Mourão diz que investigar áudios sobre torturas na ditadura não vai “trazer os caras do túmulo de volta”

Vice-presidente ironiza pedido de abertura de investigação com revelação de áudios do Superior Tribunal Militar (STM) com reconhecimento de crimes praticados contra presos políticos até 1985

Postado em: 18-04-2022 às 19h49
Por: Augusto Diniz
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Vice-presidente ironiza pedido de abertura de investigação com revelação de áudios do Superior Tribunal Militar (STM) com reconhecimento de crimes praticados contra presos políticos até 1985 | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Depois da revelação de áudios das sessões do Superior Tribunal Militar (STM) em que ministro da Corte reconhecem os crimes de tortura durante a ditadura militar (1964-1985) no Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) resolveu ironizar nesta segunda-feira (18/4) os pedidos de investigação do caso. “Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, declarou aos risos Mourão enquanto chegava ao Palácio do Planalto na manhã de hoje.

O historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou parte das gravações à colunista Miriam Leitão, do jornal O Globo. Em sessões do STM, ministros militares e civis comentavam os crimes de tortura realizados pela ditadura em sessões da Corte de 1975 a 1985. Para Mourão, o assunto é coisa do “passado”.

“Isso já passou. É a mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos. É passado, faz parte da História do país.O vice-presidente já defendeu em diversas oportunidades o golpe militar de 1964 e a ditadura militar que durou os 21 anos seguintes.”

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Mourão é general da reserva do Exército, mesma força armada que perdeu na sexta-feira (15/4), aos 97 anos, o general Newton Cruz, responsável por comandar o Serviço Nacional de Informações (SNI) até 1985 e acusado de ser um dos seis responsáveis pela tentativa de atentado a bomba ao Riocentro em 1981.

“Dois lados”

De acordo com Mourão, a história “tem dois lados”. O vice-presidente alegou que o golpe militar travou uma “luta” contra “organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado”. “É lógico, você tem que conhecer a história. A história, ela sempre tem dois lados ao ser contada. Então vamos lembrar: aqui houve uma luta, dentro do País, contra o Estado brasileiro, por organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado aqui.”

Segundo a interpretação general da reserva, “era um regime que na época atraía, vamos dizer assim, uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcela aí da sociedade, mas que perderam essa luta”. “Ah, houve excessos? Houve excesso de parte a parte”, declarou Mourão.

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