Um poema dramático em nova montagem teatral

Cia. de Teatro Sala 3 comemora seus 15 de existência com o novo espetáculo, ‘Yerma’, em Goiânia

Postado em: 06-07-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cia. de Teatro Sala 3 comemora seus 15 de existência com o novo espetáculo, ‘Yerma’, em Goiânia

Bruna Policena 

A Cia. de Teatro Sala 3 completa 15 anos em 2017, e, em comemoração à data, estreia o espetáculo Yerma, com novo elenco, a fim de integrar a ação de levar ao palco, neste ano, toda a trilogia rural do autor espanhol Federico Garcia Lorca, composta pelas obras: Bodas de Sangue, Yerma e A Casa de Bernarda Alba.  A premiada companhia tem direção de Altair de Sousa, e é formada por artistas profissionais da área teatral goianiense.

O poema dramático Yerma aborda a esterilidade de um casal pela perspectiva feminina. A primeira montagem da trilogia ocorreu com o elenco antigo de Yerma, em 2015, com imenso sucesso de público e crítica. Agora, o espetáculo volta com nova roupagem e com elenco novo. O projeto com a nova montagem de Yerma foi contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia e pela Lei Goyazes.

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“Filho meu, dir-te-ei que sim.

Despedaçada me dou a ti.

Sofre a cintura que te ofereço,

e que será teu primeiro berço!

Quando, meu filho, poderás vir?”

F.G. Lorca

Sinopse

Em 1934, Federico García Lorca escreveu o poema dramático Yerma. Casada, desejando um filho, Yerma trilha um caminho que a levará à tragédia. Ela é um dos grandes personagens da história do teatro moderno – talvez por se mostrar tão obstinada a cumprir um desejo não partilhado pelo companheiro. Yerma é estéril, não porque é incapaz de dar à luz, de gerar um filho em suas entranhas, mas de encontrar sua verdadeira identidade, sua verdade neste mundo dentro de condição de criatura marginalizada pela sociedade. 

O diretor goiano Altair de Sousa utiliza-se da falência dos argumentos racionais da narrativa para elaborar um espetáculo que trata de uma investigação cênica sobre a impotência em múltiplas dimensões: das regras frente à vontade; dos laços sociais frente à animalidade do corpo; das palavras e acordos que resultam em violência e rupturas; do indivíduo frente à moral. É nesse território desconhecido que se passa a peça, em que a violência surge livre e em oposição.

O poema dramático revelou a melancolia que toma o homem em período tão complexo. Era o ano de 1934, e o mundo explodia pelo medo e fracasso. Lorca sabia disso. E a história de um homem incapaz de trazer à vida um filho revelava o quanto a falência do humano atingira o ser. Esse é o aspecto fundamental do espetáculo dirigido pelo goiano Altair de Sousa: trazer à tona o quanto o indivíduo se tornou impotente em suas múltiplas dimensões.

No espetáculo, a impotência, a impossibilidade de reação é confrontada por extremos, mas subvertendo a lógica comum. A partir da narrativa, as regras são mostradas como frágeis perante a vontade; os laços sociais frente à animalidade do corpo; as palavras e os acordos que geram violência e ruptura; e o indivíduo frente à moral. Ao apresentar Yerma, a Cia. de Teatro Sala 3 novamente questiona a capacidade de o homem atual realizar seus sonhos. 

O autor

O poeta e dramaturgo nasceu em 1898, em Fuente Vaqueros, quando a Espanha tentava florescer nas letras e nas artes. Granada era sua província de sortilégios e muitos apelos telúricos: berço e túmulo. Ele aprendeu as primeiras letras com a própria mãe – professora primária –, Vicenta Lorca, casada com Federico García Rodriguez, ambos provincianos e muito ligados à terra granadina. 

Não se pode negar a García Lorca o papel de um dos mais representativos poetas e dramaturgos espanhóis das três primeiras décadas de nosso século – com expressiva repercussão até os dias atuais. Inegavelmente, foi aquele que, dentre todos os de sua geração, conseguiu alcançar os patamares da fama, despertar mais entusiasmo entre os de sua geração. 

Não importa que a crítica especializada, ao rastrear a produção inicial de García Lorca, nela tenha encontrado flagrantes influências de Juan Ramón Jiménez e algo do modernismo em sua primeira obra. Ele conseguiu superar os modelos e os inspiradores iniciais de sua carreira literária. Não se pretende, com tal afirmação, negar os vínculos que ele manteve com os diversos movimentos estéticos europeus.  

Federico García Lorca identificou-se com os mouros, judeus, negros e ciganos, alvos de perseguições ao longo da história de sua região. Ele próprio sentiu na pele a discriminação com que os espanhóis da época trataram sua homossexualidade. E, mesmo assim, jamais deixou de manifestar aversão aos fascistas e aos militares franquistas.

Escreveu poemas que só foram publicados após sua morte; criou e dirigiu a companhia teatral La Barca, que percorreu as aldeias de todo o país encenando autores famosos como Cervantes e Lope de Vega; escreveu Bodas de Sangue (1933), uma história verdadeira de ciúme e morte entre camponeses de Andaluzia, peça teatral que abriu uma nova era no teatro moderno da época; logo depois, escreveu Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1936), que ficaram conhecidas em diversos países.

Em 1934, já era o mais famoso poeta e dramaturgo espanhol vivo. No dia 19 de agosto de 1936, no auge de sua produção intelectual, foi fuzilado, em Granada, por militantes franquistas no início da Guerra Civil Espanhola. Seu corpo jamais pôde ser encontrado e, provavelmente, baixou à vala comum. O terrível dia de seu fuzilamento já foi descrito por muitos escritores, repórteres e testemunhas. 

O diretor

A Cia. de Teatro Sala 3 produz um trabalho independente, valorizando as artes cênicas e incentivando a cultura. O diretor da peça, Altair de Sousa, explica que esta poesia, mesmo carregando muitos simbolismos, se aproxima ainda mais da realidade humana. “Trata-se de uma poesia que sobe ao palco para fazer-se palavra de comunicação, que informa, sensivelmente, elidindo as barreiras entre os desnivelados mundos da intelectualidade e da ignorância, do saber científico e do saber popular”. 

“O vanguardismo de García Lorca me interessou, e de certa forma o coloca em uma posição vantajosa em relação aos demais seguidores dos ‘ismos’ estético-literários pelo simples fato de ele se colocar acima das camisas-de-força dos ideários de movimentos artísticos”, finaliza Altair. 

SERVIÇO:

Espetáculo ‘Yerma’, da Cia. de Teatro Sala 3

Quando: 6 de julho (quinta-feira), às 20h, e 7 de julho (sexta) às 21h

Onde: Centro Cultural UFG (Av. Universitária, nº 1.533, Setor Leste Universitário – Goiânia) 

Ingresso: [email protected] ou na bilheteria do Centro Cultural UFG – R$ 20 (inteira)|R$ 10 (meia-entrada) 

Gênero: poema dramático

Classificação: 12 anos

Duração do espetáculo: uma hora

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