Emissário de Temer teria recebido R$ 1 mi da Engevix

O nome do vice-presidente foi citado em delação premiada em negociação com a força-tarefa da Lava Jato de um dos donos da Engevix, como forma de agradecimento por participar de licitação na Eletronuclear

Postado em: 25-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O nome do vice-presidente foi citado em delação premiada em negociação com a força-tarefa da Lava Jato de um dos donos da Engevix, como forma de agradecimento por participar de licitação na Eletronuclear

Cumprindo prisão domiciliar, o engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, disse em proposta de delação premiada em negociação com a força tarefa da Lava-Jato ter pago R$ 1 milhão a um emissário do vice-presidente Michel Temer, como forma de agradecimento por participar de licitação de R$ 162 milhões da Eletronuclear para operar na usina de Angra 3. Ele cita na delação o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, Edinho Silva, além da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. As informações são da revista “Época”.

A licitação da Eletronuclear foi vencida em 2012 por uma pequena empresa de arquitetura de São Paulo, a Argeplan, que se associou à Engevix para tocar a obra. Sobrinho relatou ter se encontrado duas vezes com Temer e o dono da Argeplan, João Baptista Lima, no escritório político do vice-presidente em São Paulo para tratar do contrato. Em seguida, dizendo-se emissário de Temer, Lima teria cobrado a contribuição de R$ 1 milhão, que seria aplicada na campanha pela presidência, em 2014.

Segundo o relato do dono da Engevix, obtido pela “Época”, o valor teria sido pago por meio de uma fornecedora da construtora e nunca foi declarado à Justiça Eleitoral. Depois que o presidente da Eletronuclear nos governos Lula e Dilma, o almirante Othon Pinheiro, foi preso na Lava-Jato, Lima teria procurado o dono da Engevix para tentar devolver-lhe o dinheiro, mas ele não aceitou.

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À revista, Temer admitiu o encontro com Lima e o dono da Engevix, mas negou ter tratado de contratos da Eletronuclear. Em nota divulgada nesta sexta-feira, a assessoria do vice-presidente disse “repudiar com veemência as informações publicadas” pela revista. “Ele não intermediou interesses empresariais escusos em qualquer órgão público nacional. Não cobrou ou delegou poderes a quem quer que seja para arrecadar recursos eleitorais irregulares para sua campanha à vice-presidente em 2014 ou 2010”, diz a nota. Hoje, Lima não foi localizado pelo GLOBO.

Sobrinho foi preso pela Lava-Jato em setembro passado e desde dezembro cumpre prisão domiciliar. Segundo o engenheiro, o consórcio Inframérica, do qual participa a Engevix, enfrentava problemas financeiros devido ao atraso na liberação de um empréstimo pela Caixa quando foi procurado por dois lobistas ligados a Ciro Nogueira (PP-PI) e Calheiros (PMDB-AL). Segundo a “Época”, Sobrinho pagou aos lobistas R$ 2 milhões, em parcelas de R$ 400 mil, para que o problema na Caixa fosse resolvido. À revista, Renan disse não ter praticado qualquer impropriedade.

Sobre Edinho Silva, Sobrinho disse ter sido procurado por ele, cobrando R$ 5 milhões para a campanha. Mas a empresa decidiu colaborar com apenas R$ 1 milhão. Edinho negou o tom de cobrança e disse que todas as doações foram realizadas “por livre e espontânea vontade”. Na tentativa de delação, Sobrinho afirmou, ainda, ter revertido condenação no TCU depois de pagar R$ 2 milhões à empresa de consultoria de Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil. Segundo o empresário, ela teria usado apenas sua “influência” para reverter a decisão, que previa pagamento de multa de R$ 10 milhões. A ex-ministra não quis comentar. (AG) 

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