso

Júnior Bueno

O município de Alto Paraíso de Goiás situa-se na Chapada dos Veadeiros, em uma altitude de 1.300 m, a 412 km de Goiânia. Possui uma população estimada em cerca de 7.000 habitantes e parte deles é composta de egressos de outros Estados. Gente que chegou em busca de um novo estilo de vida e por lá acabou ficando.  E há também estrangeiros, residentes ou de passagem. A vegetação é a do Cerrado, que lembra muito a savana africana, mas os animais daquela banda são o lobo-guará e o tamanduá – dentre outros. E aves, muitas aves: araras em lindas revoadas, tucanos, sanhaços, etc. Além de propiciar ao visitante uma vasta oferta de passeios por trilhas ao encontro de deslumbrantes cachoeiras, Alto Paraíso é também um lugar mágico, onde há quem jure ter visto discos voadores.

Mas nesta semana, de hoje (13) a sábado (15), tamanduás, araras, trilhas, cachoeiras e OVNIs terão a companhia de outro atrativo, desta vez musical. É o festival Paraíso Músicas do Mundo, que promete reunir diversidade musical e cultural em um lugar paradisíaco. A mostra internacional de música traz atrações como Troupe Djembedon e Koria Konatê da Guiné; os rappers goianos do Faroeste, Rapadura Xique Chico, e, do Ceará, os pernambucanos do Bongar, Lara Luzuah, Pacatto Alto e Pé de Cerrado. Além disso, haverá também uma Batalha de MCs que será realizada na Praça do Bambu, ponto central da cidade, com uma premiação em dinheiro para os três primeiros colocados.

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Com o objetivo de se tornar uma vitrine para os artistas que dela participam, o festival fomentará tanto a capacitação profissional quanto o incentivo aos negócios, somados à programação musical singular, além do fomento e incentivo ao turismo cultural. O festival tem o caráter vanguardista das modernas feiras de música e pretende figurar no cenário das importantes convenções nacionais e internacionais sobre música.

Uma das atrações mais aguardadas do festival é o Bongar, que tem um trabalho voltado para a preservação e divulgação da cultura pernambucana. A forte musicalidade, advinda de diversas influências musicais vivenciadas nos cultos afro-brasileiros, principalmente da linhagem Xambá, é herança deixada desde a infância aos integrantes do Bongar. Os mais velhos ensinaram os toques, as loas e as danças durante as festas da Casa Xambá. Composto por seis jovens integrantes do terreiro Xambá, do Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda, o Bongar leva aos palcos a tradicional Festa do Coco da Xambá, que é realizada na comunidade há mais de 40 anos. Guitinho da Xambá, vocalista do Bongar do grupo falou ao Essência sobre as raízes do grupo.

Entrevista: GUITINHO DA XAMBÁ

Qual é a relação do Bongar com a tradição religiosa Xambá? 

Todos os integrantes do grupo são nascidos e crescidos na comunidade Xambá, bisnetos da fundadora do terreiro, Maria Oyá, e sobrinhos-netos de Mãe Biu, a principal líder religiosa da comunidade. Todos, desde a infância, aprenderam os cantos e toques dos orixás, durante as cerimônias religiosas da casa. E também o toque do Coco da Xambá, na tradicional Festa do Coco de Mãe Biu, que ocorre na comunidade há 52 anos.

Como vocês acham que a música pode ser um instrumento de mudança social?

Talvez o nosso trabalho, com o Bongar, seja uma das maiores referências no País com relação à música tradicional como um instrumento de afirmação política. Foi a partir da brincadeira dos nossos avós, o Coco de Roda, que conseguimos transformar nossa comunidade nas questões urbanísticas, na auto-estima das crianças e jovens negros da comunidade, na estética negra, na afirmação da religiosidade e valorização da nossa cultural como arte capaz de gerar renda.

No século 21, novos artistas têm surgido levantando a bandeira do coco, até mesmo fora do Nordeste, como os goianos do Passarinho do Cerrado. Como vocês veem essa revitalização do coco?

Para nós, é importante a expansão de todas as brincadeiras populares. No entanto, isso deve ser feito de forma responsável, valorizando as matrizes originais, dando os créditos e fazendo devidas referências. O Bongar leva o Coco da Xambá para todos os lugares do mundo, e isso é uma forma de expansão, inclusive com nossas oficinas. Mas temos o cuidado de não chegar aos outros ambientes e não fazer com que nossa tradição se sobreponha às tradições locais. É fato, hoje, que o Coco é a brincadeira popular que mais vem se revigorando, pois há um grande número de grupos nascendo, com jovens, agregando a juventude, desde espaços urbanos a espaços rurais, desde salas de grandes teatros como terreiros de chão batido. Mas, também, a gente analisa pontos preocupantes com a apropriação da juventude, implantando a dinâmica da criação de grupos; parece que vem eliminando a figura de mestres e mestras dessa tradição. O Bongar tem esse formato original, criativo, por uma consequência do destino, pois, quando criamos o grupo, em 2001, muitos mestres que frequentavam a sambada da Xambá e que eram nossas referências já haviam falecido. Por isso não tivemos a oportunidade de acompanharmos esses mestres, por isso o formato do grupo. Não estamos aqui querendo dizer que não é correto os grupos terem esse formato e terem o Bongar como referência. Mas a brincadeira popular não pode invisibilizar os mestres.

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