Startups brasileiras passam por crise e demitem em massa

Nos últimos meses, startups brasileiras têm demitido centenas de trabalhadores, um comportamento também repetido por outros países. Em dezembro de 2021, a startup imobiliária, ‘QuintoAndar’ anunciou a nova meta da empresa, que passou de “foco no cliente” para “eficiência”.

Postado em: 26-06-2022 às 08h10
Por: Ana Bárbara Quêtto
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Vale a pena ressaltar que, maioria das empresas cresceram durante a pandemia e, consequentemente, aumentaram suas equipes. | Foto: Reprodução.

Nos últimos meses, startups brasileiras têm demitido centenas de trabalhadores, um comportamento também repetido por outros países. Em dezembro de 2021, a startup imobiliária, ‘QuintoAndar’ anunciou a nova meta da empresa, que passou de “foco no cliente” para “eficiência”.

Em 2022, a marca começou a cortar gastos. Em março deste ano, uma funcionária, que havia sido promovida em janeiro, foi chamada para uma reunião de emergência com o coordenador e lá foi informada de que seria desligada da empresa, pelos cortes em prol da “eficiência”.

O depoimento da ex-funcionária, que prefere manter o anonimato, ao InfoMoney reflete a realidade dos unicórnios brasileiros – startups que valem pelo menos 1 bilhão de dólares. Empresas tecnológicas de capital aberto, ou privado, que estão sofrendo com escassez de investidores.

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Dessa forma, a busca pela “eficiência” virou um lema. Visto que, captar empreendedores se tornou mais caro e mais difícil, os negócios nascentes estão controlando cada vez mais a queima de caixa e colocando rentabilidade como o objetivo geral. De acordo com números da QuintoAndar, a empresa demitiu cerca de 200 pessoas este ano, o que representa 4% dos funcionários.

“Para mim, foi uma forma muito cruel de demissão. Todo funcionário sabe que a qualquer momento pode ser demitido. Mas a notícia não deveria ser dada na frente de todo mundo, após dias sem informação”, afirma a funcionária ao InforMoney.

Vale a pena ressaltar que, maioria das empresas cresceram durante a pandemia e, consequentemente, aumentaram suas equipes. A folha de pagamento se tornou uma grande parte dos custos. Reduzi-la, agora, é o caminho mais fácil para melhorar as margens. Segundo a Layoffs Brasil, a Facily ocupa o cargo de maior demissão em massa entre os unicórnios brasileiros.

A corporação de compras de supermercado em grupo, alcançou uma avaliação de mercado bilionária em sua última captação, que saiu em dezembro. Além disso, ao longo dos três anos de história, a marca lucrou mais de R$ 2,59 bilhões. Ainda assim, a companhia teria demitido entre 200 e 300 pessoas em abril deste ano. Ao todo, acerca de 900 funcionários em 2022.

Os trabalhadores demitidos dizem entender o cenário macroeconômico, assim como os desafios enfrentados pelas empresas e a natureza instável de negócios novos, mas criticam a forma como as demissões foram conduzidas. Sendo a maioria delas, via videoconferências, pelo computador.

“Tinha gente que começou na segunda-feira e foi demitida na sexta. E eles estavam fazendo recrutamento ativo, trazendo pessoas de outras empresas. Eu mesma estava em uma empresa há mais de um ano e fui abordada por um recrutador da Zak [startup]. Fiquei pouco mais de 30 dias e aconteceu essa demissão em massa”, conta uma funcionária à BBC.

Juros em alta

Conforme dados da empresa em tecnologia, Crunchbase, houve 43 reportagens sobre demissões na primeira semana de maio nos Estados Unidos. Esse é o maior número desde setembro de 2020, quando a vacinação contra a Covid-19 não havia começado no país. A plataforma de streaming, Netflix, está entre as companhias que mais despediram funcionários.

A empresa anunciou cerca de 150 funcionários demitidos. Já a Meta (Facebook), anunciou um congelamento de contratações até o final do ano, devido uma “queda generalizada” na indústria, enquanto a Uber afirmou que fará contratações, mas em menores quantidades e mais seletivas, por identificar uma “mudança sísmica” no mercado.

Ainda este ano, governos de diversos países aumentaram suas taxas de juros, inclusive o Brasil. Em maio deste ano, o Banco Central elevou a taxa Selic em um ponto percentual, de 11,75% para 12,75% ao ano. O cenário dispersou capital de risco, diminuindo a chance ou o tamanho da próxima captação de todas as empresas.

“Quando os juros sobem, os investimentos de risco costumam ser penalizados. Basicamente, do ponto de vista dos investidores, vale mais a pena deixar o dinheiro em aplicações mais seguras, como títulos do tesouro e outras aplicações indexadas às taxas de juros, do que arriscar investir em uma startup ou no sistema produtivo, que são investimentos de risco muito maior”, assegura Felipe Matos, presidente da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), à BBC.

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