Segunda-feira, 08 de julho de 2024

“Perspectivas desanimadoras” para a economia e a tragédia brasileira

Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quarta-feira (14/4) | Foto: Reprodução

Postado em: 14-04-2021 às 07h50
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: “Perspectivas desanimadoras” para a economia e a tragédia brasileira
Confira a coluna Econômica, por Lauro Veiga, desta Quarta-feira (14/4) | Foto: Reprodução

Lauro Veiga

A
extensão das perdas de renda sofridas pelas famílias ao longo dos meses mais
duros da pandemia ainda não foram recuperadas, conforme indicam as séries
estatísticas do Banco Central (BC) e da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O auxílio emergencial, numa média de R$ 600 pagos entre abril e
setembro do ano passado, reduzido nos três meses seguintes à sua metade e
extinto em dezembro, havia compensado e, em alguns casos, mesmo anulado as
perdas.

Continua após a publicidade

A
demora em reeditar o auxílio neste ano e a versão bastante mitigada aprovada
pelo Congresso, reduzindo os valores médios por família para algo em torno de
R$ 250 mensais (com recebimento limitado a quatro meses), não deverão ajudar a
recompor o achatamento da renda já infligido às famílias mais vulneráveis neste
ano. O mais grave é que esse achatamento tende a se agravar daqui em diante e
os números trazidos ontem pela pesquisa mensal de vendas do varejo, divulgada
pelo IBGE, ajudam muito pouco num quadro de agravamento descontrolado da
pandemia.

“As
perspectivas são bastante desanimadoras. O mês de março marcou o retorno de
elevados níveis de distanciamento social sem sinais de melhora no mercado de
trabalho. Por outro lado, o atraso e a modéstia do auxílio emergencial devem
ajudar a tornar o mês, e abril, o pior momento do varejo e o sinal é de queda
da atividade ao longo do primeiro semestre, o que impede o PIB (Produto Interno
Bruto) de 2021 de recuperar o nível pré-pandemia”, sustenta o relatório de
ontem do Banco Fator. E acrescenta: “No trimestre entre dezembro e fevereiro,
as variações interanuais e trimestrais já são fortemente negativas.”

Perversidade na
crise

O
lado mais perverso da ausência total de empatia está, obviamente, no número já
insuportável de mortes, superando o número macabro de 350,0 mil. Mas ganha
visibilidade nas ruas dos grandes centros o número crescente de desvalidos
esfaimados em busca de socorro diante da inoperância assassina de um desgoverno
já igualmente insuportável. A pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação e na
situação da segurança alimentar no Brasil”, coordenada pelo do Grupo de
Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na
Bioeconomia, com sede na Universidade Livre de Berlim, mostra que, desde o
começo da pandemia, em torno de 125,6 milhões de brasileiros e brasileiras, perto
de 59,3% da população, não conseguiram alimentos em volume suficiente e em
qualidade adequada para afastar a desnutrição. Chamam isso de “insegurança
alimentar”. Trata-se de fome mesmo, mas fome prolongada,
ao ponto do desespero ainda não refletido em ações, mas revoltante se decência
e ética humanitária prevalecessem.

Balanço

Os
números frios da economia pouco refletem a realidade das ruas, esquinas e
guetos de um país largado à própria sorte por governantes covardes. Mas dizem
algo. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
os indicadores disponíveis até março indicam que a economia brasileira foi a única
entre as maiores do globo a anotar “abrandamento do crescimento”, o que parece
ser um eufemismo diante da tragédia brasileira.

Os
dados de ontem do IBGE trazem alguns números supostamente positivos para as
vendas do comércio varejista, que apresentou elevação discretíssima de 0,6%
entre janeiro e fevereiro, mas caiu 3,8% frente ao segundo mês do ano passado. No
acumulado do ano, o setor registrou seu pior bimestre desde maio/junho do ano
passado, com baixa de 2,1%.

O
varejo “ampliado”, que inclui concessionárias de veículos, motos e autopeças e
lojas de materiais de construção, cresceu 4,1% em fevereiro, na comparação com
janeiro, puxado pelo salto de 8,8% nas venda de veículos e avanço de 2,0% no
setor da construção. Apesar disso, o setor como um todo também acumulou no
bimestre o pior resultado desde o terceiro bimestre do ano passado, quando as
medidas de distanciamento social já vinham sendo afrouxadas. Naquele período,
as vendas haviam encolhido 9,3% e caíram, neste primeiro bimestre de 2021,
perto de 2,5% diante do mesmo período do ano passado.

Em
Goiás, as vendas cresceram 1,8% tanto no varejo tradicional quanto no
“ampliado”, na saída de janeiro para fevereiro. No primeiro caso, o número veio
negativo na comparação com fevereiro de 2020, numa perda de 4,4%. O comércio
“amplo” avançou 1,1%, já que o tombo de 12,2% nas vendas de hiper e
supermercados foi compensado pela alta de 7,5% e de 21,2% anotado,
respectivamente, pelos setores de veículos e motos e materiais de construção.

Mas
no acumulado do primeiro bimestre, o volume de vendido pelo varejo encolheu
3,8% quando “medido” nas lojas convencionais e baixou 1,8% depois de incluídas
as concessionárias de veículos e as lojas de materiais de construção.

Hiper
e supermercados atravessam séria crise no Estado, acumulando sete meses
consecutivos de perdas frente a igual período do ano imediatamente anterior. Em
fevereiro, as vendas caíram 12,2% diante de igual mês do ano passado. A perda
acumulada desde julho do ano passado aproxima-se de 21,1% (tomando indicadores
não ajustados por fatores sazonais, que dizer, aqueles que ocorrem em períodos
determinados do ano e podem afetar a comparação).


com o devido ajuste sazonal, o volume de vendas do varejo tradicional sequer
retomou os níveis de fevereiro do ano passado, antes da pandemia, mostrando
recuo de 0,8% (na média do País, registra-se variação modestíssima de 0,4% – o
que parece se identificar muito mais com uma estagnação).

Veja Também