Febre Maculosa: o que é a doença que matou três pessoas em SP

Neste ano, com os casos recentes, já são cinco mortes causadas pela febre e confirmados no município

Postado em: 14-06-2023 às 15h59
Por: Cecília Epifânio
Imagem Ilustrando a Notícia: Febre Maculosa: o que é a doença que matou três pessoas em SP
Febre Maculosa: o que é a doença que matou três pessoas em SP | Foto: Prefeitura de Jundiaí

A Secretária Municipal de Saúde de Campinas (SP) confirmou na noite de terca-feira (13/6) que a morte de três pessoas por febre maculosa, uma doença infecciosa foi transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) quando infectado pelas bactérias Rickettsia rickettsii ou Rickettsia parkeri.

As vítimas são a dentista Evelyn Santos, 28 anos e um casal, formado pelo piloto Douglas Costa, 42, e a também dentista Mariana Giordano, 36, contraíram a doença na cidade de Campinas, embora não morassem lá.

Além deles, uma adolescente de 16 anos que mora no município e estava internada com suspeita da doença, morreu na noite de terça-feira. Os exames para confirmar ou descartar a doença nela estão sendo realizados pelo Instituto Adolfo Lutz na capital paulista. Os resultados serão divulgados nos próximos dias.

Continua após a publicidade

O órgão aponta que a Fazenda Santa Margarida, localizada no distrito de Joaquim Egídio (região leste da cidade), onde o evento foi realizado, provavelmente foi o lugar onde as quatro pessoas contraíram a doença. Todas as vítimas estiveram presente no local no dia 27 de maio. A prefeitura da cidade interditou preventivamente o espaço.

Campinas e a região no entorno são considerados locais endêmico para a doença.

“As condições ambientais daquela região fazem com que exista uma elevada prevalência tanto para os carrapatos quanto para a bactéria. Isso sugere que os animais silvestres de lá também devem ter a contaminação, mas não necessariamente esses animais ficam doentes”, aponta o infectologista Julio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Neste ano, com os casos recentes, já são cinco mortes causadas pela febre e confirmados no município.

Parques nas cidades de Campinas e Piracicaba, outro município onde a febre maculosa é endêmica, exitem placas advertindo os visitantes contra sentar na grama e se aproximar dos animais silvestres como capivaras por conta do risco de transmissão da doença.

De acordo com o professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e vice-presidente da Sociendade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime, nem toda picada de carrapato resulta no contágio pela febre maculosa.

“Mas é importante evitar o contato e ficar atento a eventuais sintomas caso haja a picada”, completa.

Uma forma de se proteger contra os carrapatos é utilizar repelentes com o composto químico DEET, especialmente em áreas da pele desprotegidas pelas roupas.

Em um levantamento recente do Ministério da Saúde mostra que, de 2007 a 2021, 36.497 casos de febre maculosa foram notificados no Brasil, sendo confirmado 7% deles, em uma média de 170 por ano nesse período.

Dos 2.545 casos confirmados, 2.538 relataram situações referentes à exposição de risco e, destes, 68,5% frequentaram ambientes de mata.

As secretarias de Saúde de cada Estado são responsáveis por informar as áreas endêmicas da doença.

Foto: Flcikr/ João P.Burini

A transmissão da febre maculosa

A febre maculosa não pode ser transmitida de uma pessoa para outra. Ela é transmitida através da picada de um carrapato infectado pelas bactériad do gênero Rickettsia.

Quando um carrapato infectado pica uma pessoa, as bactérias entram na pele, se multiplicam nas células e entram na corrente sanguínea, causando danos nas células renais, pulmonares e neurológicas.

Os sintomas mais comuns são febre, dores no corpo, vômitos e manchas na pele.

“Para um diagnóstico precoce e, consequentemente, um tratamento efetivo, é essencial que a pessoa que tenha febre após a picada de um carrapato ou frequentar locais onde há carrapatos, relate seu histórico ao médico — isso ajuda a levantar a suspeita da febre maculosa”, explica Julio Croda.

A infecção também pode levar à uma diminuicão da produção de urina, anemia, pressão alta, acúmulo de substâncias pejudiciais no sangue, baixos níveis de sódio e cloro e baixo volume de sangue circulante.

“A infecção é sistêmica e afeta múltiplos órgãos em uma velocidade rápida. Se não for tratada precocemente, é fatal”, indica Alexandre Naime.

O período de incubação da doença varia de 2 a 14 dias – sendo em média 7 dias o tempo entre a picada do carrapato e as manifestações dos primeiros sintomas.

Após aparição dos sinais, Naime aponta que, o quadro pode evoluir para algo mais grave em questões de dias.

“Não tem sintomas muito específicos, clinicamente os sinais são idênticos ao da dengue e leptospirose. Então, se a pessoa não se lembra se foi picada ou não viu o carrapato, isso pode passar despercebido”, diz Naime.

Croda ainda acrescenta que a maioria dos pacientes procuram o sistema de saúde quando o quadro já está mais grave. “Isso limita as chances de cura”, afirma o infectologista.

Para ter o diagnóstico confirmado, são indicados testes laboratorias, como sorologia, que analisa o sangue do paciente em busca de anticorpos específicos para a batéria causadora da doença e o PCR (o mesmo exame utilizado para detectar covid-19), utilizado para detectar o material genético da Rickettsia no sangue.

O tratamento contra a febre maculosa é realizado com antibióticos, como doxiciclina, que age combatento as bactérias no organismo. Quanto mais cedo iniciado o tratamento, maiores são as chances de previnir complicações.

Veja Também