Mauro Cid delata que Bolsonaro e Marinha apoiavam intervenção militar

O plano só não foi adiante porque o Exército se posicionou contra a ideia de golpe militar

Postado em: 21-09-2023 às 15h51
Por: Larissa Oliveira
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O ex-presidente Jair Bolsonaro durante formatura de oficiais da Marinha - Foto: Alan Santos/PR

O tenente-coronel Mauro Cid revelou que Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com militares com o intuito de discutir sobre uma “minuta de golpe”. Nesses encontros, a proposta detalhada foi apresentada e incluía ilegalidades como o afastamento de autoridades, convocação de novas eleições e prisão de adversários políticos. O ex-ajudante de ordens do ex-presidente deu esse relato como oferta de delação premiada.

No dia 9 de setembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, acatou o pedido. Aliás, por meio do acordo de delação premiada, Moraes concedeu liberdade provisória à Mauro Cid. Nesta semana, o tenente-coronel prestou depoimento à Polícia Federal (PF) e informou que, em 2022, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e seus ministros mais próximos.

De acordo com Mauro Cid, esta reunião ocorreu após o segundo turno das eleições do ano passado e visou discutir sobre uma proposta de intervenção militar. No encontro, os envolvidos trataram especificamente de uma minuta, ou seja, um rascunho de decreto golpista. Aliás, não é possível ter certeza se a minuta em questão era a mesma encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.

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Além disso, a reunião contou com a presença não só de militares, mas também de integrantes do chamado “gabinete do ódio”. Na ocasião, Mauro Cid revelou que o representante da Marinha recebeu a ideia de golpe militar com entusiasmo. Contudo, a aceitação da proposta não teve unanimidade. Portanto, devido à falta de adesão, o plano não foi adiante.

Apoio da Marinha

Em delação à PF, Mauro Cid citou nomes como o do almirante de esquadra da Marinha, Almir Garnier. Segundo o delator, o almirante teria afirmado ao ex-presidente que suas tropas estariam prontas para responder à convocação de Bolsonaro. Porém, o Comando do Exército se posicionou contra a ideia de golpe e, consequentemente, contra o impedimento da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Vale destacar que no dia 13 de dezembro de 2022, um dia após bolsonaristas tentarem invadir a sede da PF em Brasília, houve as comemorações do Dia do Marinheiro. “Os fuzileiros navais, com sacrifício da própria vida, lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar o interesse do nosso país”, disse Bolsonaro na data.

A celebração do Dia do Marinheiro aconteceu no Grupamento de Fuzileiros Navais, em Brasíli. No evento, Almir Garnier disse que Bolsonaro contava “com a minha, com a sua, com a nossa Marinha”. Além disso, vale ressaltar que o almirante da Marinha se recusou a comparecer na cerimônia de entrega do cargo ao comandante Marcos Sampaio Olsen, no começo deste ano.

Indícios de golpe

Conforme Mauro Cid afirmou na delação, ele participou da reunião com o ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins. Inclusive, foi ele quem repassou a suposta minuta de golpe militar ao tenente-coronel. De acordo com as investigações da PF, já havia indícios de uma coordenação para intervenção militar no país.

A PF apreendeu o aparelho de telefone de Mauro Cid durante a operação para investigar suposta inserção de dados falsos nos sistemas de vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde. No celular, a perícia identificou trocas de mensagens, áudios e documentos sobre ações de cunho golpista. Apesar da derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, as conversas visavam garantir a permanência do ex-presidente.

Na época, a cúpula da PF revelou que encontrou a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Tratava-se de uma operação militar que permite apenas ao presidente da República convocar as Forças Armadas nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança pública. Além disso, também havia, entre os conteúdos, tentativas de instituição do Estado de Defesa.

Mauro Cid e Bolsonaro

Atualmente, o tenente-coronel está vinculado a três investigações principais da Polícia Federal (PF). Primeiramente, sobre a fraude em cartão de vacina da família Bolsonaro, que levou a sua prisão preventiva em maio de 2023. Além disso, Mauro Cid pode estar envolvido com a venda e recompra de presentes oficiais valiosos. Por fim, também há a suposta articulação do ex-presidente para tentar um golpe contra o estado democrático após a derrota contra o presidente Lula nas eleições de 2022.

Nas últimas semanas, Mauro Cid prestou uma série de depoimentos à PF. Inclusive, sobre o inquérito que apura as ações do hacker Waler Delgatti Neto contra o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em uma das oitivas, a PF apurou se Cid participou ou se tem informações do encontro e das tratativas que Bolsonaro teve com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Isso porque os dois teriam discutido um plano para invadir o sistema do CNJ e também para contestar a efetividade do sistema eleitoral.

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