Relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, revela dados alarmantes sobre discriminação no Brasil

Em parceria com CBF , o Observatório da Discriminação Racial no Futebol lança levantamento inédito sobre diversidade no futebol

Postado em: 08-09-2023 às 20h06
Por: Ildeu Iussef
Imagem Ilustrando a Notícia: Relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, revela dados alarmantes sobre discriminação no Brasil
41% das pessoas negras que atuam nos Campeonatos Brasileiros afirmam ter sofrido racismo (Foto: Raiana Britto)

Uma iniciativa inédita sobre diversidade, idealizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), traz à tona os resultados de um levantamento que contou com a participação de 508 profissionais do futebol brasileiro e abordou questões relacionadas a raça, religião, orientação sexual e origem. 

O documento, pioneiro em seu escopo, apresenta reflexões em torno de dados coletados entre julho e agosto, com atletas, comissão técnica, staff dos clubes e arbitragem – atuantes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino, além das Séries A1 e A2 do feminino na temporada 2023.

Em um país onde 56% da população é negra, chama a atenção que 41% dos profissionais do futebol pertencentes a essa raça tenham sofrido racismo ao exercerem suas atividades.

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“O levantamento em parceria com o Observatório da Discriminação Racial é um retrato, um recorte importante sobre os efeitos nocivos do racismo. E com esse diagnóstico vamos trabalhar ainda mais para banir estas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos. Não podemos tolerar o racismo, o medo e a discriminação. Que cada vitória no combate a esse, que é um mal global, possa reverberar não só na cadeia do futebol brasileiro, mas em toda a sociedade”, disse o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.

“A CBF já adotou práticas que respeitam a igualdade, inclusão e transparência em todas as ações internas e externas da entidade. Fomos pioneiros na inclusão de penas desportivas, que vão de perda de mando de campo, portões fechados até perda de pontos para o clube, para os casos de racismo. Hoje, somos referência mundial nesse tema. Cada passo deve ser trilhado rumo a novas conquistas para o fim do racismo”, completou o dirigente.

Os números de ataques oriundos de torcidas em estádios (53,9%) e redes sociais (31%) mostram que é urgente campanhas educativas e mais rigor nas punições. Ao mesmo tempo, 11,4% dos participantes afirmaram ter sofrido casos dentro de centros de treinamentos e concentrações, o que evidencia que o problema está longe de se restringir às ocasiões mostradas pelas telas que cobrem os jogos de futebol.

Homossexualidade e xenofobia

Os resultados também destacam os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+ no futebol. Apenas 1% dos homens entrevistados se declararam homossexuais ou bissexuais, contrastando fortemente com as estimativas nacionais e internacionais que sugerem uma representação de 8,5% na população brasileira. 

Esse dado revela a importância de avaliar o impacto do medo de represálias, como achincalhamento público, perda de contratos e falta de oportunidades, sobre a autenticidade das respostas. Neste sentido, o levantamento mostra que 61% dos casos de homofobia relatados são diretamente cometidos pela torcida – sendo 36% pela adversária e 25% da torcida do próprio time.

O relatório identificou que 21,06% dos participantes relataram ter sofrido xenofobia, no entanto, apenas 3% decidiram denunciar tal comportamento. Muitos dos casos não foram reportados devido à falta de compreensão de que a xenofobia é um crime, conforme estabelecido pela Lei 9.459 de 1997, que altera os artigos 1º e 20 da Lei 7.716/89, sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor.

Participação feminina

Considerando o número total de participantes, 28% são mulheres. Desse número, 57% são atletas e 35% ocupam cargos como técnicas, assistentes, dirigentes, assessoria e equipe médica, também do futebol feminino. Apenas 8% delas atuam no futebol masculino, sobretudo nas áreas de comunicação e saúde.

Em contrapartida, 18% dos homens trabalham nas divisões do Brasileirão Feminino em cargos diversos. Essa proporção deixa claro que quase metade – exatamente 45% – das pessoas que atuam nas Séries A1 e A2 do Brasileirão Feminino são homens.

Para download e análise completa dos resultados, acesse aqui.

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