Ministro da Transparência deixa cargo após gravação em que critica Lava Jato

A exoneração do ministro está publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (31). Afastamento foi motivado pela divulgação de gravações

Postado em: 31-05-2016 às 08h00
Por: Redação
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A exoneração do ministro está publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (31). Afastamento foi motivado pela divulgação de gravações

O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle,
Fabiano Silveira, telefonou no início da noite de ontem (30) ao presidente
interino Michel Temer e pediu demissão do cargo. A exoneração está publicada no Diário
Oficial da União desta terça-feira (31). 

O substituto de Silveira ainda
não foi divulgado.

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Gravação

A situação de Fabiano Silveira na pasta ficou fragilizada
após virem à tona conversas gravadas em que ele aparece criticando a Operação
Lava Jato e dando orientações para a defesa de investigados em esquema de
desvios de recursos na Petrobras, como o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL).

Entenda o caso

Em conversas gravadas, reveladas pelo programa Fantástico,
da TV Globo, Silveira aparece criticando a Operação Lava Jato e dando
orientações para a defesa de investigados em esquema de desvios de recursos na
Petrobras. Segundo a reportagem, as gravações foram feitas por pelo
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado no fim de fevereiro, durante um
encontro na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). 

Funcionário de carreira do Senado, Silveira participou da
reunião quando ainda era integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e
seria indicado por Calheiros para o cargo. A conversa ocorreu antes de assumir
o comando da pasta criada pelo presidente interino Michel Temer para substituir
a extinta Controladoria-Geral da União (CGU), órgão que era responsável por
investigar e combater a corrupção no governo.

Nos áudios, Machado, Renan, Silveira e Bruno Mendes,
advogado do presidente do Senado, discutem a cobertura da mídia e estratégias
de defesa envolvendo a Operação Lava Jato.

Em um dos trechos, Silveira diz que a Procuradoria-geral da
República (PGR) “está perdida nessa questão”, ao comentar as investigações
envolvendo Sérgio Machado no âmbito da Lava Jato.

Em um momento anterior da conversa, Silveira parece orientar
Renan Calheiros a não entregar à PGR uma versão de sua defesa para os fatos
investigados.

“A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando
já a sua versão pros caras da… PGR, né.  Entendeu? Presidente, porque
tem uns detalhes aqui que eles… (inaudível)  Eles não terão condição,
mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou.
(inaudível)”, diz Silveira nos áudios veiculados pela TV Globo.

Em outra passagem, Renan se demonstra preocupado com uma
denúncia de que sua campanha teria recebido R$ 800 mil em propinas ligadas à
Transpetro. “Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo… Isso me preocupa
pra c…”, afirma o presidente do Senado.

A reportagem da TV Globo disse ter apurado que Silveira
serviu como emissário de Calheiros no contato com pessoas ligadas a
investigações da Lava Jato.

Protestos

Protestos organizados pelos servidores da antiga Controladoria-Geral da União (CGU) foram feitos em Brasília nesta segunda-feira, incluindo um ato em frente ao Planalto e entrega de cargos por parte dos funcionários.

Os funcionários fizeram uma lavagem das escadas em frente à entrada do ministério. 

Nota

Por meio de nota enviada ontem (30) à Agência Brasil,
Fabiano Silveira disse ter comparecido “de passagem” à residência do presidente
do Senado, sem saber da presença de Sérgio Machado, com quem não tem nenhuma
relação pessoal ou profissional. Ele negou ter feito qualquer intervenção em
órgãos públicos a favor de terceiros. “Chega a ser um despropósito sugerir que
o Ministério Público […] possa sofrer interferências”, diz a nota.

As conversas entre Sérgio Machado e membros da cúpula do
PMDB começaram a vir à tona há uma semana, quando o jornal Folha de S.
Paulo publicou trechos de áudios em poder da Procuradoria-Geral da
República (PGR). O executivo teria gravado as conversas para negociar uma
delação premiada, pois temia ser preso na Lava Jato. (Agência Brasil)

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