Alimentos ultraprocessados podem aumentar o risco de câncer de ovário, diz estudo

Pesquisadores do Imperial College de Londres analisaram a dieta de quase 2000 pessoas e descobriram a relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de desenvolver câncer

Postado em: 09-02-2023 às 18h22
Por: Maria Gabriela Pimenta
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Pesquisadores do Imperial College de Londres analisaram a dieta de quase 2000 pessoas e descobriram a relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de desenvolver câncer | Foto: iStock

Pesquisadores da Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres produziram a avaliação mais abrangente até hoje sobre a associação entre alimentos ultraprocessados ​​e o risco de desenvolver câncer. A pesquisa conclui que alimentos como cereais matinais, pizza congelada, refeições prontas e refrigerantes, podem aumentar o risco de desenvolver câncer, particularmente no ovário e no cérebro.

Alimentos ultraprocessados

Ao contrário dos alimentos in natura, que são os alimentos em sua forma original, derivados diretamente das plantas ou dos animais, os alimentos processados são submetidos a alguns processos que causam alterações em seus estados originais.

No caso dos alimentos ultraprocessados, a alteração no alimento original é mais severa, através da adição de diversos conservantes que aumentam o tempo de prateleira do produto, da mistura de muitos ingredientes e outras substância que são fabricadas em laboratório. É importante sempre se atentar à lista de ingredientes do produto que você deseja consumir. Os alimentos ultraprocessados contêm ingredientes que alteram a textura, sabor e cor do alimento.

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Estudos

Os pesquisadores avaliaram as dietas de quase 200 mil adultos de meia-idade por um período de dez anos no Reino Unido. A descoberta foi que “um maior consumo de alimentos ultraprocessados está associado a um maior risco de câncer geral, especificamente de ovário e de cérebro”. Eles também notaram que dietas ricas em ultraprocessados estão relacionadas ao maior risco de morte por câncer.

O estudo, publicado na eClinicalMedicine em colaboração com pesquisadores da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade NOVA de Lisboa, relatou que dos 197.426 indivíduos, 15.921 desenvolveram câncer e 4.009 mortes foram ocasionadas pela doença.

“Para cada aumento de 10% nos alimentos ultraprocessados na dieta de uma pessoa, houve um aumento de 2% na incidência de câncer em geral e um aumento de 19% no câncer de ovário especificamente”, disse o Imperial College de Londres, em comunicado.

Ainda, o comunicado revela que “para cada aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados, também foi associado um aumento geral de 6% nos casos de morte por câncer, um aumento de 16% nos casos de câncer de mama e de 30% nos casos de câncer de ovário”.

Estas relações ainda permanecem as mesmas após considerarem uma série de fatores socioeconômicos, comportamentais e dietéticos, como o tabagismo, níveis de atividade física e índice de massa corporal (IMC).

Ainda não está claro porque houve um aumento tão grande na incidência de câncer de ovário, especificamente. Outros estudos encontraram que há associação entre a doença e a acrilamida, um produto químico industrial formado durante procedimentos de cozimento em alta temperatura.

De acordo com a American Cancer Society, o câncer de ovário ocupa o quinto lugar em mortes por câncer entre as mulheres nos Estados Unidos – representando mais mortes do que qualquer outro câncer do sistema reprodutivo feminino. O câncer se desenvolve, principalmente, em mulheres mais velhas e é mais comum em mulheres brancas do que em negras.

Dra. Eszter Vamos, principal autora do estudo, diz que essa pesquisa não comprova a causa, mas evidências mostram que a redução da ingestão de alimentos ultraprocessados pode trazer importantes benefícios para a saúde. Ainda, afirma que mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas e entender quais seriam as melhores estratégias para reduzir o quantidade de ultraprocessados na dieta. “Geralmente, os países de alta renda têm os níveis mais altos de consumo, EUA e Reino Unido são os principais consumidores”, confirma Eszter.

Quase 60% das calorias ingeridas pelos adultos nos Estados Unidos são de alimentos ultraprocessados, que, muitas vezes, têm baixo valor nutricional. Eles respondem por 25% até 50% das calorias consumidas em muitos outros países também, incluindo Inglaterra, Canadá, França, Líbano e Japão.

Outros estudos mostraram uma ligação entre alimentos ultraprocessados e taxas mais altas de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2 e câncer de cólon. Um estudo recente com mais de 22 mil pessoas descobriu que aquelas que comiam muitos alimentos ultraprocessados tinham probabilidade 19% maior de morte precoce e um risco 32% maior de morrer de doença cardíaca.

Recomendações

A dra. Kiara Chang, da Escola de Saúde Pública e autora do estudo, acredita que nosso corpo não reage a alimentos ultraprocessados, repleto de aditivos, da mesma forma que reage a alimentos in natura e minimamente processados. E, além de serem encontrados em todos os lugares, existe muito marketing envolvendo os alimentos ultraprocessados. Portanto, é necessária uma reforma urgente em relação aos hábitos alimentares para proteger a população.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) já recomendam a restrição de alimentos ultraprocessados ​​como parte de uma dieta saudável e sustentável.

Existem esforços contínuos para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados ​​em todo o mundo. Países como o Brasil, França e Canadá atualizaram suas diretrizes dietéticas nacionais com recomendações para limitar esses alimentos. O Brasil também proibiu a comercialização de alimentos ultraprocessados ​​nas escolas. Atualmente, não existem medidas semelhantes para combater os alimentos ultraprocessados ​​no Reino Unido.

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