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domingo, 17 de novembro de 2024
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Empreendedorismo

O futuro das startups com a crise de venture capital

Tendo dito tudo isso, quero deixar claro que eu concordo que nós, como founders, precisamos evoluir ainda mais e passar a jogar um jogo em maior nível

Postado em 9 de julho de 2022 por Rodrigo Melo

Fernando Senna

Nos últimos dias, o tom quando se fala em startups é pessimista. Os destaques ficam para as demissões em massa dos unicórnios e a queda das super valuations. Com isso, diversas notícias têm sido replicadas com um tom negativo e pessimista sobre esse mercado.

Entretanto, para contribuir com a discussão geral e, talvez, trazer um pouco de esperança para os futuros empreendedores, o que podemos dizer é que nos próximos anos as startups serão mais cobradas por eficiência e que as valuations serão ainda mais apertadas. Mas isso não quer dizer que a partir de agora a busca pelo crescimento acelerado será banido, pois, certamente, isso não vai deixar de acontecer.

Também entendo que essa situação é resultado do cenário macroeconômico e não está restrito às startups. Ou seja, não estamos nessa discussão porque as pessoas perceberam que os empreendedores são ruins ou descobriram scams ou bolhas, mas sim por conta de um movimento global e natural de aversão a risco.

Muitas pessoas têm falado que a visão agora é crescer de forma mais orgânica e que a era da queima de caixa acelerada acabou. Eu discordo disso.

Acredito que coisas absurdas – alô, Adam Neumann – como fechar contratos de 15 anos que nunca dariam ROI ou comprar empresas de surf realmente não vão mais rolar. Agora, uma estratégia consciente, como o famoso “mês grátis”, que é algo facilmente alterável pode continuar acontecendo.

Isso porque eu acredito que continuar investindo em growth, mesmo com a margem apertada, zero ou até negativa, contanto que com uma visão clara de virar em 12 a 18 meses, seguirá sendo o foco. Até porque startups precisam disso para sobreviver para dominar seus mercados e evitar que grandes concorrentes, com caixa e saudáveis, tomem seus lugares, em especial no early-stage, que a briga está longe de ser “justa”.

A depressão de valor que está acontecendo está conectada ao macro e não aos acontecimentos do setor. Recessão chegando (ou já até presente), juros e inflação alta, custos nas alturas. Tudo isso gera bastante aversão à risco.

Mas mesmo depois da descoberta de coisas absurdas na era “WeCrashed”, eu estou mencionando novamente porque é um case muito emblemático, continuo adorando a empresa, o status quo do mercado mudou pouco. Por exemplo: mesmo com o track record que ele tem, Neumann conseguiu captar US$ 70 milhões para sua nova startup, e isso vindo de um VC (venture capitalist) super respeitado.

Com isso, podemos notar que o mercado é cíclico. Só de pensar que há 20 anos rolou a bolha das “.com”, com toda aquela catástrofe ou sobre a crise de 2008. Estamos passando por um momento duro, e meio que de luto, então só se fala e se pensa na parte triste, mas, como outras coisas tristes que passamos na vida, depois de um tempo a gente meio que aprende a viver com aquilo, absorve o que dá e vai para cima novamente. Além disso, tem muito capital acumulado e, historicamente, muita coisa boa surgiu em crises e vai demandar esse capital para se destacar e alavancar, mesmo em um momento tenso.

E uma parte das super valuations também está ligada ao cenário geral do mundo. Hoje, com R$1 milhão captados você não faz praticamente nada. Há 6 ou 7 anos, quando eu comecei a empreender, esse valor era ouro. Tudo isso muda a dinâmica de valuations, em especial do early-mid stage, porque senão a conta não fecha para ninguém.

Tendo dito tudo isso, quero deixar claro que eu concordo que nós, como founders, precisamos evoluir ainda mais e passar a jogar um jogo em maior nível. Pensar numa visão de mais médio-longo prazo, saber lidar com a euforia, respeitar os recursos e tomar decisões mais conscientes. Além disso, podemos tirar uma série de aprendizados desse momento e a responsabilidade é nossa de olhar para isso.

Também não concordo com esse discurso pessimista que me parece algo que vem sendo repetido e repetido sem parar. Para os críticos de plantão, existe uma força de “acabar” com startups, como se fosse apenas oba oba, quando se esquece do quanto de valor as startups podem e já agregam para a sociedade. Além disso, sem o perfil corajoso de um empreendedor não vamos resolver a tonelada de problemas que existe no mundo. Precisamos de pessoas assim, que pensam fora da caixa, tomam risco e criam coisas incríveis para o mundo.

Por fim, na minha visão, tem coisas que não vão mudar tanto assim. E tenho certeza que vai continuar existindo capital para bons empreendedores que conseguem entregar margem de contribuição positiva, mesmo que por alguns momentos, de forma consciente, a decisão seja crescer rapidamente e queimar caixa. Daqui uns 5 a 10 anos a gente olha para trás e vê o que rolou.

Fernando Senna é cofundador de uma edtech de apoio a todas as etapas de uma startup

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