Se não é bom para as pessoas e para o meio ambiente, não é um bom negócio

Confira o artigo, desta quarta-feira (20/10), por Por Omar Rodrigues.

Postado em: 20-10-2021 às 10h17
Por: Redação
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Confira o artigo, desta quarta-feira (20/10), por Por Omar Rodrigues. | Foto: Jornal O Hoje

Por Omar Rodrigues (especial para O Hoje)

Que o mundo está mudando, não é novidade para ninguém. Percebemos uma geração mais consciente social e ambientalmente, disposta a provocar transformações, acelerando movimentos que antes levavam décadas para, de fato, mudar algo na prática. É uma geração que impulsiona mercados, empresas, academia, governos e organizações em um caminho sem volta.

São ícones que, corajosamente, levantam bandeiras por causas que acreditam de forma genuína, mobilizando outros atores que compartilham dos mesmos interesses coletivos. A força dessa juventude consciente que atua com desenvoltura de forma local ou global pode ser vista na ativista sueca Greta Thunberg, que aos 15 anos chamou a atenção da comunidade internacional para a necessidade de governos nacionais atuarem de forma mais incisiva para mitigar os efeitos do aquecimento global.

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Mas não precisamos procurar fora do país exemplos dessa ação renovadora em prol do bem comum. A oceanógrafa paraense Raqueline Monteiro, de 29 anos, é uma dessas mulheres da nova geração que precisam ser mais ouvidas. Nomeada Jovem Embaixadora do Oceano Atlântico no final de 2020, com a função de promover a conservação e proteção para as futuras gerações, Raqueline estuda sobre a poluição ocasionada por plásticos na Amazônia. Antes, a jovem pesquisadora, doutoranda em Ecologia Aquática e Pesca na Universidade Federal do Pará, havia pesquisado sobre a poluição por plásticos em ilhas oceânicas e no Oceano Atlântico, além de ter atuado em projetos de educação ambiental em áreas costeiras.

Outra referência é o empreendedor social Eduardo Lyra, fundador e CEO da ONG Gerando Falcões. Criado na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo, Edu é considerado um dos jovens mais influentes do Brasil, tendo recebido diversas premiações nacionais e internacionais – entre elas uma condecoração do Fórum Econômico Mundial. Utilizando métodos inovadores na gestão de programas sociais, Lyra construiu pontes com grandes empresas e conseguiu investimentos para reproduzir o modelo de sua ONG em outras comunidades, beneficiando até agora mais de 100 mil crianças e adolescentes com ações de promoção do esporte, cultura e geração de renda.

O que talvez tenha sido a grande sacada dessa evolução é a convergência entre velocidade e abrangência. Antes, saía na frente quem identificava uma oportunidade para crescer e ganhar sozinho. Hoje, essa receita não funciona. Se não há um bem comum, é muito mais difícil se sustentar no longo prazo. Já escutamos isso faz algum tempo, mas está claro que só é bom quando é bom para todo mundo. Para quem produz, para quem vende, para quem compra. Para quem ensina e para quem estuda. Para quem emprega e para quem trabalha. Para quem ajuda e para quem é ajudado.

Empresas em diferentes setores já perceberam que a geração de valor econômico deve ser capaz de gerar também um valor para a sociedade, atrelando o sucesso empresarial ao progresso de todos. Um bom exemplo dessa evolução são os negócios de impacto socioambiental positivo, que já nascem com o objetivo de contribuir para a solução de algum desafio ecológico ou social, como a conservação de áreas naturais e da biodiversidade, ao mesmo tempo que podem gerar resultado financeiro e inúmeras oportunidades para pessoas em suas comunidades.

Um verdadeiro ecossistema de negócios de impacto positivo está surgindo no Brasil, reunindo jovens bem preparados com propósitos claros e genuínos, atraindo também a atenção de investidores. O avanço da gestão que valoriza as melhores práticas ambientais, sociais e de governança, sintetizado na sigla ESG (Environmental, Social and Governance), é um dos sinais de que essa busca pelo valor compartilhado está cada vez mais forte.

Isso demonstra que os cidadãos e as instituições devem sim pensar no outro. E por este “outro” entende-se seus familiares, amigos, vizinhança e em uma instância mais ampla, seus consumidores, parceiros de negócios, sociedade. Ou seja, este outro está mais perto de nós do que pensamos.

São mudanças de mindset que projetam a inclusão de uma lente adicional, refletindo uma extensão mais ampla da percepção de mundo, de como impacta e é impactado pelas suas próprias decisões, bem como de terceiros. Essa nova sociedade vem para nos mostrar a necessidade urgente de criar um senso de coletividade nas mais diversas esferas. Há uma real motivação que deveríamos sempre tomar decisões hoje, melhor do que ontem, e assim continuamente.

Portanto, a responsabilidade maior para construir continuamente uma sociedade que está em constante transformação é qualificar a tomada de decisão em uma perspectiva menos individual e mais altruísta. Só assim haverá uma chance de equilíbrio e harmonia, duas palavras que são quase equações, se conectarem com as pessoas, o meio ambiente e a sociedade.

Omar Rodrigues é gerente sênior de Comunicação e Relações Institucionais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

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