Ex-advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, vira réu por injúria racial

A denúncia explica que em outubro de 2020, Wassef teria dito à uma garçonete: “Não quero ser atendido por você. Você é negra, tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido”

Postado em: 18-02-2022 às 09h42
Por: Igor Afonso
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A denúncia explica que em outubro de 2020, Wassef teria dito à uma garçonete: “Não quero ser atendido por você. Você é negra, tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido” | Foto: Divulgação

O ex-advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, virou réu e responderá pelos crimes de injúria racial, vias de fato e racismo. Em outubro de 2020, ele foi denunciado por ofender uma garçonete na pizzaria de um shopping do Lago Sul em Brasília.

Na denúncia enviada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) À Justiça e divulgada pelo Correio Braziliense, a promotora Mariana Silva Nunes, do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NDH), pede que Wassef pague R$ 20 mil em indenização à vítima para reparação de prejuízos pessoais e R$ 30 mil a título de danos morais coletivos.

Essa segunda quantia será revertida a uma instituição que atua no combate à discriminação racial indicada pelo Ministério Público. Além disso, ainda será exigido que Wassef participe do curso ‘Conscientização para Igualdade Racial’ ministrado pelo MP em parceria com a Universidade de Brasília (Unb).

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A denúncia explica que em outubro de 2020, Wassef esteve na Pizza Hut do shopping Píer 21 e teria dito à garçonete: “Não quero ser atendido por você. Você é negra, tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido”. Logo após, teria pegado a vítima pelo braço e a levado até o balcão da cozinha do estabelecimento.

A jovem, de 18 anos na época, continuou o atendimento e explicou o tamanho das pizzas, mas Wassef manteve as humilhações, jogou objetos no chão e pediu para a funcionária pegá-los. No mês seguinte, em novembro, o advogado retornou ao restaurante e novamente ofendeu uma funcionária.

Segundo a denúncia, ele disse que a pizza estava “uma merda” e perguntou se a funcionária havia comido a refeição. Após ela responder que não, o acusado teria respondido “Você é uma macaca. Você come o que te derem”. 

“O comportamento do denunciado reproduz a perversa divisão dos seres humanos em raças, superiores ou inferiores, resultante da crença de que existem raças ou tipos humanos superiores e inferiores. Nesse sentido, ele afirma não desejar ser atendido por uma pessoa negra, humilha a atendente negra e chama de ‘macaco(a)’, expressão que tem sido historicamente utilizada no Brasil como uma ofensa direcionada especificamente às pessoas negras, destinada a reforçar o estereótipo de sua subalternidade social, tratando-se, claramente, de uma ofensa à honra que faz referência à cor e raça da vítima. O denunciado afirma, ainda, que ‘serviçais’, pertencentes a uma classe inferior, não deveriam se dirigir à classe superior, a que ele julga pertencer”, argumenta a acusação.

Wassef negou as acusações e apontou que houve “fraude processual” e disse tratar-se de uma “denúncia caluniosa”. “Jamais proferi ofensa a quem quer que seja. Isso não existe. Querem que o falso depoimento seja transformado em um escândalo para me destruir. Sou vítima de denunciação caluniosa. A polícia nunca me ouviu. Ignorou três petições em que pedi para ser ouvido, para mostrar que sou vítima de crime. Em vez de oferecer denúncia, devolveram o inquérito. A polícia não fez nada e engavetou meu inquérito. Houve, ainda, troca de promotora, que ofereceu denúncia sem existir nada nos autos”, afirmou.

O réu completou: “O objetivo é fazer a denúncia para vazar para a imprensa e massacrar a imagem de Frederick Wassef. A denúncia foi oferecida ontem (quarta-feira), recebida hoje (quinta-feira) no fim da tarde. Existe ocorrência em que denuncio crime de denunciação caluniosa. A menina não é negra. A promotora Mariana (Silva Nunes) simplesmente passou por cima do próprio MP e ofereceu a denúncia”.

A denúncia foi recebida nesta quinta-feira (17/2) e a defesa de Wassef terá 10 dias para se pronunciar.

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